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Companhias aéreas começam a retomar voos regulares, mas admitem que ritmo pré-pandemia no Brasil só deve voltar em 2021.
Companhias aéreas ampliaram os voos regulares em julho, mas admitem que patamar pré-pandemia no mercado doméstico só deve ser retomado em 2021.| Foto: Jonathan Campos/Arquivo Gazeta do Povo

A malha aérea brasileira, que chegou a cair mais de 90% em abril, no pior mês para o setor, começa a dar sinais de retomada significativa em julho, com previsão de mais de 500 voos diários das principais companhias do país no mercado doméstico. Mesmo assim, o número está longe dos cerca de 2,7 mil pousos e decolagens registrados diariamente antes da pandemia do novo coronavírus.

Azul, Gol e Latam voltaram a destinos que estavam sem serviço até junho e aumentaram a frequência em outras rotas. Só a Gol tem planejados, em média, 250 voos diários em julho, o que representa um acréscimo de 150% na comparação com junho. O aumento na Azul é de 42% em relação ao mês anterior. Já na Latam, o acréscimo ultrapassa 100%, inclusive com a retomada de alguns destinos internacionais, como Cidade do México, Frankfurt, Londres, Madrid e Montevidéu.

Apesar do crescimento no número de voos, a expectativa do setor é atingir o mesmo patamar pré-crise no mercado doméstico somente em 2021. Isso em um cenário bastante otimista. “O setor vai retomar no mercado doméstico um pouco mais rápido, até porque o cenário internacional é mais complexo. A retomada vai ser gradual, mas acreditamos que até o final do ano já teremos a recomposição de cerca de 80% dos voos em relação a dezembro de 2019”, diz o secretário nacional de Aviação Civil, Ronei Glanzmann.

A realidade, porém, leva muitas incertezas para o setor. Com a pandemia ainda fora de controle no país, o setor não consegue precisar quando a demanda por voos, especialmente corporativos, voltará a crescer com vigor. “A retomada básica depende da abertura dos mercados domésticos no terceiro trimestre de 2020, com abertura gradual ainda mais lenta dos mercados internacionais. O cenário pessimista é baseado na abertura mais lenta das economias e no relaxamento das restrições de viagem, com bloqueios se estendendo até o terceiro trimestre, possivelmente devido a uma segunda onda do vírus. Isso atrasaria ainda mais a recuperação das viagens aéreas”, comenta o diretor da Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata, na sigla em inglês) no Brasil, Dany Oliveira.

O pior ano da história da aviação comercial

Segundo a Iata, 2020 será o pior ano da história da aviação comercial, com prejuízos estimados em US$ 84,3 bilhões em todo o mundo, com quedas de receitas na faixa de 50%. Não por acaso, governos de vários países têm injetado recursos em companhias aéreas para que elas não fechem as portas. Empresas tradicionais como Lufthansa, Air France e KLM já tiveram ajuda governamental.

“A pandemia parou a aviação no mundo todo, as companhias aéreas estão operando no mínimo. O maior desafio para as empresas aéreas agora é a liquidez a curto prazo e infelizmente isto pode significar que muitas empresas do setor não conseguirão sobreviver à crise. A maioria das empresas tem de dois a três meses de caixa”, explica Oliveira.

No Brasil, as três maiores companhias aéreas tiveram redução de receitas ao mesmo tempo em que o valor do dólar subiu — grande parte dos custos do setor é dolarizado. O caso mais emblemático é o da Latam, que entrou com pedido de recuperação judicial nos Estados Unidos para ter acesso a novas fontes de liquidez — chamado de DIP (Debtor-in-possession) — e garantir a continuidade das operações.

Um dos motivos para o pedido foi a demora para chegar a um acordo com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). “Este movimento [de pedido de recuperação judicial] pode facilitar o financiamento que está em negociação com o BNDES, além de oferecer uma opção mais segura ao banco, já que o DIP tem prioridade em relação a outros passivos da empresa”, disse o CEO da Latam Brasil, Jerome Cadier.

Mas não é só a Latam que busca o BNDES. A Azul e a Gol também costuram um pacote de ajuda que pode chegar a R$ 6 bilhões para as três companhias. “O importante agora é acelerar a linha de crédito do BNDES para que a mesma seja disponibilizada o mais rápido possível às empresas aéreas reforçarem seus capitais de giro”, completa Oliveira. Para viabilizar o empréstimo, o BNDES deve oferecer parte dos recursos e o restante será realizado em conjunto com bancos privados. A expectativa é que o acordo seja formalizado ainda em julho.

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