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Na semana passada a Expedição Safra divulgou sua prévia para produção brasileira de grãos na temporada 2012/13. São 185 milhões de toneladas. Um crescimento de 20 milhões de toneladas. Mais do que o potencial, o número revela a ousadia do país ao projetar aumento tão expressivo em apenas um ciclo. Tudo bem que sabemos plantar soja como ninguém e que estamos aprendendo a plantar milho. Mas uma variação acima de 12% de um ano para outro não é para qualquer um. Aliás, quase beira a irresponsabilidade quando olhamos para nossa estrutura de armazenagem, escoamento e exportação. Eu diria que aquém do nosso limite de segurança, o que impacta em custos, competitividade e até em soberania na estratégia e independência do disputado e protecionista comércio internacional.

O lado bom dessa história, é que bem ou mal, o Brasil chama a responsabilidade e consegue atender a uma demanda internacional cada vez mais crescente. Não só por conta da redução na oferta, provocada pela variável clima, que reduz os estoques mundiais e obriga ao racionamento na destinação de grãos, mas porque aumenta o consumo e reduz a produção. Em países como China e Índia, na Ásia, assim como outros do continente africano, a questão não é tanto mercado internacional, mas o abastecimento. É o que evita o colapso do agronegócio por aqui. O mundo só tolera aguardar dias, semanas ou até meses para carregar um navio em Santos ou Paranaguá porque não tem outro jeito. Paga milhares de dólares em demurrage, encarece a operação e o produto porque não tem outro jeito.

Mais do que isso. Só é possível transportar soja e milho por centenas e milhares de quilômetros internamente porque ainda assim o produto tem preço e demanda, lá fora. Nossa infraestrutura é precária. Para alguns, assustadora. Ou seja, não somos competitivos. Ainda assim conseguimos rentabilizar nossa atividade. Imagine então se o país tivesse uma estrutura de armazenagem, de escoamento e de portos mais eficiente. Não necessariamente moderna, mas que funcione, que não seja motivo para nossos compradores depreciem nossa produção, rebaixem preço e usem isso como moeda de negociação. Isso quando não levantam embargos claramente comerciais, sob a bandeira da sanidade, da segurança alimentar. Como está ocorrendo agora, com a carne bovina, que enfrenta barreiras em seis países.

Como em qualquer outra operação comercial, tem alguém que precisa comprar e outro que tem para vender. O que não dá para assegurar é que essa será uma transação saudável. O custo Brasil prejudica não apenas a rentabilidade do produtor nacional, como onerar o embarcador, o trader e o comprador. Esteja ele onde estiver, na América do Norte, na Europa, na África ou na Ásia. Ou então aqui mesmo, na América do Sul. É o custo Brasil partilhado. Que encarece, sim, o custo interno, principalmente. Mas que também reflete no custo do comprador, do embarcador e tira um pouco da rentabilidade de todos os elos da cadeia produtiva, em especial do produtor. A produção cresce, mas tem um preço. Um custo que, por conveniência ou necessidade, é dividido com o mundo.

Por conta de realidades como é essa que fica cada vez mais difícil vender. Somos cada vez mais comprados. Isso na verdade nunca vai mudar. Quando o assunto é commodity agrícola, quem manda é quem demanda. O que manda é quanto o cliente precisa e quanto ele consegue pagar. Essa coisa de que Chicago é que regula preço não está errado. Como não está errado que os fundamentos estão cada vez mais ativos e que quem regula o mercado é oferta e demanda. Cada vez mais sobre pressão dos fundos, é verdade, mas é a produção e o consumo, os estoques e a demanda é que definem e vão continuar definindo preço, custo e resultado da atividade.

Depois do Carnaval

As agências de notícias internacionais divulgaram na sexta-feira que o governo espera que a Coreia do Sul, Japão, China, África do Sul, Arábia Saudita e Egito levantem o embargo à carne bovina brasileira antes de março de 2013. As restrições vieram depois que o Ministério da Agricultura (Mapa) divulgou o resultado de um exame negativo ao mal da vaca louca em uma vaca que morreu no Paraná em 2010. Ainda não dá para entender. Se os exames mostraram que a doença não existiu, então por que os embargos? Não tem outra explicação que não seja a comercial. Os seis países que cancelaram a compra de carne podem estar usando o critério sanitário para impor questões comerciais.

Desafio logístico

A Associação dos Engenheiros Agrônomos do Paraná (AEAPR), com sede em Curitiba, entrou na discussão sobre a necessidade de dotar o Paraná e o país de uma infraestrutura mínima para fazer frente à crescente demanda e consequente oferta de commodities agrícolas. O ponto de partida foi o último Debate-Papo Agronômico, realizado na sexta-feira, na sede da entidade, em Curitiba. O encontro contou com a presença de um representante do Fórum Futuro 10, da Secretaria Estadual da Agricultura e da Universidade Federal do Paraná. Na pauta, os projetos de infraestrutura logística do Paraná. Ponto comum nas abordagens: o desafio do estado e do país para fazer frente ao enorme potencial e oportunidade do agronegócio brasileiro no cenário internacional.

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