Opinião
A gestão surrealista do setor elétrico
Fernando Jasper, editor-assistente de Economia
Imagine um sujeito dirigindo há horas em uma estrada deserta. Em dado momento, passa a rodar com o tanque na reserva. Contrariando a lógica, o motorista pisa mais fundo e ignora os postos de combustível do caminho. Está decidido a ver se a gasolina vai mesmo acabar, para então decidir se é o caso de tirar o pé e reabastecer o carro.
É mais ou menos o que o governo está fazendo com a energia elétrica. Ainda que os reservatórios estejam lá embaixo e as chuvas frustrem há meses as previsões, os estrategistas do Planalto insistem em esperar até o fim do que deveria ser o período chuvoso para, aí sim, definir se devem pedir ao povo que modere o consumo. Enquanto isso, as termelétricas seguem a toda, gerando energia a um custo assombroso. É surreal.
Os sábios de Brasília também acham adequado que os reservatórios do Sudeste cheguem ao fim do ano com 15% da capacidade. Convém observar que, quando o índice baixa a 10%, é quase impossível operar uma hidrelétrica, pois esse porcentual se refere basicamente ao lodo do fundo dos lagos.
Apesar de o risco de déficit estar subindo, a maior chance ainda é a de escaparmos de um racionamento neste ano. E aí a presidente-candidata Dilma Rousseff poderá tripudiar sobre "os que torcem contra o país", convenientemente omitindo o preço dessa gestão surrealista do setor elétrico.
Todos os consumidores brasileiros vão pagar o empréstimo de R$ 8 bilhões às distribuidoras de energia por meio de reajustes adicionais na conta de luz de 2015. O governo vai criar um encargo na tarifa para bancar a operação, o que evita uma elevação na conta deste ano. O aumento, para o cliente final, será da ordem de 8% a 9%. A operação foi montada pelo governo para impedir que o gasto maior com energia gerada pelas usinas térmicas, acionadas durante a estiagem, contamine a tarifa neste ano e reduza o desconto médio de 20% concedido pela presidente Dilma Rousseff em 2012.
Na prática, além do aumento autorizado anualmente para cada distribuidora, que depende da qualidade do atendimento e dos gastos das empresas com energia, todo consumidor do país terá um aumento padrão, adicional.
Ontem, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) propôs normas para regulamentar o empréstimo, que será intermediado pela Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE). A câmara deverá criar uma conta especificamente para repassar os recursos captados com os bancos para as empresas do setor.
Para dar segurança à operação, o empréstimo será pago por meio de um encargo específico, que será incluído na tarifa no ano que vem. Mas, diferentemente dos encargos tradicionais, que passam por um fundo setorial administrado pela Eletrobras, o dinheiro recolhido será repassado diretamente para a conta criada para a operação e repassado aos bancos. A CCEE vai selecionar um banco para ser o gestor dessa conta, por meio de um processo seletivo.
-
O que Holanda e Japão têm a ensinar ao Rio Grande do Sul em manejo de inundações
-
Helicóptero com o presidente do Irã sofre acidente; tevê estatal relata resgate difícil
-
Perto das eleições na Venezuela, ditador Maduro reprime ainda mais a oposição
-
Como a esquerda radical assumiu o controle de todas as instituições
Gustavo Franco: “Banco Central está fazendo tudo direitinho e espero que continue”
Brasil prepara contra-ataque às imposições ambientais unilaterais da Europa
Maior parte dos recursos anunciados por Dilma ao RS foi negociada no governo Bolsonaro
Corpus Christi é feriado apenas em algumas cidades; veja a lista
Deixe sua opinião