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O Brasil tem a sexta maior reserva de urânio do mundo e atualmente é um dos maiores exportadores do material. Além disso, tem um potencial enorme na exploração da biomassa e do uso da tecnologia de energia solar e eólica. Conhecidas como energias de "baixo carbono", estas fontes se somam às hidrelétricas entre as consideradas limpas. Mas as coisas não são tão simples nos países desenvolvidos, que têm matrizes bem mais "sujas". Para as maiores economias do mundo, o maior desafio para uma revolução na matriz ainda é o custo de transição, que é elevado.

"Quando os países não têm um potencial hidrelétrico como o do Brasil – que explorou apenas um terço de todo o seu potencial – para implantar a energia limpa, fica complicado. A biomassa precisa ter um fornecimento contínuo para ser vantajosa. A energia solar e eólica, além de caras, não são suficientes para atender as necessidades dos países. Por essas razões, os países acabam optando pelas usinas nucleares", salienta Francisco Gomide, ex-presidente de Companhia Paranaense de Energia (Copel) e da Itaipu Binacional.

Atualmente, 443 usinas nucleares estão instaladas em 29 países, segundo a Associação Nuclear Mundial. Em 2030, deverão ser 844 em 47 nações – já descontadas as 143 usinas que devem ser fechadas devido ao término da vida útil, de acordo com a associação. Com base nos planos para os próximos 20 anos e nas dificuldades em se instalar outras matrizes, especialistas avisam que não se deve esperar mudanças no cenário no curto prazo.

"O acidente no Japão serve como alerta para que os países revisem seus conceitos de segurança em torno das usinas. O Brasil tem uma variedade muito grande de fontes de energia e agora os países precisam decidir se o custo dessas fontes é satisfatório, avaliando riscos e benefícios", analisa o engenheiro eletricista Renato Creppe, da Unesp.

Mais segurança

Os protestos ocorridos na Alemanha, que atualmente opera 17 usinas nucleares, fizeram com que o governo apontasse para uma revisão da política energética do país, mas o cenário de mudanças pode ser temporário, segundo especialistas. "Depois do acidente as pessoas foram às ruas, mas elas estão sob o choque. Passando um tempo, as paixões se amenizam e elas vão esquecendo. O processo de desabilitação de uma usina nuclear é caríssimo, fica uma fortuna descontaminar todos os componentes, concretar o que sobrou. Agora haverá tecnologia com novas versões de segurança para os programas nucleares", diz Gomide.

Para exemplificar que o susto com o incidente nuclear é passageiro, o professor da PUCPR Edival de Morais compara o que ocorreu nas usinas japonesas aos acidentes aéreos. "Quando temos a notícia da queda de um avião, as pessoas a princípio ficam com medo de viajar. Passa-se um tempo, as companhias aéreas reveem suas ações e logo em seguida tudo se normaliza. As revisões devem acontecer agora nas usinas, com inclusão de novas tecnologias. Com isso, haverá mais segurança para evitar novos acidentes", explica o físico.

Essas novas medidas de segurança, porém, tendem a aumentar o preço da instalação das usinas e inibir o surgimento de novas plantas nucleares. "O que fazer com o resíduo e como operar com mais segurança as usinas são dilemas que devem encarecer o modelo. Essas questões compõem o preço real da operação. Incorporar outras opções de segurança fará a usina encarecer e é preciso saber se a sociedade está disposta a pagar este preço", ressalta Creppe.

Brasil perde

Frear esta demanda por urânio, porém, pode ser prejudicial para um país como o Brasil, com reservas estimadas em 309 mil toneladas. "O Brasil pode perder neste cenário, porque é um bom negócio vender urânio, enriquecido ou não. Mas para países da Europa é praticamente impossível substituir por completo essa fonte. Mesmo que a Alemanha desative suas usinas, a França tem muitas outras, inclusive próximo à fronteira dos dois países. Os países podem até não expandir seu programa nuclear, mas as usinas continuarão sendo uma fonte de complementação da matriz energética", avalia Luiz Fernando Leone Vianna, presidente do conselho de administração da Associação Brasileira dos Produtores Independentes de Energia Elétrica (Apine).

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