• Carregando...
Equilibrar custo e receita para aumentar valor pago aos médicos é o grande desafio das Unimeds no Paraná | Rodolfo Buhrer / Arquivo
Equilibrar custo e receita para aumentar valor pago aos médicos é o grande desafio das Unimeds no Paraná| Foto: Rodolfo Buhrer / Arquivo

Unimed-PR

Maior operadora do estado precisa equilibrar contas

Equilibrar custos e receita a ponto de conseguir aumentar o valor pago aos médicos por cada procedimento é um dos principais desafios das 22 unidades da Unimed do Paraná, segundo o diretor-presidente da Federação, o médico Orestes Barrozo Pullin. As cooperativas têm 1,3 milhão de beneficiários, quase metade do contingente de 2,4 milhões de pessoas que usam planos no estado. Ao longo do imbróglio entre operadoras e médicos pelo reajuste dos honorários dos profissionais nos últimos dois meses, a Unimed tem sido altamente criticada, justamente por ser uma cooperativa de médicos. "É claro que nosso principal interesse é lutar pela boa prática e remuneração médica, mas para isso temos de vencer uma equação para a qual não temos, ao menos sozinhos, a solução". Pullin frisa que a entidade acredita na valorização do atendimento médico-paciente até mesmo para melhorar a eficiência dos diagnósticos e baixar custos com novas consultas e exames, mas que o setor precisa de uma evolução mais profunda e que envolve outros atores que não a cooperativa.

A última pesquisa feita pela Federação no estado mostra que o valor médio de consulta era de R$ 47,54, em dezembro de 2010. "Hoje essa média deve estar próxima de R$ 48. Isso acontece porque tenho singulares (como são chamadas as 22 cooperativas do estado) pagando até R$ 80 e outras pagando na faixa dos R$ 30. Cada uma tem sua particularidade e que é discutida, em assembleia, pelos médicos que fazem parte dela. Não cabe à Unimed Paraná reajustar o valor", explica Pullin. (FZM)

Mais apoio técnico na prescrição de remédios

Em novembro do ano passado, uma pesquisa da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANS) com 700 médicos, gestores e responsáveis por farmácias de 15 capitais brasileiras mostrou que 67% dos médicos consideram as informações de propaganda da indústria de medicamentos na hora da prescrição e que 37,7% deles admitiam estar sujeitos à influência das propagandas, no geral. No campo dos materiais médico-hospitalares o poder de influência do assédio das empresas seria parecido, segundo os especialistas.

Leia a matéria completa

  • Confira os dados da OMS referentes aos gastos do Brasil com saúde
  • Confira as despesas das operadoreas de planos de saúde

Nos últimos seis anos, a despesa assistencial das operadoras, aquela gasta com exames, consultas e cirurgias, quase dobrou, passando de R$ 30 bilhões para R$ 58 bilhões, segundo a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), acompanhando de perto a evolução da receita, que passou de R$ 37,3 bilhões para R$ 73 bilhões. Segundo operadoras e especialistas da área, isso se deve à maior utilização do sistema, fruto de uma melhor regulação e do envelhecimento da população ao longo do tempo, além do aumento dos custos com medicamentos, materiais e equipamentos. Grande parte desses insumos é importada – pesquisa da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostrou que o Brasil é o segundo maior mercado potencial para materiais e equipamentos médico-hospitalares – ou mesmo sujeita a altas cargas tributárias: 33,9% do valor dos medicamentos de uso humano são tributos, segundo o Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT), enquanto que em países como os Estados Unidos esse número é igual a zero. A subida constante dos custos com saúde acima da inflação, segundo o coordenador do Centro Paulista de Economia da Saúde da Universidade Federal de São Paulo (CPES-Unifesp), Marcos Bosi Ferraz, não é algo específico do Brasil. Mas o país apresenta algumas particularidades: gastou 8,4% do seu Produto Interno Bruto (PIB) com saúde em 2008, segundo a OMS, o mesmo que os países desenvolvidos gastavam na década de 1980, de acordo com Ferraz – os gastos privados e públicos somados dos Estados Unidos no setor foram de 15,2% do PIB em 2008.

Ao mesmo tempo, o Brasil possui três dos principais indicadores do setor – expectativa de vida, mortalidade infantil e materna – em nível comparável ao dos países desenvolvidos na década de 1960. Além disso, os países ricos demoraram cerca de 50 anos para dobrar sua população de 60 anos, enquanto nações como o Brasil levarão apenas 20 – em 2000 essa parcela representava 8,1% da população, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mas em 2030 ela será de 18,7%. "A conclusão é de que a demanda é muito grande para um sistema pouco estruturado. Nós queremos tudo do bom e do melhor, mas com um bolso de 30 anos atrás para tratar problemas de 50 anos atrás", observa o coordenador. As conquistas tecnológicas são uma realidade, mas ainda há crianças morrendo de diarréia. A pergunta, então, é: como alocar recursos para atender prioridades? "É em torno desse questionamento, das nossas limitações econômicas, na forma como tomamos nossas decisões e gastamos nosso dinheiro, é que está a resposta para um sistema de saúde suplementar e público melhores", avalia Ferraz.

Fiscalização

Mais ação pró-ativa da ANS e metas não de curto, mas de longo prazo são parte da resposta. Desde 2000, quando foi criada, a agência trouxe mais segurança para o consumidor, com regras como a extinção de limites para procedimentos, e profissionalização, com normas como o rol de procedimentos obrigatórios para cada tipo de plano. Com isso, o número de operadoras em atividade passou de 2.639 em 1999 para 1.618 em dezembro do ano passado. "É uma consolidação de um sistema que avançou bastante na relação planos-consumidores, mas que precisa melhorar suas ações nas relações planos-prestadores e prestadores-consumidores", avalia Ferraz.

Com ao menos três grupos de trabalho em funcionamento e duas consultas públicas em andamento, o órgão está buscando esse avanço, mas, segundo o professor, falta agilidade em pontos-chaves, como a revisão dos contratos das operadoras – as dez empresas verificadas em uma primeira fase da iniciativa, em junho do ano passado, mostraram irregularidades em todos os contratos, reforçando a necessidade de fiscalização mais intensa. A ANS foi procurada pela reportagem ao longo de toda a semana passada, mas não se manifestou.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]