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Desde 2012, o superávit entregue pelo governo Dilma Rousseff é menor do que o prometido | Fernando Bizerra Jr./EFE
Desde 2012, o superávit entregue pelo governo Dilma Rousseff é menor do que o prometido| Foto: Fernando Bizerra Jr./EFE

Impacto mínimo

Redução representa só 0,1% do orçamento anual de despesas

O corte mensal de R$ 1 ,88 bilhão nos gastos determinados pelo governo representa uma economia de apenas 0,1% do orçamento anual do governo em despesas. A previsão do Orçamento de 2015 é que todas as despesas da máquina pública federal custem R$ 1,9 trilhão no ano.

Em números absolutos, o Ministério da Educação é o órgão que terá, conforme o decreto, o maior corte nas despesas mensalmente, de R$ 586,8 milhões. No discurso de posse do segundo mandato, a presidente Dilma Rousseff alçou a educação à prioridade da sua gestão ao lançar o lema "Brasil, pátria educadora" e entregou a pasta, pela primeira vez em governos do PT, para um aliado não petista, o ex-governador do Ceará Cid Gomes (PROS).

Os ministérios da Defesa e das Cidades ficam em segundo e terceiro lugares em termos de cortes por mês com, respectivamente, R$ 156,4 milhões e R$ 144,4 milhões. Somente Educação, Defesa e Cidades vão responder, mensalmente, por 47% do corte anunciado.

Quando se pega as despesas em termos proporcionais, ou seja, em relação ao Orçamento total do ano de 2015, a Secretaria da Micro e Pequena Empresa, que tem status de ministério, é a que mais perde. A pasta sofrerá uma redução mensal de 1,64% do previsto para pagar suas contas. A secretaria terá um corte de R$ 1,5 milhão por mês. O total previsto para o orçamento de despesas para Micro e Pequena Empresa é de R$ 94,8 milhões em 2015.

O governo anunciou ontem um corte incomum de despesas: reduziu os poucos gastos que a máquina federal está autorizada a fazer sem ter o Orçamento deste ano aprovado. O contingenciamento chega a R$ 1,88 bilhão por mês e valerá até a aprovação do Orçamento de 2015 pelo Congresso. O limite mensal de gastos de cada um dos 39 ministérios foi reduzido de 1/12 (um doze avos) para 1/18 (um dezoito avos) do total de despesas previstas para o ano.

Preocupada em recuperar a credibilidade perdida na área fiscal e temendo um rebaixamento da nota de crédito do Brasil pelas agências de rating, a presidente Dilma Rousseff deu o sinal verde para a medida na noite de terça-feira.

O bloqueio provisório de um terço dos gastos discricionários dos ministérios, isto é, das despesas que não são obrigatórias, como passagens aéreas e custeio geral, poderia representar uma retenção de R$ 22,7 bilhões caso o corte fosse estendido até dezembro.

O contingenciamento de hoje não afeta os investimentos públicos. Mas, tão logo seja aprovado pelos parlamentares, o Orçamento passará por um corte muito maior, na faixa de R$ 65 bilhões, que incluirá investimentos. Com o Orçamento em mãos, a retenção anunciada ontem será automaticamente cancelada.

Superávit

Mais do que o efeito em si, a expectativa da nova equipe econômica é política: o objetivo do corte é sinalizar ao mercado que o governo alcançará neste ano a meta de poupar R$ 66,3 bilhões, ou 1,2% doPIB, para pagar os juros da dívida pública. Esse expediente, chamado de superávit primário, tem sido uma das principais razões do mal-estar entre o governo e o mercado nos últimos anos.

Desde 2012, o superávit primário efetivamente entregue pelo governo Dilma é menor do que o prometido. Como resultado, a dívida bruta tem aumentado: passou de 56,7% do PIB em dezembro de 2013 para 63% do PIB em novembro de 2014.

Em nota oficial, o Ministério do Planejamento afirmou que a antecipação dos cortes "se faz necessária frente às incertezas sobre a evolução da economia, o cenário fiscal e o calendário do Poder Legislativo, que só retomará suas atividades a partir de fevereiro".

Os cortes vão afetar os gastos a serem autorizados no Orçamento de 2015, mas isso não quer dizer que os desembolsos dos ministérios ficarão menores. O governo deixou para 2015 uma conta de R$ 243,9 bilhões em restos a pagar de 2014, isto é, despesas autorizadas nos últimos anos que ainda não foram pagas. Cabe a cada ministério determinar quanto quitará de "restos a pagar", independentemente da aprovação do Orçamento.

Ressalva

Em geral, a medida foi bem recebida pelos analistas. Mas o especialista em contas públicas Mansueto Almeida não mostrou o mesmo entusiasmo. "Decreto de contingenciamento não é ajuste fiscal. O Brasil faz esses decretos desde a década de 1940. No primeiro trimestre do ano passado, por exemplo, 94% do investimento foi financiado via restos a pagar. Assim, este contingenciamento não mostra ainda o tamanho do corte real do investimento público", afirmou, em texto publicado em seu blog.

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