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Sessão do STF por videoconferência durante a pandemia: justiça era setor mais avançado na digitalização, aponta estudo
Sessão do STF por videoconferência durante a pandemia: Justiça era setor mais avançado na digitalização, aponta estudo.| Foto: Rosinei Coutinho/SCO/STF

A pandemia forçou um processo de adaptação para que a oferta de alguns serviços e trabalhos continuasse sendo feita apesar das restrições impostas pela crise sanitária. Entre as mudanças impostas, houve um impulsionamento dos processos de digitalização no Brasil. A ação, mesmo tendo ocorrido “na marra”, tem potencial para acelerar o desenvolvimento do país e melhorar a competitividade.

Para fazer um diagnóstico mais apurado do que ocorreu no país, a Cisco e a Deloitte se debruçaram sobre quatro setores – educação, saúde, Jjustiça e governo – e analisaram o nível de resiliência em relação à pandemia, fatores que aceleraram a digitalização de cada um e também aqueles que inibiram o processo.

O resultado foi compilado no estudo “Digitalização, Resiliência e Continuidade dos Negócios: o que aprendemos com a pandemia da Covid-19”, divulgado em setembro.

Em linhas gerais, a pesquisa revelou que a pandemia acelerou o processo de digitalização nesses setores, ainda que cada um enfrente desafios específicos. “Ficou claro o papel da tecnologia e digitalização na gestão da crise para, durante a pandemia, manter os negócios”, aponta Rodrigo Uchoa, head de novos negócios e digitalização na Cisco Brasil.

“A pandemia trouxe necessidade de novos modelos de negócio e operação”, avalia Heloisa Montes, sócia-líder de consultoria em estratégia e inovação da Deloitte. Para ela, no Brasil esse processo aconteceu não apenas pelo uso da tecnologia, mas também por uma mudança no comportamento das pessoas, como consumidoras ou cidadãs.

A expectativa é de que esse caminho digitalizado seja mais explorado daqui para frente, já que se mostrou viável para a retomada de atividades mesmo com a vinda do “novo normal”.

Veja o diagnóstico sobre a digitalização para educação, saúde, Justiça e governo

Educação

Embora o ensino a distância já fosse consolidado no Brasil, especialmente no nível superior e pós-graduação, digitalizar a educação básica foi um desafio, que precisou enfrentar resistências naturais e alguns fatores inibidores.

O estudo apontou quatro fatores principais como os inibidores da digitalização no setor: falta de infraestrutura adequada para a nova demanda, necessidade de capacitação e experiência digital para o corpo docente, uso limitado das potencialidades dos recursos educacionais digitais e falta de conhecimento dos riscos e mecanismos para uso seguro da internet.

Por outro lado, a liberação compulsória e necessidade de adaptação para as aulas a distância e a adoção de boas plataformas tecnológicas educacionais durante a pandemia são fatores que devem acelerar a digitalização do setor nos próximos anos.

Rodrigo Uchoa, da Cisco Brasil, aponta que na educação básica os alunos já são nativos digitais. O grande desafio é incluir pais e professores nesse novo sistema, que representará a migração de um modelo tradicional para um modelo tecnológico de educação. “Não se pode simplesmente replicar o modelo presencial para o online e é isso que tem ser o grande aprendizado. É pensar o ensino híbrido não pelas necessidades sanitárias, mas porque o ensino híbrido, que junta escola e casa, é o grande passo que precisamos dar”, pondera.

Para isso acontecer, a Cisco e a Deloitte apresentam quatro propostas:

  • adaptar as regulações do setor para eliminar barreiras e estimular o ensino mediado por tecnologia;
  • acelerar a transformação digital do setor e adoção de metodologias inovadoras de suporte ao ensino e aprendizagem na era digital;
  • capacitar técnica e culturalmente professores, gestores, alunos e pais para o uso apropriado das novas ferramentas digitais de ensino;
  • universalizar o acesso à internet e a dispositivos digitais, por meio de programas de subvenção econômica e negociando com operadoras a liberação das plataformas de ensino público do consumo de pacotes de dados, para usar tecnologias de classe invertida, ensino colaborativo, desenvolvimento de habilidades que não eram foco anteriormente.

Saúde

A saúde foi um setor que passou por mudanças que podem não se tornar permanentes, a depender do entendimento de entidades de classe. Rodrigo Uchoa, da Cisco, lembra que a liberação das teleconsultas durante a pandemia teve um impacto muito grande. “Médicos e pacientes, por necessidade, começaram a aceitar melhor o legado da teleconsulta, temos a explosão de healthtechs. O desafio é como levar a tecnologia para fora dos muros dos hospitais”, aponta, considerando especialmente o processo de se conectar com os pacientes.

