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O uso de grãos como o milho e a soja na produção de energia tem sido avaliado como uma oportunidade de expansão do agronegócio, mas traz uma conseqüência negativa que preocupa os países em desenvolvimento como o Brasil: o encarecimento dos alimentos. Esse fator tende a incentivar a substituição do petróleo por outras vias como a do aproveitamento de resíduos industriais. Essas tendências entram em discussão nesta semana em Curitiba, durante o 2.º Congresso Internacional de Bioenergia. Cerca de 600 empresários, especialistas e estudantes participam do encontro, que começa hoje e segue até quinta-feira.

Além da fartura de grãos para a produção de energia, o Brasil também conta com resíduos de sobra. Estima-se que 45% da matéria-prima da indústria florestal vira produto comercial. Com isso, cerca de 20 milhões de toneladas de resíduos ficam sem aproveitamento só nas serrarias.

Convidado para a palestra de abertura do Congresso, Luiz Antonio Rossafa, agrônomo diretor de Gestão Corporativa da Copel, afirma que as mudanças na matriz energética internacional vão muito além da questão ambiental e devem resultar num novo arranjo dos setores produtivos. Confira:

Que interferências trazem as mudanças na matriz energética?Com o petróleo, o mundo aprendeu a viver com conforto. Ninguém aceita ficar sem combustível ou energia elétrica mesmo que por pouco tempo. Com as fontes de energia renováveis, esse jogo ainda não é possível. Estamos saindo da era do combustível fóssil para a da bioenergia, que traz um conjunto de oportunidades. Toda a cadeia está em transformação. O aproveitamento dos subprodutos pode tornar as novas formas de geração de energia cada vez mais rentáveis (...) O petróleo não vai desaparecer, terá uso nobre, em situações que compensem seu custo.

Os dados que apontam a bioenergia como tendência deste século são seguros a ponto de atrair os investimentos necessários ao desenvolvimento do setor?Já existem muitos arranjos viáveis. O etanol de cana-de-açúcar (álcool) era uma aventura subsidiada na década de 70. Hoje o consumidor paga menos pela gasolina porque ela pode ter mais de 20% de álcool. Talvez a gente ainda não tenha consolidado a cadeia de bioprodutos, mas ainda dá para melhorar com o aproveitamento do bagaço da cana, por exemplo. Falar de bioenergia não é mais falar de combustível líquido, mas de uma cadeia.

O sr. acha que faltam políticas públicas para a produção de bioenergia no Brasil?Nós temos um programa de sucesso no Brasil, o Proálcool. Mas a produção de biodiesel de cana ainda pode melhorar. Em relação a outros setores, é difícil ancorar um programa de energia líquida a partir de matérias-primas tipificadas na industrialização de grandes commodities. Quando se produz soja para alimento, a concentração de óleo não é tão importante. A geração de energia precisaria de uma concentração de óleo maior, de 30%. Para se chegar a isso, é necessário ajuda do poder público, o que exige uma sinergia muito forte. Essas questões começam a ser trabalhadas agora.

A agroenergia tem potencial para substituir, ou suceder, o ciclo da produção de grãos? Não haverá substituição porque a relação entre uma coisa e outra não é propriamente de concorrência. O que vai para uso alimentar e humano basicamente não é o óleo. Temos um ciclo integrado de produção de energia alimentar e energia líquida, que integra um processo produtivo novo.

A tendência é de encarecimento do preço dos alimentos? Há realmente alguns reflexos neste sentido, mas pode ser por alguns desvios iniciais. Num determinado momento, o setor pode até desprezar parte da matéria-prima como resíduo, mas isso não significa que há redução na quantidade de alimento disponível.

Em quê as discussões sobre o tema contribuem?O importante é criar, acima de tudo, uma base de diálogo e mobilização. Energias renováveis são muito mais democráticas, formatam um modelo regional de produção, de geração de emprego e renda.

Serviço: 2.º Congresso Internacional de Bioenergia, de 12 a 14 de junho, Centro de Eventos Cietep/Fiep, Av. Comendador Franco, 1.341, Jardim Botânico, Curitiba (PR). Mais informações: www.porthuseventos.com.br.

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