O setor elétrico desde 1995 vem sofrendo alterações que incomodam tanto o investidor quanto o consumidor. Descontada a inflação do período, a tarifa média brasileira encareceu cerca de 80%. Tínhamos um preço de energia comparável ao da Noruega ou Canadá, países hidroelétricos. Hoje temos tarifas de país dependente de combustíveis fósseis.
Sem fazer um diagnóstico e pressionado pela indústria, o governo resolveu adotar uma brutal intervenção no setor. Sob a falsa informação de que a razão da disparada tarifária seria o preço das usinas antigas, principalmente da Eletrobras, Cesp, Copel e Cemig, o governo rasgou a contabilidade do setor e impôs tarifas baixíssimas por usina. Para se ter um ideia, usinas da Chesf recebem R$ 7 por megawatt-hora (MWh) enquanto usinas térmicas geram a R$ 1.000 por MWh. A Eletrobras ficou sozinha, pois as outras não aceitaram os termos da renovação e ficaram de fora do aperto.
Ao contrário do propalado, o consumidor já tinha pago parte do investimento das estatais. Caso contrário, como a tarifa de 19 anos atrás seria 80% menor? Mas, inventando uma inédita e bizarra metodologia o governo fez com que a Eletrobras perdesse, da noite para o dia, 70% da sua receita ficando em situação financeira muito perigosa.
O efeito na tarifa final é desprezível, pois apenas 20% das usinas foram atingidas. Como nem toda energia é hidráulica e a conta de luz não é só o kWh, pois há transmissão, distribuição, encargos e muitos impostos, o efeito final não passa de 4%.
Por outro lado, o governo quer nos convencer que os culpados da crise atual são os consumidores e São Pedro. Os dados oficiais não confirmam a culpa de nenhum dos dois. Nos últimos cinco anos, apenas o ano de 2012 ficou com afluências abaixo de 90% da média. Diversos picos de consumo já foram registrados anteriormente.
Reservatórios se esvaziam por baixas afluências e excesso de uso. O que chega a ser uma comédia é que no Brasil só se pensa na primeira razão. Na realidade, como a expansão do sistema deixou o mercado escolher, muitas térmicas caras ganharam os leilões. Como a ansiedade com a tarifa é inflexível, as hidráulicas geraram no lugar dessas usinas. Em 2000, 83% das usinas eram hidroelétricas e geravam 90% da energia. Em 2012 são 68%, mas continuaram sendo responsáveis por 90% da energia gerada.
Ai está a receita de como esvaziar reservatórios, falir uma estatal e ainda encarecer a energia.
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