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Oferta especial em revenda da GM nos EUA: sem ajuda do governo, liquidação será de fábricas. | Rebecca Cook/Reutes
Oferta especial em revenda da GM nos EUA: sem ajuda do governo, liquidação será de fábricas.| Foto: Rebecca Cook/Reutes

A General Motors do Brasil, fabricante dos veículos Chevrolet, dará uma entrevista coletiva nesta semana para explicar como as dificuldades de sua matriz, nos Estados Unidos, poderão afetar (ou não) a operação brasileira. É bom que os executivos do Brasil sejam bastante claros, uma vez que, em meio à onda de rumores dos últimos dias, até mesmo consultores tarimbados da indústria automobilística prevêem tempos difíceis para a subsidiária tupiniquim – hoje a terceira maior vendedora de veículos do país.

Nos EUA, a concordata é um instrumento que protege a empresa de ações movidas por credores enquanto tenta se reestruturar – em caso de fracasso, a etapa seguinte é a falência. Nesse sentido, a semana pode ser decisiva para a GM e suas colegas, uma vez que o Congresso norte-americano deve analisar um pacote de salvação ao setor. E bote salvação nisso: no último trimestre, a GM reportou mais um de seus já tradicionais prejuízos bilionários, desta vez de US$ 2,5 bilhões, que elevou para quase US$ 60 bilhões o saldo negativo de seu patrimônio líquido (diferença entre o valor dos ativos e o das dívidas). Seus executivos têm dito que, se o governo não ajudar, em questão de meses a empresa não terá caixa nem para honrar as despesas mais urgentes.

A GM ostenta o maior rombo entre as montadoras norte-americanas, que passam por apuros consideráveis desde 2007. As vendas caem há 12 meses, e 2008 pode chegar ao fim com o pior resultado desde a década de 70. "As vendas nos EUA devem fechar o ano em 12,5 milhões de veículos, o que representa uma queda de 20% em relação a 2007. As três grandes [GM, Ford e Chrysler] estão drenando cerca de US$ 1 bilhão de seus caixas por mês, e tendem a drenar ainda mais, porque as perspectivas são muito ruins", avalia David Wong, vice-presidente da consultoria Kaiser Associates.Brasil

Enquanto as matrizes rumavam ao brejo, as subsidiárias brasileiras da GM e da Ford cresciam no embalo do mercado nacional, enviando alguns milhões de dólares América acima para reduzir o rombo nos EUA. O problema é que a crise global já desacelera as vendas também no Brasil – o que fez a GM anunciar programas de demissão voluntária e convocar férias coletivas em todas as suas fábricas.

Para Wong, problemas lá fora significam menos investimentos da matriz por aqui. E, ainda que a GM do Brasil continue gerando lucro, terá de encaminhá-lo à matriz, sem poder aplicá-lo em seus próprios projetos. Recentemente, a companhia garantiu a continuidade da construção da fábrica de motores de Joinville (SC), mas os funcionários estão incertos sobre a aplicação, prometida em junho, de US$ 500 milhões para a produção de um novo carro em São José dos Campos (SP).

Embora o mercado especule sobre a possibilidade de a GM vender sua filial brasileira para formar caixa, o consultor vê essa hipótese como improvável. "É pouco vantajoso comprar apenas ‘um pedaço’ de uma montadora."

Olivier Girard, diretor da Trevisan Consultoria, não crê que a GM brasileira possa ser fechada em caso de concordata da matriz. "Mas a filial pode, sim, demitir funcionários, principalmente na área administrativa. E reduzir sua capacidade de produção, fechando um turno ou, em caso extremo, uma fábrica. Isso é algo que, dada a desaceleração do mercado brasileiro, poderia ocorrer independentemente do que se passa nos EUA."

Consumidor

José Rinaldo Caporal Filho, diretor da Megadealer, consultoria especializada em varejo automotivo, não crê que o consumidor brasileiro venha a evitar a compra de um Chevrolet por conta do noticiário que vem dos EUA. "O brasileiro vê a GM como uma empresa brasileira. A crise da matriz é algo muito distante dele", argumenta. Mas Wong, da Kaiser Associates, avalia que o cliente pode, sim, fazer algum tipo de associação. "É possível que ele se pergunte: por que vou comprar um carro de uma empresa que está em concordata nos EUA?"

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