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Tenho um amigo que, nos últimos meses, tornou-se um aficcionado do mercado de ações. Ele trabalha em frente ao computador, e o navegador da sua máquina tem uma janela sempre aberta no home broker de seu banco – home broker, para quem não é familiarizado, é o sistema de compra e venda de papéis via internet, operado pelas corretoras. Ele não opera com grandes valores, mas de vez em quando conta de um negócio que lhe rendeu um bom resultado.

Personagens como este estão se tornando raros nos últimos tempos, e não é difícil entender por que. A bolsa brasileira não está em um bom momento – só este ano, a queda acumulada do Ibovespa, principal índice brasileiro, está em 10,5%.

A queda reflete a falta de confiança dos investidores em geral (brasileiros e estrangeiros, bancos e empresas, pessoas físicas e jurídicas) com o crescimento econômico do país. Convenhamos: crescimento baixo e inflação alta são bastante ruins para quem pretende tirar ganho da valorização das empresas. Se a economia vai mal, não há como as empresas irem bem. O lucro das companhias é menor e, em consequência, elas deixam de se valorizar na bolsa. É mais ou menos isso.

Mas nem toda a culpa deve ir para a conta da inflação e do crescimento (e, em consequência, para a conta do governo, que é quem dirige a política fiscal e monetária capaz de mudar o jogo do crescimento). A irracionalidade dos investidores tem alguma influência nisso, especialmente no que se refere à petroleira do grupo Eike Batista, a OGX.

A companhia desembarcou no mercado em 2008, com a maior oferta de ações da história do país até então – R$ 6,7 bilhões. À época, ela era pouco mais que um plano de negócios, foi o dinheiro da oferta que viabilizou o trabalho de campo. Mesmo assim, a OGX encantou os investidores com a promessa de valorização rápida mediante a exploração de óleo no pré-sal brasileiro. Seus papéis ganharam importância no mercado, a ponto de ser hoje a quarta empresa de maior peso no índice, atrás apenas de Vale, Petrobras e Itaú.

Enquanto tudo estava no papel, as ações iam bem. Quando o óleo começou a sair dos canos, a preocupação surgiu. Era pouco. E assim começou a grande crise do grupo EBX. Uma crise de confiança, porque os investidores começaram a perceber que o futuro descrito pela administração da empresa talvez fosse menos feliz. Como a cabeça do grupo é uma só – a de Eike –, a desconfiança atingiu outras companhias. E a queda nos preços da OGX arrastou consigo o Ibovespa. Levantamento da consultoria Economatica, divulgado ontem, mostra que a empresa perdeu 62,7% de seu valor de mercado de 21 de dezembro a 10 de maio, uma queda de R$ 8,9 bilhões.

Cá entre nós: será que os bancos, corretoras e fundos que investiam na OGX não deveriam conhecer mais de perto a situação dos seus projetos? Cabe confiar tanto assim em planos de negócios e projeções de lucro? Difícil...

Mudando de assunto...

Os números são pequenos, mas é bom prestar atenção. Segundo os balancetes arquivados no site do Banco Central, o valor das operações de crédito feitas pelo Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (instituição mantida pelos governos do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul) com atraso superior a 180 dias aumentou de R$ 57,5 milhões, em fevereiro do ano passado, para R$ 112,7 milhões em fevereiro deste ano.

Em relação ao total da carteira de crédito da instituição, os valores são baixos – 0,82% no ano passado, 1,39% neste ano. Mas é bom analisar o que está acontecendo.

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