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A crise financeira global chegou com força à indústria brasileira, derrubando a produção em outubro e reforçando as apostas de manutenção da taxa de juro pelo Banco Central na última reunião de 2008, mostraram dados divulgados nesta terça-feira.

A produção das fábricas instaladas no país caiu 1,7% em outubro, o recuo mais acentuado registrado desde novembro do ano passado, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), responsável pelo cálculo.

A queda foi muito mais forte do que o previsto por analistas consultados pela Reuters, que esperavam um recuo de 0,3%.

Para Silvio Salles, economista do IBGE, o desempenho reflete algumas das medidas adotadas pelo setor para tentar combater os principais efeitos da crise financeira, que se arrasta há mais de um ano e teve seu pico em outubro.

"O primeiro efeito da crise mundial sobre a indústria foi tornar os agentes mais cautelosos por conta da escassez de crédito e indefinições sobre o câmbio", disse Salles, ao destacar que algumas empresas do setor concederam férias coletivas e interromperam a produção em algumas unidades.

O economista Flávio Serrano, do Bes Investimento, também concorda que os dados mostram, claramente, o efeito da crise internacional sobre a atividade industrial do país.

"Os dados de outubro mostram os primeiros sinais da crise na atividade doméstica... você vinha em um patamar muito forte anteriormente e com a questão da turbulência (global), as vendas de bens duráveis, de veículos caíram muito rapidamente", disse.

O segmento de bens duráveis foi onde ocorreu a maior predominância das férias coletivas, segundo disse Salles do IBGE, em especial nos setores de produção de automóveis e motos. As paradas de produção foram mais observadas nos bens intermediários, setor mais importante da indústria nacional.

PERDENDO FÓLEGO

O desempenho da indústria na comparação anual também ficou abaixo do esperado. A produção de outubro ficou apenas 0,8 por cento acima do verificado no mesmo mês do ano passado, o pior resultado, neste tipo de comparação, desde dezembro de 2006.

"Essa brecada do setor reflete um segmento que está bastante estocado, diante de uma expectativa de retração da demanda", disse Newton Rosa, economista-chefe da Sulamérica Investimento, acrescentando que acredita em manutenção dessa tendência de desaceleração do ritmo de atividade do setor.

"A produção do quarto trimestre vai ser inferior à do terceiro trimestre", sentenciou.

A retração na atividade industrial aponta para um cenário mais incerto da economia brasileira e, no entender dos analistas, reforça as apostas de manutenção da taxa de juro na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) deste ano, que acontece na próxima semana.

"Isso não altera a decisão (do Copom) de dezembro, é muito cedo", ponderou Newton Rosa, que aposta em manutenção do juro no atual patamar de 13,75 por cento ao ano.

Outro dado que contribui para a consolidação do cenário de juro inalterado foi a inflação na cidade de São Paulo em novembro, que subiu 0,39%, abaixo das estimativas de analistas e do verificado em outubro.

"O IPC-Fipe mostra um processo de ajuste dos alimentos, que subiram muito rapidamente e agora estão perdendo impulso", disse Flávio Serrano, do Bes. "É pouco provável o Copom fazer qualquer alteração no juro na semana que vem, diante do cenário ainda incerto", ponderou o economista.

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