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A maranhense mantém o estilo dor de cotovelo antenada com as novidades | Arquivo Gazeta do Povo
A maranhense mantém o estilo dor de cotovelo antenada com as novidades| Foto: Arquivo Gazeta do Povo

Saúde dos mais pobres

Remédio consome R$ 30 por mês

Os dados da POF divulgados nesta quarta-feira pelo IBGE mostram que a população brasileira não está tão bem como o governo federal anuncia em propagandas. Essa é a opinião do chefe do departamento de Economia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Marcelo Curado. Ele cita como exemplo o alto gasto da população mais pobre com remédios. O gasto médio familiar com saúde da população mais rica é de R$ 432 por mês. Entre os mais pobres, o gasto é de R$ 63,49, dos quais 42,9% são para pagar medicamentos. O peso dos remédios no orçamento dos mais ricos é de apenas 24,2%.

"A camada mais pobre da população gasta mais com alimentação e remédio em qualquer lugar do mundo, mas no Brasil essa proporção ainda é muito alta." Segundo ele, o governo federal deveria repensar o sistema de saúde do país como um instrumento de distribuição de renda. "Os pobres gastam mais com remédio e principalmente a parcela mais idosa. Como há desemprego, muitas vezes os aposentados são os responsáveis pelo sustento da família. Se há um comprometimento alto com gasto com remédio, sobra muito pouco para o resto."

Para Lilibeth Ferreira, do IBGE, o alto gasto com remédios feito pela população pobre revela que o acesso à saúde no Brasil é muito ruim e que não há prevenção. "Uma situação que a pesquisa mostra é que possivelmente, não tendo renda para tratar da saúde, a pessoa faz auto-medicação. E isso é feito à revelia de qualquer programa de saúde."

Rosana Félix - Gazeta do Povo

O orçamento familiar do casal Alex da Silva e Fernanda Machado, que atualmente vive de seguro-desemprego, é muito diferente daquele que faz do administrador João Cereda um consumidor da classe A. Mas a distância entre eles não é tão gritante como em outras regiões do Brasil. O Paraná é um dos estados com índice de desigualdade mais discreto entre os gastos dos ricos e dos pobres. Enquanto no Brasil a parcela mais abastada da população gasta 10 vezes o que os mais pobres gastam, a relação paranaense é de 8,3. O Sul e o Norte, ambos com índice 8, são as regiões com menor distância na renda. A maior diferença foi observada no Nordeste, onde os ricos gastam 11,8 vezes mais que os de menor renda. Os dados foram divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

"O Sul se destaca por apresentar indicadores de qualidade de vida melhores. A desigualdade dos gastos também é menor nessa região, o que ajuda a comprovar isso", diz a técnica da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) , Lilibeth Ferreira. A pesquisa utiliza dados da POF 2002-2003. O estado onde a desigualdade é maior é Alagoas. Lá os gastos dos mais ricos são 15,6 vezes maiores que as despesas dos mais pobres.

Pelo estudo, a renda familiar média dos brasileiros mais pobres é R$ 623,72, enquanto a dos mais ricos é R$ 6.661,83. No Paraná, esses valores são de R$ 661,77 e R$ 6.409,98, respectivamente. A despesa média familiar no Brasil ficou em R$ 1.794,32. Desse total, foram gastos em média R$ 1.473,29 com despesas de consumo, que são aquisições de bens ou consumo para suprir necessidades e desejos das famílias.

A maior parte da despesa familiar é com habitação: 29% de todos os gastos de consumo. Em seguida aparecem gastos com alimentação (16,9%) e com transportes 15,1%. "Basicamente, o brasileiro médio trabalha para morar, se alimentar e se locomover", diz. Para a educação, é destinado apenas 3,3% do orçamento familiar. Recreação e cultura respondem por apenas 1,9% e serviços pessoais (despesas com beleza e reparo de itens pessoais) por 0,7%.

Silva, 28 anos, e Fernanda, 21, gastam principalmente com alimentação. O orçamento dos últimos seis meses têm sido apertado, já que a renda mensal é o seguro-desemprego de R$ 380, acrescido da remuneração de alguns bicos eventuais. Outros R$ 200 entram no orçamento por conta da pensão alimentícia para a filha de Fernanda, Ana Beatriz. "Esse dinheiro vai todo para ela. Dá até para comprar iogurte e outras coisas que ela quer", diz a mãe. A família se enquadra na faixa de gastos do IBGE para famílias em que a pessoa de referência tem de um a três anos de estudo: R$ 993,76.

Quanto mais anos de estudo, maior os gastos. A média é de R$ 3.683,02 para famílias nas quais a pessoa de referência tem 11 anos ou mais de estudo. O administrador João Cereda se enquadra nessa faixa. Ele não revela o orçamento, mas diz que pertence à classe A, mora com a mulher a filha em um apartamento próprio e consegue investir 40% do salário em aplicações financeiras. O resto do orçamento vai principalmente para a manutenção da casa e alimentação. Ele diz não gastar muito com transporte. "Somos diferentes de outras famílias de alta renda porque nos preocupamos em planejar. Meu esporte é grátis: eu caminho. E sonhamos com o pé no chão."

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