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"O BNDES tem de financiar projeto novo, que vai gerar emprego, vai abrir novas unidades, vai desenvolver o país. Esse projeto, ao contrário, deve gerar demissões, já que há duplicação de estruturas." | Valterci Santos / Gazeta do Povo
"O BNDES tem de financiar projeto novo, que vai gerar emprego, vai abrir novas unidades, vai desenvolver o país. Esse projeto, ao contrário, deve gerar demissões, já que há duplicação de estruturas."| Foto: Valterci Santos / Gazeta do Povo

Mesmo sem ter sido concretizada, a fusão entre Pão de Açúcar e Carrefour já provoca reações de todos dos lados, de sindicatos a fornecedores da indústria e de outras redes de varejo. O imbróglio envolvendo o empresário Abílio Diniz e o seu sócio francês Casino – contrário a uma união com o seu principal concorrente na França – tomou conta do noticário na semana passada e, ao que tudo indica, está longe de uma solução.

Em jogo está uma briga bilionária pela criação de uma gigante varejista, que, com a próvável ajuda do BNDES, será dona de 27% do varejo brasileiro. Se fechada, a operação promete mudar o desenho do setor no Brasil.

De um lado, a indústria teme artilharia pesada por redução de preços. De outro o consumidor ainda não sabe se esses ganhos serão repassados na forma de produtos mais baratos nas gôndolas. Para as redes de varejo regionais, significa, além da forte concorrência, a grande possibilidade de vir pela frente mais uma onda de aquisições. "Uma concentração como essa é perigosa para os fornecedores e para o consumidor", afirma o empresário Pedro Joanir Zonta, dono da rede paranaense Condor, hoje a décima maior do país, com 30 lojas e faturamento previsto de R$ 2 bilhões em 2011. Em entrevista à Gazeta do Povo, o empresário fala sobre como a fusão pode mudar esse mercado, sobre o movimento de aquisições que deve vir por aí e os planos da empresa para o futuro.

O que significa, para as redes regionais, a união entre o Pão de Açúcar e o Carrefour?

A concentração é perigosa para os fornecedores, que serão obrigados a baixar demais seus preços, e também para o consumidor, que terá um grupo com poder para ditar condições no mercado. No passado, o que vimos é que redes que fizeram forte pressão sobre fornecedores não reduziram preços para o cliente final. Houve aumento de margens. Para as redes menores, significa que não teremos igualdade de condições para compra de produtos.

Se a fusão sair, qual será o impacto no mercado do Paraná?

As duas redes não têm presença forte aqui. São a quarta ou quinta no ranking estadual. Mas o impacto se dá com os fornecedores locais. Historicamente tivemos um caso em que uma rede de fora [a portuguesa Sonae, que comprou o Mercadorama em 1998, hoje do Walmart] que praticamente quebrou os produtores de hortifrutigranjeiros. O reflexo se dá na indústria, nos agricultores. São empresas que não têm compromisso com o consumidor. Têm compromisso com os acionistas.

O senhor acredita que essa união pode gerar uma nova onda de aquisições de redes regionais?

Sem dúvida. Mas o assédio nunca parou. Nós mesmos somos frequentemente procurados por consultores que chegam até a gente para saber se queremos vender. No ano passado, tivemos a venda do Bretas [rede de varejo mineira comprada pelo grupo chileno Cencosud]. E as grandes redes não estão interessadas nas redes muito pequenas. Querem escala e participação de mercado. Mas nós não temos interesse. Ao contrário, se pudermos, queremos adquirir. Se eles quiserem colocar à venda as lojas no Paraná, queremos comprar.

O BNDES, que prevê um aporte de até R$ 4,5 bilhões no negócio, tem sido um dos principais alvos de críticas da operação.

O BNDES tem de financiar projeto novo, que vai gerar emprego, vai abrir novas unidades, vai desenvolver o país. Esse projeto, ao contrário, deve gerar demissões, já que há duplicação de estruturas.

O Brasil está na mira hoje dos grupos de varejo internacionais?

As redes internacionais já não têm como expandir muito em suas regiões. Os alvos são a América do Sul e a Ásia. É o caso, por exemplo, da própria Casino e da Tesco [rede britânica que por anos ensaiou sua entrada no Brasil, mas expandiu suas operações, nos últimos anos, para os Estados Unidos].

Quais os planos do Condor?

Temos nosso plano estratégico traçado até 2014, com expansão no Paraná. Depois podemos partir para outros estados. Hoje temos 30 lojas, vamos abrir três neste ano, com investimento de R$ 80 mi­­lhões. O faturamento deve crescer 20% em 2011, para R$ 2 bilhões. Até 2014, teremos 40 lojas.

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