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Crescimento do tucano Aécio Neves na pesquisa Ibope e vantagem de Marina Silva em um eventual segundo turno com Dilma Roussef levaram às ações da Petrobras ao maior giro em sete anos | Ricardo Moraes/Reuters
Crescimento do tucano Aécio Neves na pesquisa Ibope e vantagem de Marina Silva em um eventual segundo turno com Dilma Roussef levaram às ações da Petrobras ao maior giro em sete anos| Foto: Ricardo Moraes/Reuters

Passado e "profecias" explicam oscilação

A convenção hoje para quem negocia ações é que as empresas estatais valem mais não mão de um novo gestor, que possa fazer mudanças favoráveis ao desempenho dessas companhias. Ao ter empresas públicas com ações negociadas em bolsa, o governo passa obrigatoriamente por esse tipo de avaliação. E é melhor que seja assim, por mais que o mercado possa estar exagerando em suas reações.

Parte da oscilação nos preços das ações de estatais é baseada em uma análise do passado recente dessas empresas. A Petrobras está afundada em um caso de corrupção que apenas começa a ser desvendado. A Eletrobras foi usada de forma escancarada para se baixar o preço da energia no ano passado, em uma manobra tão custosa quanto inútil. O Banco do Brasil parece a menos atingida das três empresas, mas a variação de suas ações mostra como o setor bancário pode se beneficiar de uma gestão econômica mais bem-sucedida.

Outra parte é especulação. A partir do momento em que é montada a tese sobre o comportamento dos preços, ela se torna uma profecia autorrealizável. A cada pesquisa eleitoral, aparece uma chance certa de se ganhar. A reação, assim, é sempre exagerada e muitas vezes empurrada pelo vazamento antecipado das pesquisas eleitorais. O preço final das ações vamos descobrir depois das eleições.

Guido Orgis, editor executivo de Economia

Mais do que pré-sal, represamento de tarifas, crise energética ou resultados negativos, a disputa eleitoral é o que tem ditado as oscilações nas ações das principais empresas estatais. A partir do momento em que os resultados das pesquisas eleitorais passaram a tomar conta do noticiário, a variação nos valores destes papéis se intensificou.

INFOGRÁFICO: Confira a oscilação da bolsa

ANÁLISE: passado e "profecias" explicam oscilação

Desde que a campanha eleitoral começou oficialmente, a diferença entre as cotações mínimas e máximas das ações da Petrobras oscilaram 32% e as do Banco do Brasil, 35,4%. No mesmo período, a variação do Ibovespa foi consideravelmente mais amena, ao oscilar 11,3%.

O exemplo máximo desta influência foi a divulgação da primeira pesquisa Ibope (registrada no TSE sob o número BR-00053/2014), no dia 27 de março deste ano, que apontava uma possibilidade clara de segundo turno. A avaliação positiva do governo Dilma caia de 43% para 36% e, imediatamente, os papéis apresentaram valorização no mercado acionário.

Na oportunidade, o Ibovespa subiu 3,5%, puxada especialmente pela valorização dos papéis das estatais. As ações do Banco do Brasil fecharam o pregão com alta de 6,6%. Já da Petrobras, a alta foi ainda maior, em 8,1%. Por último, os papéis da Eletrobras acompanharam a alta geral da bolsa e fecharam o dia com valorização de 3,5%.

A cada nova pesquisa, a tônica é a mesma. Geralmente, quando a sondagem aponta para uma possibilidade de mudança no comando do governo federal, os papéis reagem positivamente. Quando Dilma Rousseff (PT) reafirma a liderança perante Marina Silva (PSB) e Aécio Neves (PSDB), desvalorizam.

Ao longo do ano, a queda de popularidade do governo Dilma coincidiu com uma disparada incomum nos papéis das estatais. De março a setembro, as ações da Petrobras e Banco do Brasil tiveram alta de cerca de 50%. Os papéis da Eletrobras valorizaram 21%, apesar da crise energética.

Insatisfação

Para o analista da Geral Investimentos, Filipe Machado, esta é uma demonstração de insatisfação do mercado com o modo de condução destas empresas. "Uma possível troca de governo agrada o mercado financeiro" afirma. Segundo ele, a reação positiva da bolsa às quedas da atual gestão também é um sinal de que mudanças são esperadas caso Dilma vença. "Mesmo que a presidente consiga a reeleição, é uma amostra do mercado do que se espera do próximo mandato, sem represamento de tarifas, com uma gestão menos centralizada", explica.

Nem mesmo as incertezas de uma possível vitória de Marina Silva abalam negativamente o mercado – como é de se esperar diante de mudanças radicais na administração federal. Na primeira vez que a candidata do PSB apareceu em uma sondagem como uma ameaça real à Dilma, os papéis da Petrobras subiram 5,3%, por exemplo.

"Não se sabe o que esperar de Marina em alguns aspectos, mas a percepção inicial do mercado é que traz uma equipe econômica gabaritada e mais à direita do que a situação", explica o analista Roberto Altenhofen, da consultoria Empiricus.

Influência

Ações sofrem valorização irreal a cada fato novoda campanha eleitoral

A cada fato novo na corrida presidencial, seja uma nova pesquisa, uma declaração equivocada ou um boato, os papéis de empresas estatais podem se desvalorizar ou, especialmente, se valorizar sem qualquer relação com a performance real das empresas. Geralmente, a movimentação das ações das companhias refletem seus resultados econômicos e suas decisões de gestão. Essa lógica, no entanto, é deixada de lado no período eleitoral.

O maior exemplo é a Petrobras: a gestão atribulada da estatal e as tarifas defasadas foram suficientes para derrubar as ações da empresa nos últimos dois anos. Em 2014, a expectativa de especuladores foi suficiente para valorizar os papéis da empresa, mesmo sem mudanças significativas na administração da empresa e com a notícia de uma série de casos de corrupção. "Muita gente se beneficia com isso. Em poucas horas, algumas ações se valorizam mais de 10% por pura especulação eleitoral", explica o professor de Economia da Universidade Estadual de Maringá, Heriberto Calheta.

Crise energética

O mesmo acontece com os papéis da Eletrobras. O abalo causado nas ações por causa da crise energética não foi tão intenso quanto a animação do mercado frente às possibilidades de segundo turno. No auge da crise do setor, as ações da Eletrobras se desvalorizaram 12%. Logo após as primeiras pesquisas que indicavam uma insatisfação maior com a gestão de Dilma Rousseff, os papéis da estatal chegaram a subir acima dos 20%.

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