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A decisão do governo brasileiro de ampliar a incidência de impostos sobre captações externas, impedindo uma maior valorização do real perante o dólar, tem como objetivo proteger a indústria do país do aumento das importações. No entanto, o verdadeiro desafio do país não é conter a entrada de produtos estrangeiros, mas sim fazer a indústria brasileira se tornar competitiva, segundo um artigo publicado ontem no diário britânico Financial Times.

De acordo com o texto, o Brasil está sofrendo do que está se tornando uma "recessão prologada no coração da indústria pesada" do país. O artigo citou dados sobre a desaceleração da produção industrial nos últimos meses, números que reforçam o medo das autoridades de que a economia do país re­­troceda aos tempos de base agrícola.

"Nas palavras da presidente Dilma Rousseff, as políticas monetárias dos EUA e da Europa estão criando um ‘tsunami’ de dinheiro barato e as maiores vítimas são as empresas brasileiras. Essa ameaça é tão grave, na visão do governo, que o Brasil corre o risco de retroceder à era antes da industrialização pós-Segunda Guerra Mundial, quando sua economia era pouco mais que uma gigante mineradora e uma fazenda", afirma o texto.

Ainda de acordo com o artigo, consumidores brasileiros lotam o comércio, e os preços estão cada vez mais altos, demonstrando a falta de uma produção que atenda à demanda. Segundo o texto, o Brasil enfrenta um complicado paradigma: crescer sem indústria. No entanto, o país não é o primeiro a enfrentar tal desafio.

"Outros países ricos em commodities, como a Austrália, tiveram de abandonar indústrias não competitivas e dar um maior apoio a indústrias mais baseadas em serviços", sugere o FT.

No entanto, o diário salienta que essa transição pode ser mais dolorosa para o Brasil. Como a 6.ª economia mundial, o país precisa de uma indústria competitiva para gerar empregos para milhares de trabalhadores com baixa ou nenhuma qualificação, afirma o jornal. Além disso, barreiras políticas fazem com que o governo opte por proteção, aumentando as taxas de importação e ameaçando erguer barreiras contra parceiros como o México, afirma o artigo.

Antigos demônios

"No fim, o país terá de enfrentar seus antigos demônios: um setor público inchado e pouco produtivo, falta de investimentos, poupanças de capital e um sistema de formação educacional fraco", defende o texto. "A retórica de Brasília não deveria ser sobre uma guerra ao câmbio, mas sim uma guerra de produtividades. Só assim o país poderá realizar o sonho de ser uma potência industrial", conclui.

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