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Curitiba não experimentava deflação desde agosto do ano passado. Confira |
Curitiba não experimentava deflação desde agosto do ano passado. Confira| Foto:

Opinião

Por que você não percebeu

"Esse negócio de deflação é conversa!", o leitor deve estar pensando. "Eu vou ao supermercado toda semana. Como é que eu não percebi essa queda nos preços?" É bem provável que, para o consumidor, essa queda de preços tenha realmente sido imperceptível. Isso porque, quando se trata de inflação, nossa tendência é pensar somente nos preços de alimentos. Eles realmente têm um grande peso na composição do índice, mas há outros itens importantes, como os transportes, que influenciaram bastante o IPCA deste mês. Se você pensar somente nos alimentos comprados em supermercados – que o IBGE reúne sob o nome genérico de "Alimentação no Domicílio" –, os preços recuaram 1,73%. Numa compra de R$ 150, a diferença é de R$ 2,70. Como as listas de compras raramente são idênticas de um mês para o outro, fica difícil notar qualquer variação.

Franco Iacomini, colunista de Finanças Pessoais

Transportes e alimentos geram queda nos preços em Curitiba

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) registrou em junho uma queda de 0,15% em Curitiba. Ao lado de Porto Alegre, a cidade apresentou o menor índice na comparação com as outras capitais do país. Os grupos Transportes e Alimentos foram os que mais contribuíram para o recuo do IPCA na capital paranaense, com destaque para os itens batata-inglesa, leite, açúcar refinado, cerveja e combustíveis (gasolina e álcool). Alguns desses produtos vinham demonstrando forte tendência de alta, sobretudo em 2009, e agora – graças, em grande parte, à maior oferta – retornam aos patamares pré-crise. É o caso do leite e da cerveja.

No caso da batata-inglesa, a queda foi de 22,83%, ocasionada principalmente pelo pico de oferta da segunda safra paranaense. O clima seco entre os meses de maio e junho favoreceu a produção. "Eu acredito que a partir de agora haverá uma oferta menor, o que poderá causar aumento nos preços", ex­­plica Marcelo Garrido Moreira, economista do Departamento de Economia Rural da Secretaria de Agricultura do Paraná.

De acordo com Irene Maria Machado, gerente de pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o item que mais contribuiu para a forte queda do índice em Curitiba foram os combustíveis. A gasolina apresentou uma variação de -3,39% em relação a maio, e o álcool de -9,39%. A baixa no preço desses produtos ocorreu porque a safra "segura" o valor dos derivados de cana-de-açúcar – e a gasolina vendida nos postos tem, em sua composição, 20% de álcool.

Passagem aérea

Por outro lado, alguns itens acabaram puxando para cima o resultado apurado em Curitiba. As passagens aéreas tiveram um aumento de 17,02%. A variação, porém, é considerada sazonal e temporária, já que junho é o mês que antecede as férias escolares, o que faz crescer a procura por destinos turísticos.

Adriano Cesar Gomes

A Copa do Mundo mudou o padrão de consumo das famílias e ajudou a conter a inflação em junho. O mês no qual teve início a competição registrou um Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) estável, a menor taxa em quatro anos – em junho de 2006, mês da Copa do Mundo da Alemanha, houve deflação (queda de preços) de 0,21%. A série histórica do IBGE mostra que, desde o início do Plano Real, em anos de Mundial de futebol a inflação cai nos meses do evento."Durante o mundial os brasileiros, que são muito apaixonados por futebol, deslocam o consumo para produtos que têm relação com a Copa, como camisas temáticas e vuvuzelas", diz Eulina Nunes dos Santos, coordenadora do IBGE. "Parte do orçamento e das atenções se voltam para esses produtos, reduzindo a demanda por outros itens, como alimentos e automóveis, o que leva a promoções no comércio e à queda de preços." Segundo o IBGE, em 12 meses o IPCA acumula alta de 4,84% e, no ano, de 3,09%.

Ajuste

Para o professor de macroeconomia da Universidade de Brasília (UnB) José Luís Oreiro, os números de junho mostram que não há no país um descontrole inflacionário, e que o ajuste está sendo feito pela produção em alta. "Já víamos que o investimento estava crescendo três vezes mais rápido que o PIB, o que mostra um controle pela oferta", diz. "O aumento da taxa de juros com a justificativa de conter a inflação foi um terrorismo, uma reação exagerada do governo", critica o professor.

Fábio Romão, da consultoria LCA, vê uma desaceleração natural dos preços dos alimentos, que dispararam no começo do ano por conta do clima e agora retornam à normalidade. "Daqui para o fim do ano, a evolução seguirá o esperado sazonalmente."

Além dos alimentos, que recuaram 0,90%, a queda dos preços da gasolina (-0,76%) e do álcool (-5,41%) motivou a deflação de 0,21% do grupo de transportes, e também contribuiu para o IPCA medido no mês passado.

O cenário dos preços em Curitiba é parecido – na capital paranaense, o índice geral apurou queda de 0,15% em junho. O cenário favorável, porém, não tende a se repetir este mês, quando há reajuste de energia elétrica no Paraná, tarifa com peso forte na cesta do IPCA.

O IPCA zerado em junho, na opinião do economista-chefe do Banco ABC Brasil, Luis Otávio de Souza Leal, deve gerar um debate no mercado sobre se este foi o ponto mais baixo da inflação medida pelo indicador no ano – configurando o que economistas classificam de "barriga" – ou se representa uma tendência de convergência para a meta. "Acredito que é mais uma barriga do que uma tendência." O economista diz que a Copa foi "a cereja do bolo para a inflação", mas não foi o fator determinante, e acredita que dificilmente haverá um IPCA zerado novamente nos próximos meses do ano. Souza Leal acredita que, apesar dos números do IPCA, o Copom deve manter o ritmo de aperto monetário em 0,75 ponto porcentual na reunião deste mês e também em setembro.

Para o professor de Economia Demian Castro, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), no entanto, a questão dos preços abre espaço para uma queda na taxa básica de juros. Ele diz que o foco da preocupação do governo hoje está no consumo exagerado, que pode não ser compensado por um aumento da capacidade produtiva brasileira. "O problema é que este controle beneficia o sistema financeiro, que tem lucros estrondosos, e provoca uma migração dos investimentos do setor produtivo para o financeiro", diz Castro.

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