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João Nilson Borges pediu demissão do setor de crédito do HSBC: “Não tinha o que fazer”. | Antonio Costa/Gazeta do Povo
João Nilson Borges pediu demissão do setor de crédito do HSBC: “Não tinha o que fazer”.| Foto: Antonio Costa/Gazeta do Povo

Se até meados do ano muitas empresas disputavam a tapas profissionais no mercado, a crise já provoca uma inversão desse quadro no último trimestre. Para especialistas, vai ficar mais difícil encontrar uma colocação a partir de agora. Em tempos de turbulência, as empresas tendem a ficar mais exigentes e seletivas e os salários, achatados.

Gino Oyamada, sócio e diretor regional da Fesa, empresa de recrutamento de executivos, prevê um período de represamento de contratações, que deve se manter durante o primeiro semestre de 2009. "Mas a estimativa é que o ritmo volte com uma força superior ao do período pré-crise. O Brasil, de toda a forma, tem a seu favor o fato de ser um dos países menos afetados pelos problemas mundiais. Vamos continuar a crescer e os investimentos serão retomados", afirma.

Os efeitos do choque global sobre o mercado de trabalho brasileiro, no entanto, vão além e já provocam mudanças no perfil do executivo desejado pelas empresas. Os recentes casos de companhias que tiveram prejuízos bilionários com operações arriscadas de derivativos cambiais, como Sadia, Aracruz e VCP, colocaram em xeque a procura por profissionais mais arrojados, dispostos a fazer investimentos de alto risco. "O mercado quer agora aqueles que são bons em entender a operação da empresa na economia real, em fazer planejamento de longo prazo", diz Oyamada.

Uma outra tendência que já era sentida antes da crise e que agora ganha força é a contratação de executivos na faixa dos 50 anos. "Um pouco de cabelo branco, uma bagagem de vida maior, com experiência em administrar outras crises, ganham pontos agora, algo impensável nos últimos anos", diz.

Em tempos de recessão nos Estados Unidos e na Europa e crescimento menor no Brasil, a remuneração dos cargos executivos também passará por ajustes. Os altos salários e a era dos bônus que formaram uma nova geração de jovens executivos milionários no país também acabaram, segundo Oyamada. "O que de certa forma é bom, porque estávamos concentrando renda. Hoje, o foco das empresas é trabalhar em patamares muito mais realistas, com objetivos de médio e longo prazo", diz.

Além do mundo dos executivos, a vida de quem procura o primeiro emprego ou tem baixa qualificação também não será fácil daqui para frente. Segundo Christian Majczak, da Go4! Consultoria, o "preconceito" no mercado de trabalho aumenta em tempos de crise, com maior restrição também a pessoas da terceira idade.

"Estou muito pessimista quanto ao mercado de trabalho. Com a instabilidade da economia, o emprego se torna instável também", diz o técnico em serviços bancários João Nilson Pereira Borges, de 26 anos, que está à procura de uma colocação. Ele, que atuava no serviço de liberação de crédito do banco HSBC, é um exemplo dos efeitos da crise sobre a economia real. Com os bancos diminuindo as operações de crédito, quem trabalha na área vem sofrendo. "Não tinha o que fazer", diz ele, que pediu demissão juntamente com outros três colegas. Formado em administração de empresas, ele já pensa em montar seu próprio negócio, pois diz acreditar que será cada vez mais difícil conseguir um emprego com carteira assinada.

Apesar de os efeitos da crise atingirem a economia de maneira geral, alguns setores devem ser menos afetados, apontam os dois analistas. Empresas do setor de serviços, da área de tecnologia da informação e de bens de consumo imediato – como alimentos e produtos de higiene, por exemplo – podem ser um reduto de oportunidades em um cenário menos favorável nos próximos meses.

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