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Foi-se o tempo em que Detroit podia estampar com orgulho o título de capital mundial do automóvel. A cidade, que é sede das chamadas "três grandes" – General Motors, Ford e Chrysler –, é hoje um espelho das crises sucessivas que o setor vem sofrendo nos Estados Unidos. O cenário é triste: não é preciso andar muito para encontrar antigas fábricas em ruínas e vários bairros abandonados.

Localizada no estado de Michigan, no noroeste dos EUA, Detroit vem sofrendo como nenhuma outra cidade os impactos da dramática crise econômica norte-americana, que reduziu o crédito e afugentou consumidores. A taxa de desemprego na região metropolitana de Detroit é de 10%, segundo dados de dezembro do Departamento de Trabalho dos Estados Unidos – acima da média nacional de 7,2%. Só no ano passado, de janeiro a novembro, 72,6 mil postos de trabalho foram fechados na cidade.

"Estou há um ano desempregado, procuro trabalho diariamente e não acho nada", desabafa Joe Niedzielski, de 53 anos, que produziu veículos para a Chrysler por 20 anos. Ele era uma das 50 pessoas que na semana passada desafiaram o frio de dois graus negativos para fazer um protesto em frente ao Salão do Automóvel de Detroit. A reivindicação não poderia ser outra: empregos. "Também estamos aqui para pedir que os americanos parem de comprar carros estrangeiros, pois toda vez que alguém compra um modelo feito lá fora, um emprego aqui é cortado", afirmou.

De acordo com dados do governo de Michigan, todo o estado – já que as fábricas das três grandes estão espalhadas por várias cidades da Grande Detroit – perdeu 47% dos empregos ligados à fabricação de carros nos últimos oito anos. Desde 2000, 400 mil postos de trabalho foram fechados na região. "E a cada dia mais pessoas estão sendo demitidas", revela Jonattan Taylor, sindicalista do Local 60, uma das sedes regionais do United Auto Workers (UAW), o poderoso sindicato dos trabalhadores da indústria automobilística norte-americana. Hoje, GM, Chrysler e Ford possuem cerca de 250 mil trabalhadores em suas fábricas no estado.

Com a onda de demissões, a crise imobiliária atingiu Detroit em cheio. A cidade tem a maior taxa de devolução de casas nos Estados Unidos, assim como o maior índice de inadimplência no pagamento de hipotecas, de acordo com informações da Realty Trac, uma consultoria especializada no mercado imobiliário. Resultado: o aumento da oferta fez os preços dos imóveis em Detroit desabarem. Desde 2003, a desvalorização foi de 79%, segundo a Michigan Association of Realtors (MAR), a associação de corretores imobiliários daquele estado.

O mau desempenho da indústria automotiva afeta todo o comércio da Grande Detroit. Um dos shoppings mais populares da região estava praticamente vazio na semana do Salão de Detroit. Nem mesmo as liquidações que dão 70% de desconto atraem os normalmente ávidos consumidores norte-americanos. "As vendas melhoraram um pouco no Natal, mas voltaram a ficar muito baixas neste começo de janeiro", conta Chris Pender, 21 anos, que trabalha em uma loja de roupas femininas, no Fairlane Mall.

O jornalista viajou a convite da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).

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