
Os bancos não perdem tempo. Sabem que muitos correntistas começam o ano despreparados para encarar aquelas despesas típicas do primeiro trimestre, como o IPTU, o IPVA e o material escolar das crianças. E oferecem linhas especiais de crédito, com pagamento em até 48 meses no caso do crédito consignado, o prazo é mais longo ainda, podendo chegar a seis anos. Tentador? Pois os economistas dizem que trata-se de uma cilada, que faz a pessoa desembolsar mais do que precisaria. No caso dos impostos, é bem mais vantajoso aderir aos parcelamentos propostos pelos governos.
O diretor de economia e finanças da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Andrew Frank Storfer, diz que, em casos extremos, quando o empréstimo é realmente indispensável, é preciso ver as modalidades que permitem pagar as contas com juros mais baixos do que o cheque especial e o cartão de crédito rotativo que giram em torno de 8% e 10% aos mês. "Vale lembrar que 4% ao mês [taxa média dos financiamentos vinculados aos impostos] em um empréstimo parece pouco, mas são juros absurdos se comparados com uma inflação de menos de 0,5% ao mês ou com o rendimento anual da poupança", alerta.
Para demonstrar como esses financiamentos funcionam, pegue-se o exemplo de um imóvel em Curitiba, na faixa de R$ 100 mil de valor venal. O IPTU para ele fica perto dos R$ 500. Com o desconto de 7% para pagamento à vista, o imposto cai para R$ 465. Sem o desconto, é possível parcelar o imposto diretamente com a prefeitura em 10 parcelas de R$ 50.
Se tomar um empréstimo bancário de R$ 465 (o preço do IPTU à vista) e pagá-lo nos mesmos dez meses, o valor da parcela salta para R$ 57,33 isso levando em conta os juros médios do mercado, que são de 4% ao mês. A dívida total chega a R$ 573,30. Mais, portanto, que o parcelamento oficial.
Se a opção for para um parcelamento mais longo, a diferença sobe ainda mais. Em 12 parcelas, a soma chega a R$ 594,56. Em 48 vezes de R$ 21,94 o empréstimo totaliza R$ 1.053,07 mais do que o dobro do valor do imposto.
Para ser vantajoso e ao menos igualar o valor do pagamento à vista, o juro do empréstimo bancário para pagamento do IPTU deveria ser de, no máximo, 1,33% ao mês índice distante da realidade praticada no mercado. Com este índice em 10 parcelas, o contribuinte pagaria ao final do financiamento R$ 499,60, representando uma economia de R$ 0,40 em relação ao valor cobrado pelo parcelamento sem o desconto da própria prefeitura.
No caso do IPVA, em que o pagamento à vista tem desconto de 5% e o parcelamento pode ser feito em até cinco vezes, o juro ideal é ligeiramente maior, podendo atingir 1,73%. Mas, neste caso, um financiamento de R$ 500 em 5 parcelas de R$ 99,99 representaria uma economia de apenas R$ 0,05.
Bola de neve
"O ideal é que não se faça empréstimo para o pagamento dessas dívidas. Se não for possível quitar o débito à vista, é melhor optar pelo parcelamento junto ao próprio órgão", recomenda o economista do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Sandro Silva. "Se, mesmo assim, [o contribuinte] perceber que as parcelas não cabem no bolso, é hora de tentar reenquadrar o orçamento à sua realidade financeira, cortando o máximo de despesas possíveis", alerta o economista.
Segundo o consultor financeiro Marcos Crivelaro, professor da Faculdade de Informática e Administração Paulista (Fiap), muita gente acha a ideia do empréstimo atraente por concentrar todas as despesas em um único financiamento, sem perceber que acaba pagando muito mais pelas dívidas. "Outra armadilha é procurar alongar o prazo do financiamento para que a parcela caiba no bolso. Isso torna a dívida mais cara e acaba comprometendo ainda mais a renda já que, daqui a um ano, será preciso entrar em um novo financiamento. Lá na frente isso pode virar uma bola de neve", alerta Crivelaro.



