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O presidente da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), Marcelo Trindade, disse, nesta quinta-feira, que outros 24 investidores estão na mira da autarquia no caso da compra da Ipiranga. Além deles, um investidor pessoa física brasileiro e um fundo de investimentos estrangeiro tiveram suas contas bloqueadas por suspeita de uso de informação privilegiada, elevando para 26 o total de investigados pela CVM e pelo Ministério Público Federal.

Vinte e três destes investidores realizaram operações consideradas suspeitas com os papéis com direito a voto (ações ordinárias, ON) da Refinaria Ipiranga. Um outro é considerado suspeito de movimentações com papéis similares da Distribuidora Ipiranga. Segundo Trindade, passa de 100 o número de pessoas diretamente ligadas à operação e que detinham, portanto, informações privilegiadas.

Na noite dessa quarta-feira, o Ministério Público Federal acatou um pedido feito pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) de bloqueio das contas do fundo de investimentos offshore e de um investidor pessoa física brasileiro suspeitos de uso de informação privilegiada (insider trading) na negociação de ações ON da Ipiranga.

Ambos teriam concentrado as operações com os papéis da Refinaria e da Distribuidora Ipiranga entre os dias 14 e 16 deste mês, antes, portanto, do anúncio, no último domingo, da compra da companhia por Petrobras, Braskem e Grupo Ultra. Apenas o fundo de investimento teria negociado 20% do volume total com os papéis das empresas do grupo Ipiranga nestes dias. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que pediu à CVM, órgão subordinado ao seu ministério, rapidez e rigor máximos na investigação.

Nesta quinta-feira, o presidente da CVM deu mais detalhes sobre os dois investidores que tiveram suas contas bloqueadas. O fundo estrangeiro tem sede em Belaware, nos Estados Unidos, e teria lucrado cerca de 40% nas operações com os papéis da Ipiranga. A identidade do investidor pessoa física não foi e nem será divulgado, já que o processo corre sob segredo de Justiça, mas Trindade informou que o aplicador, que é brasileiro, obteve um lucro de 69% na negociação dos papéis.

Trindade explicou que o fundo de investimento não vendeu todas as ações que foram compradas com as informações privilegiadas. Já o investidor pessoa física vendeu 100% do que comprou. Por isso, como o dinheiro entraria em caixa na manhã desta quinta-feira, a CVM pediu, nessa quarta-feira, o bloqueio das contas.

- Nosso objetivo era evitar que eles realizassem os ganhos da operação.

A primeira fase de investigação deve ser concluída em cerca de 90 dias.

Indenização

A CVM e o MP Federal vão propor, juntos, daqui a 30 dias, uma ação de indenização pública para ressarcir o mercado dos prejuízos decorrentes de informações privilegiadas na negociação de papéis com direito a voto (ordinários, ON) da Ipiranga, entre os dias 14 e 16 de março, antes do anúncio da venda da empresa. Apenas na última sexta-feira, os papéis da Ipiranga Distribuidora subiram 33,33% e os da Ipiranga Refinaria avançaram 8,31%. Um movimento anormal deu início a uma investigação na CVM, já na segunda-feira.

- O dano do 'insider trading' não é apenas financeiro, pois o investidor pessoa física olha (para o movimento anormal de ações no mercado e o eventual lucro de alguns participantes) e pensa: que mercado é esse.

O sentimento é de que, se ele tivesse vendido as ações na sexta-feira, teria sido roubado. Mas, que fique bem claro, aqui (mercado de capitais) não é a "casa da mãe Joana". Quem fizer uso de insiders não vai ter que lidar apenas com a CVM, mas também com o Ministério Público e com a Justiça Federal, disse o presidente da autarquia, Marcelo Trindade.

Durante entrevista concedida nesta quinta-feira, o presidente da CVM disse acreditar que, nos últimos dois anos, o vazamento de informações e conseqüente uso de informações privilegiadas superou os 25% no caso de operações de fusões e aquisições realizados no Brasil. Segundo ele, pesquisa realizada recentemente na Inglaterra mostrou percentual similar em operações do gênero. A CVM tem hoje sob investigação sete casos de insider trading, entre eles o da Ipiranga.

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