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A fabricante de não tecidos Providência foi a última empresa paranaense a lançar ações em bolsa de valores, em 2007. Depois, crises externas e fatores locais inibiram IPOs | Giuliano Gomes/Gazeta do Povo
A fabricante de não tecidos Providência foi a última empresa paranaense a lançar ações em bolsa de valores, em 2007. Depois, crises externas e fatores locais inibiram IPOs| Foto: Giuliano Gomes/Gazeta do Povo

Alternativa

Para captar dinheiro, empresas recorrem a fundos

A volatilidade dos mercados serviu de reflexão para alguns players. Impedidas de abrirem capital sob o risco de serem precificadas abaixo do patamar desejado, empresas começaram a repensar o IPO como fonte de recursos. Até porque deixar de abrir capital não elimina a necessidade de expansão das organizações.

Para algumas, a alternativa escolhida foi a captação de recursos via fundos de private equity. Como eles estão líquidos e cheios de caixa para aquisições, é natural que as duas pontas se encontrem. A Camil Alimentos, por exemplo, após solicitar a interrupção do processo e ter a oferta cancelada pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), decidiu seguir esse caminho. O quarto fundo de private equity gerido pela Gávea Investimentos, de Armínio Fraga, passou a deter uma participação minoritária de 31,75% nas ações da empresa.

De acordo com Dortas, da consultoria Ernst & Young, como o mercado de IPOs está "seco", as empresas tendem a recorrer aos fundos de private equity. "Nossa área de transações, que faz due dilligence [espécie de auditoria feita em empresas antes do fechamento de um negócio] para os fundos de private equity, está super ocupada", conta ele. "Isso é sinal de que as operações não públicas estão muito ativas", acrescenta Dortas.

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Para quem esperava perto de 30 novas empresas dando as caras na bolsa de valores, 2011 está rumando para um fim decepcionante. Até o momento, foram registradas apenas 11 aberturas de capital, o mesmo número do ano passado. Como há prazos a serem cumpridos, há pouca chance de alguma companhia arriscar-se no mercado antes do ano novo. "Não devemos ter nenhuma novidade. A certeza maior é para 2012", confirma o presidente da BM&FBovespa, Edemir Pinto. Entre as empresas paranaenses, a maré parece ser excepcionalmente baixa: a última oferta pública inicial foi em 2007.

Oficialmente, 13 organizações já recuaram na tentativa de se listarem na BM&FBovespa. Bancos, corretoras, consultorias, auditorias e demais agentes do mercado de capitais iniciaram 2011 confiantes. Ninguém esperava quebrar o recorde de 64 operações, atingido em 2007, mas havia a es­­pe­­rança de superar os 30 IPOs (sigla em inglês para Oferta Pública Inicial).

No segundo semestre, entretanto, somente a fabricante de relógios Technos e a Abril Edu­cação fizeram um IPO. Desde a retomada do mercado, em 2004, a última vez que o mercado de capitais teve um período tão seco foi na segunda metade de 2008 – na época, nenhuma organização se arriscou a abrir capital. As empresas que resolverem se aventurar ainda em 2011 têm poucos dias para iniciar o processo. "Temos até a segunda semana de dezembro para precificar um IPO. Fazendo as contas de trás para frente, o mais tarde que uma companhia pode lançar um IPO é a última semana de novembro", diz o presidente do Credit Suisse, José Olym­pio Pereira.

A principal razão de tanta timidez está no cenário internacional. As empresas procuram o mercado para obter recursos que serão aplicados em novos projetos, expansões. Com o preço das ações em baixa, a tendência é que obtenham valores menores, mas com custos iguais ou até superiores. Assim, os planos vão ficando para depois.

Paraná

No caso das empresas paranaenses há ainda razões adicionais. Uma delas é histórica: ao longo das últimas duas décadas, muitas grandes empresas locais trocaram de mãos e ficaram com seu centro de decisão fora do estado ou mesmo do país. "O papel das unidades locais continuou importante na área operacional, mas não sob o ponto de vista da gestão financeira", observa o professor Christian Luiz da Silva, da Univer­­­­sidade Tecnológica Fede­ral do Paraná (UTFPR).

A ênfase na atração de indústri­­as também influencia o ambiente de negócios. "Parece que o Paraná não tem uma política de desenvolvimento que privilegie o crescimento da indústria já existente", diz o economista Fábio Dória Scatolin, professor da Uni­ver­sidade Federal do Paraná. "O governo atual está empenhado apenas em atrair empresas estrangei­ras." Aliada à situação do câmbio, que é mais favorável à importação, essa condição inibe o crescimento da indústria. "A maior parte das empresas industriais no país está em posição defensiva. No Paraná, muitas estão se transformando em importadoras", comenta.

Grandes empresas que permanecem em mãos de grupos familiares, como as redes supermercadistas Muffato e Condor e o grupo O Boticário, entre outros, seriam candidatos naturais, por seu porte, à abertura de capital. Mas eles contam com outras fontes de financiamento. "Eles conseguem recursos de outras fontes para se capitalizar e não precisam ir à bolsa, onde teriam de dividir a gestão com outros agentes", diz Silva.

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