Essas razões aceleraram o processo de digitalização do setor, mas há mais inibidores ainda. Além das limitações impostas por entidade de classe, como o Conselho Federal de Medicina (CFM), para a adoção de certas tecnologias na prática médica, outras frearam o avanço. As principais dizem respeito à falta de definição de modelos de negócio e remuneração em telemedicina, a formação e capacitação digital dos profissionais, privacidade e segurança de dados na área e o acesso a dispositivos e serviços digitais de saúde.

Para avançar na digitalização do setor, a Cisco e Deloitte sugerem os seguintes processos:

  • revisar a regulação para telemedicina e criar programas de incentivo ao uso de plataformas digitais na saúde;
  • discutir e definir de modelos de remuneração de médicos e hospitais na nova realidade digital;
  • mais estímulos e incentivos à inovação no setor e aceleração das healthtechs;
  • universalizar o acesso à internet e a dispositivos digitais de saúde. Assim como a educação, apostar em programas de subvenção ou em parcerias com as operadoras para liberar o uso de pacote de dados nesses casos.

Justiça

Na visão de Rodrigo Uchoa, da Cisco, a Justiça já era um setor mais avançado no que diz respeito à digitalização, mas ainda assim a pesquisa deixou óbvia a necessidade de expandir ainda mais. Como exemplos, ele cita os avanços obtidos com a digitalização de processos e uso de videoconferências, e cita que boas plataformas podem estimular ainda mais essa migração para o mundo online.

A pesquisa avaliou como inibidores da digitalização da Justiça problemas com infraestrutura inadequada e a dificuldade de acessos dos cidadãos a determinadas plataformas digitais, a segurança física e digital das partes em sessões online, resistências e barreiras culturais dos operadores do Direito em relação ao uso do digital e a falta de autonomia dos tribunais para a definição do uso ou não dessas plataformas.

Por outro lado, a pandemia acabou expandido o uso de videoconferências e houve o registro de experiências positivas com as soluções digitais encontradas. Facilitou o processo já haver uma regulação para a digitalização do setor, estabelecida antes mesmo da crise sanitária.

Para avançar no processo, o estudo sugere quatro pontos de atenção:

  • manter o debate sobre os benefícios já obtidos com a digitalização e amplificar a adoção da tecnologia na justiça;
  • acelerar o processo de unificação de plataformas, sistemas e bases de informações/dados entre os diferentes tribunais do Brasil;
  • incentivar a adaptação cultural e técnica dos operadores do Direito por meio de cursos;
  • universalizar o acesso à internet e a salas de videoconferência (virtuais ou físicas) nos tribunais.

Governo

O setor que teve mais pontos inibidores da digitalização detectados pela pesquisa foi o governo, que já vinha antes mesmo da pandemia com uma agenda de avanços e desburocratização. O estudo aponta o alto grau de fragmentação de sistemas e bases de dados do governo e a dificuldade de inclusão e adoção dos serviços digitais pelo cidadão como os maiores entraves.

Além disso, cita os desafios da privacidade e segurança de dados, a dificuldade de promover o processo de digitalização em municípios menores por recursos escassos e limitações para parcerias e contratações e burocracia determinadas por uma legislação pré-digital.

Na outra ponta, foram considerados fatores de aceleração do processo os novos projetos criados no período e a existência de um plano nacional e políticas públicas voltadas para esse fim antes da pandemia.

Vale lembrar que durante a crise sanitária o governo federal usou uma plataforma de dados – o Cadastro Único (CadÚnico) – para ser a base do auxílio emergencial, ação de transferência de renda adotada durante essa crise. As restrições sanitárias acabaram impulsionando a busca por alternativas digitais para conectar os cidadãos, ainda que tenham ocorrido falhas em razão da dificuldade de acesso de algumas plataformas, principalmente.

O avanço nesse caminho depende também de uma maior uniformização entre os níveis de digitalização das diferentes esferas. A Cisco e Deloitte sugerem estes caminhos:

  • incentivar a continuidade e expansão das iniciativas de governo digital, com foco na integração nacional de sistemas e bases de dados;
  • integrar e unificar plataformas digitais com interfaces simples e experiência de uso amigável, o que estimularia o uso e adoção em escala dos serviços públicos digitais;
  • ampliar programas de inclusão digital do cidadão e acesso a equipamentos e internet;
  • definir diretrizes nacionais e programas de privacidade e segurança de dados, com educação contínua do cidadão e servidores públicos.
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