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Lyana Lustosa acabou de ganhar uma tevê que foi parcelada em 20 vezes | Walter Alves/ Gazeta do Povo
Lyana Lustosa acabou de ganhar uma tevê que foi parcelada em 20 vezes| Foto: Walter Alves/ Gazeta do Povo

É psicológico?

Parcela maior inibe compras

O financiamento prolongado é apontado por analistas como uma das causas de o consumo continuar aquecido mesmo com a alta dos juros e a inflação. Um estudo realizado pelo Instituto Brasileiro de Executivos do Varejo (Ibevar), ligado ao Programa de Administração de Varejo (Provar) da Fundação Instituto de Administração da USP, concluiu que o consumidor é menos sensível à alta dos juros do que à redução de prazo de financiamento.

Cálculos do Ibevar mostram que a cada ponto porcentual de aumento na taxa de juros, as vendas se retraem em 0,26 ponto porcentual. Se o mesmo aumento ocorrer, entretanto, no prazo de financiamento, as vendas crescem 0,61 ponto porcentual.

"Há um ambiente mais otimista, provocado pelo emprego e pela renda. Então o consumidor se sente à vontade para acomodar seus objetivos de consumo em parcelas mais longas para poder honrar todas as suas despesas", acrescenta Claudio Felisoni de Angelo, coordenador do Provar. De acordo com ele, no médio prazo os juros tendem a provocar o encolhimento dos prazos, já que a inadimplência tende a crescer. "Mas, como o impacto da alta da taxa de juros é lento, essa mudança vai demorar ainda para ser sentida no mercado", afirma.

  • Consumidor está esticando cada vez mais os financiamentos. Veja

O comércio e o consumidor encontraram no aumento dos prazos de financiamento a fórmula para driblar a alta dos juros e da inflação. Dados do Banco Central mostram que o período médio das operações de crédito de pessoa física cresceu 11% em março deste ano (566 dias), na comparação com o mesmo período do ano passado (509 dias). Isso significa que o cliente está financiando em mais vezes a aquisição do automóvel, a compra da geladeira ou parcelando mais aquela conta do cartão de crédito.A rede de supermercados Condor aumentou de 18 para 20 vezes o prazo máximo de parcelamento de eletroeletrônicos e eletrodomésticos no cartão próprio. O objetivo é fazer com que a parcela "caiba no bolso do consumidor", segundo Wanclei Said, diretor administrativo e financeiro da empresa. De acordo com ele, a medida, adotada há cerca de seis meses, já surtiu efeito. "A carteira de cartões aumentou em 25% e o valor financiado cresceu 32% desde então. Quem financiou uma geladeira voltou depois para comprar outro produto", afirma.

De acordo com Said, o consumidor continua a comprar mesmo com um cenário de maior inflação e alta dos juros. No primeiro trimestre, as vendas do Condor cresceram 22% em relação ao mesmo período do ano passado.

Na rede de lojas MM Merca­domóveis, com sede em Ponta Grossa, na Região dos Campos Gerais, o prazo médio de financiamento aumentou em 33% – passou de nove vezes, em maio do ano passado, para 12 vezes neste ano – de acordo com Marcio Pauliki, superintendente da rede. A cadeia de lojas oferece prazo de até 15 vezes no crediário da casa e de até 24 vezes por intermédio de financeiras. As vendas no primeiro quadrimestre aumentaram 25% na comparação com o mesmo período do ano passado.

O parcelamento em até dez vezes, tradicional no pico de vendas de material escolar no primeiro trimestre, foi esticado para o ano todo na Livrarias Curitiba. A medida visa atender principalmente às vendas de maior valor, como notebooks e computadores. "As vendas financiadas em dez vezes já respondem por 20% dos negócios", ressalta Ernani Luiz Pedri, diretor financeiro. A empresa tem previsão de crescer 15% em 2011.

Construção

As lojas de material de construção também têm aumentado as condições de financiamento. A Cassol ampliou de 10 para 12 vezes o prazo de financiamento como forma de aquecer os negócios, segundo o gerente regional, Vanderlei Folmann. A promoção vai até o dia 25 de maio. "Hoje 60% das nossas vendas são parceladas. Há seis anos vendíamos em quatro parcelas e o prazo foi aumentando aos poucos", afirma. Na loja da rede Bigolin, no bairro Vila Hauer, 40% das vendas são financiadas, de acordo com o gerente de vendas, Valdori Schafranski. Segundo ele, o aumento dos prazos de parcelamento para o consumidor vem ocorrendo gradualmente há cerca de três anos por uma exigência do próprio mercado. "Nesse período o número de parcelas foi crescendo de cinco para oito e hoje já vendemos em dez vezes. Mas ainda hoje muita gente prefere negociar um desconto para pagamento à vista".

Restrições

De maneira geral, os prazos vêm crescendo desde fevereiro do ano passado e resistindo até mesmo às medidas do governo para conter o crédito, a partir do fim de 2010. O prazo está maior inclusive na compra de automóveis, setor que foi alvo de medidas específicas, como a exigência de entrada maior nos financiamentos mais longos.

70% preferem compra a prazo

Sete em cada dez curitibanos preferem pagar de forma parcelada suas compras, segundo dados da Associação Comercial do Paraná (ACP). Segundo o vice-presidente da ACP, Camilo Turmina, o consumidor tem aumentado o comprometimento do seu orçamento com outras dívidas, está pagando juros maiores e tem visto a alta da inflação comprometer sua renda. "Tudo isso tem feito muita gente aumentar os prazos na hora da compra para continuar a consumir. Quando falta dinheiro para pagar à vista, o consumidor opta pelo prazo" afirma.

A vendedora de consórcios Cibele Bahr, 48 anos, comprou uma tevê de LED parcelada em 20 vezes para presentear a amiga Lyana Lustosa, 27 anos, que vai se casar daqui a dois meses. Cibele disse que a opção pelo parcelamento tem sido mais vantajosa também em outras compras. "As lojas dificilmente oferecem descontos para compras à vista e, quando oferecem, nem sempre vale a pena", ressalta a vendedora, que afirma preferir as compras à vista somente quando os descontos superam os 10%.

Mas os prazos mais longos, no entanto, embutem o risco de aumento da inadimplência. Turmina calcula que somente em Curitiba haja 1 milhão de CPFs com registro no Serviço Central de Proteção ao Crédito (SCPC). O número de ocorrências – já que é comum uma pessoa estar com mais de uma contra atrasada – alcança 3 milhões. (CR; colaborou Cintia Junges, especial para a Gazeta do Povo)

Colaborou Cintia Junges, especial para a Gazeta do Povo

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