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Crise? Que crise?

Contabilizando outros momentos difíceis, empresários apostam que é possível crescer, apesar das turbulências econômicas

Veja os baques que cada setor sofreu, que pareciam o fim do mundo |
Veja os baques que cada setor sofreu, que pareciam o fim do mundo (Foto: )

Empresários de vários setores estão fugindo do senso comum de que a pior crise é sempre a atual. Tarimbados com percalços anteriores, como moratória brasileira, confisco de poupança no governo Collor, quebra da Encol, crises asiática e russa, maxidesvalorização do real, gripe aviária, febre aftosa e caos aéreo, eles dizem que é possível sobreviver, sem muitos traumas, às turbulências provocadas pela pior crise do capitalismo desde 1929. Mesmo sem saber onde esta crise vai parar, e qual será o efeito dela na economia real, os empresários querem driblar os prognósticos ruins dos especialistas e de alguns dados que apontam desaquecimento na produção.

O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil deve crescer 5% neste ano – na melhor das perspectivas –, após a variação de 5,4% de 2007. A partir desses dados, o governo federal projeta alta de 4% na economia brasileira em 2009. E são esses dados que, apesar de indicarem desaceleração econômica, alimentam o sonho do empresariado de que é possível enfrentar a crise de cabeça erguida. "Crise foi lá atrás", diz Ramon Andres Doria, presidente da Doria Construções, com 43 anos de carreira. "No início da década de 90, além do confisco da poupança, que deixou todo mundo sem recurso algum, tivemos problemas com a Caixa Econômica, que parou de honrar os contratos com as construtoras, alegando falta de recursos. Imagine só, a gente tocando obra e, de repente, estava sem dinheiro."

O setor vive situação parecida atualmente, já que o temor de uma recessão global levou os agentes financeiros a restringir o crédito. "O consumidor ainda conta com as mesmas taxas de juros que existiam antes da crise e nossos lançamentos, pelo menos, estão sendo mantidos. Nossos fornecedores dizem que não houve redução no número de pedidos, então acho que minha visão é condizente com a realidade", acrescenta. Outro empresário do ramo, Luis Napoleão Filho, proprietário do grupo imobiliário LN, também diz que a construção civil deve se manter em alta. "Não vejo uma crise tão grande. Com o déficit de moradias no Brasil, há muito o que construir." De acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), 54 milhões de brasileiros não têm condições de moradia adequada. Outra fase difícil, a quebra da construtora Encol (1997), a qual lesou milhares de brasileiros, gerou problemas para o setor que se arrastaram por quase sete anos.

Dólar

A variação cambial das últimas semanas, que levou a cotação do dólar de R$ 1,55, no início de agosto, a R$ 2,39 dois meses depois, impactou fortemente no turismo. Há dez dias, a moeda norte-americana vem caindo, e fechou a semana próxima de R$ 2,12. A procura por viagens ao exterior, que vinha crescendo cerca de 30% neste ano, sofreu um baque. De acordo com o presidente da Associação Brasileira de Agências de Viagens no Paraná (Abav-PR), Antonio de Azevedo, o segmento mais prejudicado foi o de turismo de negócios. "Os executivos estão viajando menos e algumas empresas cancelaram treinamentos."

Mesmo assim, o faturamento do setor de turismo tende a crescer, apenas em ritmo menor do que no resto do ano. Um dos fatores positivos no momento é que o real está mais valorizado do que seus congêneres latino-americanos. "Ainda é bem vantajoso viajar para a Argentina e Chile, e por isso o turismo de lazer não deve se abalar tanto", afirma. Inovação e promoções também devem contribuir para que os clientes mantenham a intenção de viajar, diz Azevedo. A operadora CVC, por exemplo, fixou o valor do dólar em R$ 1,99 nas opções de cruzeiro marítimo. "O dólar abaixo de R$ 2 tem um atrativo psicológico bastante forte. E nem está muito acima da cotação de um ano atrás, que era por volta de R$ 1,80."

O turismo já passou por uma grande prova de fogo, que foram os ataques de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos. A retração foi global, e muitas empresas aéreas entraram em processo de falência. No Brasil, o contratempo mais recente foi o caos aéreo, que teve início no segundo semestre de 2006. "O nosso setor é o primeiro a sofrer com crises, mas também é o primeiro a registrar a recuperação. Com certeza não demorá tanto dessa vez, pois o Brasil vinha de um contexto muito positivo."

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