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O jornalista curitibano Jorge Takao Saito, 27 anos, é brasileiro de coração e, atualmente, japonês por opção. Filho de pais japoneses, Jorge escolheu o país para trabalhar, enquanto guarda dinheiro para pagar um curso de cinema, na Austrália. O jornalista trabalha como operário em uma fábrica de televisões, em Osaka, e sente na pele o estilo de vida dos japoneses: trabalho primeiro, diversão depois. Os jogos que puder, Jorge acompanhará com os colegas brasileiros que também trabalham na fábrica. Mas será que a euforia brasileira vai quebrar o gelo japonês? Jorge, é com você:

"Aqui no Japão existem cartazes e mercadorias (como camiseta e chaveiros) em lojas. Na TV, jogadores da seleção japonesa aparecem em propagandas de carros, máquinas fotográficas etc. Têm sido habituais reportagens especiais sobre a Copa: o Zico volta e meia aparece em alguma entrevista. Mas tudo isso de uma maneira bem tímida. Acho que pelo fato do futebol não ser o principal esporte deles e sim o beisebol. Na verdade, parece que eles não estão ligando muito, ou melhor, até se preocupam, mas de uma forma bem mais contida. Eles sabem que o futebol aqui ainda precisa evoluir muito. Então, acho que pra eles, se o Japão ganhar um ou outro jogo já estará de bom tamanho. Mas não acredito que haverá um amontoado de gente em frente aos aparelhos de TV nas lojas daqui durante os jogos do Japão como acontece no Brasil.

A verdade é que o futebol aqui não tem a mesma atenção que no Brasil. Embora ultimamente tenha se falado muito da seleção japonesa, as atenções são divididas com outros esportes. A mídia não coloca a Copa do Mundo como ‘A coisa mais importante do mundo’. Eu, por exemplo, nem sei quais serão os horários dos jogos, pretendo assistir o que der, talvz com os brasileiros aqui da fábrica. Mas vai ser difícil acompanhar, pois tenho um turno puxado: trabalho 12 horas por dia, em média de 6 a 7 dias por semana.

Em geral os japoneses gostam bastante de futebol, mas acho que, ao contrário do Brasil, eles não deixarão de trabalhar quando a seleção estiver jogando. Na verdade eu acho que o Mundial é uma desculpa pra fazer festa, pra deixar de ir ao trabalho ou a escola. Isso é válido, pois a diversão e a confraternização são essenciais na vida das pessoas.

Aqui, em geral, não existe esse tipo de coisa, ou seja, o trabalho vem em primeiro lugar. Não que eles não se divirtam, mas eles têm uma preocupação muito maior que os brasileiros em relação ao trabalho. Mas tudo depende do ponto de vista. Será que os japoneses se preocupam demais com o trabalho ou os brasileiros que se preocupam de menos?

Bem, tenho uma teoria que acho interessante. A filosofia dos japoneses é da retidão; se eles aprendem de um jeito, só fazem do jeito que aprenderam. Não são muito flexíveis e isso se reflete no futebol. Ao passo que o povo brasileiro valoriza muito o individualismo, a criatividade, o que também se reflete no futebol. Acho que o modo de ser de cada povo se reflete na bola. O futebol brasileiro é alegre e criativo e o brasileiro, de maneira geral, é bem sucedido nisso. Já o futebol japonês, inglês, alemão, por exemplo, é ordeiro e cumpridor do que foi previamente planejado (ou treinado). E esses povos obtiveram sucesso com sociedades que agem desta forma. Acredito que deveria haver um meio termo entre a seriedade e a diversão. Aliás, essa é uma das minhas grandes duvidas: Será possível um povo ser organizado e ordeiro sem perder a alegria?

É curioso, mas morar fora do Brasil me fez torcer mais pela seleção brasileira. Talvez por tudo o que ela signifique, como os amigos e a cultura. Mas posso dizer que minha segunda seleção será o Japão, por eu ser descendente de japoneses e por estar vivendo no país. Torcer pelo Japão como segundo time, claro, é bem mais confortante e menos frustrante. Uma vez que a seleção tem menos escolhas, quase não existem ‘injustiças’. É difícil se irritar que o Zico não fez uma substituição certa, por exemplo. Mas em relação ao Brasil... acho que quase todo brasileiro tem uma seleção diferente daquela proposta por Parreira."

Leia a matéria anterior: sob às névoas da Inglaterra, brasileiro tenta viver o clima de Copa

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