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O consultor Francisco Gomide: área financeira ganhou muito poder dentro das empresas | Marcelo Elias/Gazeta do Povo
O consultor Francisco Gomide: área financeira ganhou muito poder dentro das empresas| Foto: Marcelo Elias/Gazeta do Povo

CVM quer publicar bônus de executivos

A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) trabalha a proposta de tornar obrigatória a publicação da remuneração dos principais executivos das companhias abertas. A medida tem como objetivo aumentar a transparência das empresas e segue uma tendência internacional. Nos Estados Unidos, os salários e bônus são publicados – tanto que, no mês passado, o jornal The New York Times fez um ranking dos executivos mais bem pagos do país.

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Governança corporativa passa por reflexão

Apontada até recentemente como uma estrela da internacionalização de empresas brasileiras, a Sadia acumulou uma dívida tão alta que precisou ser incorporada pela rival Perdigão, operação que foi anunciada na semana passada. Nos bastidores, acionistas e executivos travam uma queda de braço para apontar os culpados pela aposta atrapalhada em derivativos cambiais que levou a companhia a um prejuízo de quase R$ 2,5 bilhões em 2008. Coisa parecida acontece com a Aracruz e outras empresas ao redor do mundo que perderam fortunas no mercado financeiro. Em todos os casos, uma coisa é certa: o sistema de governança corporativa falhou ao não evitar que a companhia assumisse riscos elevados.

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As vozes mais críticas na análise sobre a origem da crise econômica apontam para uma falha moral nas corporações. A tese é a de que muitas empresas, em especial os bancos dos Estados Unidos e da Inglaterra, deixaram de cumprir suas funções sociais básicas para se concentrar apenas nos resultados de curto prazo que influenciavam o comportamento de suas ações.

A acusação não vale só para bancos. Outras companhias teriam deixado seus departamentos financeiros ganharem força por apresentarem ganhos que tonificavam balanços e, por consequência, o bônus pago aos executivos. Os casos mais mais conhecidos pelos brasileiros foram os da Sadia e da Aracruz, companhias abertas que registraram prejuízos bilionários porque fizeram contratos de derivativos cambiais cujas perdas podiam ser virtualmente infinitas.

Assim como os bancos de investimentos dos EUA elevaram suas posições em derivativos de hipotecas, as empresas brasileiras descobriram de uma hora para a outra que o risco havia sido mal avaliado a ponto de levar seus negócios à beira de um precipício. Para alguns analistas, esse seria o sinal de que o modelo de gestão voltado apenas para os acionistas é insustentável por não colocar em primeiro plano as responsabilidades que as corporações têm dentro da sociedade.

"Não há dúvida de que a área financeira ganhou poder dentro das empresas à medida que a intermediação ficou mais complexa do que as próprias companhias", diz Francisco Gomide, consultor com passagem pela presidência da Copel e pela diretoria de outras empresas do setor elétrico. "Os instrumentos financeiros viraram uma maneira rápida de dar valor para as ações, já que as cotações são muito influenciadas no curto prazo pela relação entre o preço do papel e o lucro da empresa."

O problema por trás dessa estratégia de gestão é que as companhias assumem todas as distorções que existem no cálculo de riscos financeiros – sujeitos a viradas inesperadas. "A crise mostrou que existem falhas sistêmicas de administração. O gestor age sob pressão para criar valor ao acionista e acaba assumindo riscos, ao mesmo tempo em que o sistema de governança das companhias não acompanha o processo de maneira adequada", resume Cláudio Antônio Pinheiro Machado Filho, professor de Administração da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA/USP).

Ideologias

Por trás das falhas sistêmicas escancaradas pela crise, há uma discussão ideológica. Uma corrente diz que existe um problema fundamental no modelo de gestão voltado para o acionista e que ele precisa ser substituído por outro, que atenda a todos os interessados no negócio – funcionários, fornecedores, governo, etc. O pano de fundo da disputa não é se uma empresa deve ou não dar lucro, mas sim a lista de prioridades na busca de retorno.

O professor de Administração da Fundação Getulio Vargas (FGV) Joaquim Rubens Fontes Filho pondera que a crítica ao modelo que privilegia o acionista não leva em conta que as companhias cumprem as suas obrigações sociais antes de apresentar resultados. "Elas pagam impostos, os funcionários, cumprem a legislação e depois remuneram o acionista. É uma obrigação óbvia não gerar prejuízo para a sociedade ao buscar o próprio lucro."

Para Fontes, porém, a crise deve levar a uma reflexão sobre como o risco faz parte da responsabilidade social das corporações. "Mesmo que os acionistas concordem em correr riscos elevados, é preciso levar em conta que a companhia existe dentro da sociedade", diz.

Márcio Kaiser, coordenador da seção paranaense do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), prefere separar a administração de risco da responsabilidade corporativa. "A responsabilidade está mais ligada a ações da companhia nas áreas social e ambiental e que contribuem para sustentabilidade do negócio no longo prazo."

Na prática, as companhias muitas vezes precisam encontrar um equilíbrio entre os dois modelos, explica Pedro Luiz Fernandes, presidente no Brasil da dinamarquesa Novozymes: "É normal a cobrança dos acionistas, ao mesmo tempo em que estamos inseridos em uma cadeia de relações de confiança", comenta. Transferir a pressão para clientes, por exemplo, ou assumir riscos elevados no setor financeiro, podem quebrar essa corrente.

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