Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Saúde privada

Custo de planos dobra em 6 anos

Despesa das operadoras de saúde passou de R$ 30 bilhões, em 2005, para R$ 58 bilhões, em 2010, mas receita teve crescimento proporcionalmente semelhante

Equilibrar custo e receita para aumentar valor pago aos médicos é o grande desafio das Unimeds no Paraná | Rodolfo Buhrer / Arquivo
Equilibrar custo e receita para aumentar valor pago aos médicos é o grande desafio das Unimeds no Paraná (Foto: Rodolfo Buhrer / Arquivo)
Confira os dados da OMS referentes aos gastos do Brasil com saúde |

1 de 2

Confira os dados da OMS referentes aos gastos do Brasil com saúde

Confira as despesas das operadoreas de planos de saúde |

2 de 2

Confira as despesas das operadoreas de planos de saúde

Nos últimos seis anos, a despesa assistencial das operadoras, aquela gasta com exames, consultas e cirurgias, quase dobrou, passando de R$ 30 bilhões para R$ 58 bilhões, segundo a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), acompanhando de perto a evolução da receita, que passou de R$ 37,3 bilhões para R$ 73 bilhões. Segundo operadoras e especialistas da área, isso se deve à maior utilização do sistema, fruto de uma melhor regulação e do envelhecimento da população ao longo do tempo, além do aumento dos custos com medicamentos, materiais e equipamentos. Grande parte desses insumos é importada – pesquisa da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostrou que o Brasil é o segundo maior mercado potencial para materiais e equipamentos médico-hospitalares – ou mesmo sujeita a altas cargas tributárias: 33,9% do valor dos medicamentos de uso humano são tributos, segundo o Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT), enquanto que em países como os Estados Unidos esse número é igual a zero. A subida constante dos custos com saúde acima da inflação, segundo o coordenador do Centro Paulista de Economia da Saúde da Universidade Federal de São Paulo (CPES-Unifesp), Marcos Bosi Ferraz, não é algo específico do Brasil. Mas o país apresenta algumas particularidades: gastou 8,4% do seu Produto Interno Bruto (PIB) com saúde em 2008, segundo a OMS, o mesmo que os países desenvolvidos gastavam na década de 1980, de acordo com Ferraz – os gastos privados e públicos somados dos Estados Unidos no setor foram de 15,2% do PIB em 2008.

Ao mesmo tempo, o Brasil possui três dos principais indicadores do setor – expectativa de vida, mortalidade infantil e materna – em nível comparável ao dos países desenvolvidos na década de 1960. Além disso, os países ricos demoraram cerca de 50 anos para dobrar sua população de 60 anos, enquanto nações como o Brasil levarão apenas 20 – em 2000 essa parcela representava 8,1% da população, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mas em 2030 ela será de 18,7%. "A conclusão é de que a demanda é muito grande para um sistema pouco estruturado. Nós queremos tudo do bom e do melhor, mas com um bolso de 30 anos atrás para tratar problemas de 50 anos atrás", observa o coordenador. As conquistas tecnológicas são uma realidade, mas ainda há crianças morrendo de diarréia. A pergunta, então, é: como alocar recursos para atender prioridades? "É em torno desse questionamento, das nossas limitações econômicas, na forma como tomamos nossas decisões e gastamos nosso dinheiro, é que está a resposta para um sistema de saúde suplementar e público melhores", avalia Ferraz.

Fiscalização

Mais ação pró-ativa da ANS e metas não de curto, mas de longo prazo são parte da resposta. Desde 2000, quando foi criada, a agência trouxe mais segurança para o consumidor, com regras como a extinção de limites para procedimentos, e profissionalização, com normas como o rol de procedimentos obrigatórios para cada tipo de plano. Com isso, o número de operadoras em atividade passou de 2.639 em 1999 para 1.618 em dezembro do ano passado. "É uma consolidação de um sistema que avançou bastante na relação planos-consumidores, mas que precisa melhorar suas ações nas relações planos-prestadores e prestadores-consumidores", avalia Ferraz.

Com ao menos três grupos de trabalho em funcionamento e duas consultas públicas em andamento, o órgão está buscando esse avanço, mas, segundo o professor, falta agilidade em pontos-chaves, como a revisão dos contratos das operadoras – as dez empresas verificadas em uma primeira fase da iniciativa, em junho do ano passado, mostraram irregularidades em todos os contratos, reforçando a necessidade de fiscalização mais intensa. A ANS foi procurada pela reportagem ao longo de toda a semana passada, mas não se manifestou.

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.