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Lúcia Santaella (C), professora da PUC-SP: “As salas de aula de hoje são um suplício)
Lúcia Santaella (C), professora da PUC-SP: “As salas de aula de hoje são um suplício)| Foto: Divulgação/IBM

A rapidez da evolução tecnológica está fazendo com que os recrutadores tenham cada vez mais dificuldade para contratar talentos. Uma pesquisa global realizada pelo Gartner Group aponta que 80% dos profissionais afirmam não ter as habilidades necessárias para a carreira atual e futura. Por este motivo, 25% deles admitem que vão precisar descobrir uma nova competência para se adaptar ao mercado de trabalho.

Diante desta equação que não fecha há anos, grandes empresas passaram a apoiar a transformação digital de escolas e universidades brasileiras para conseguirem talentos. O Bradesco é uma das empresas que quer reinventar o modelo de educação vigente no país. Por meio da Fundação Bradesco, 95 mil estudantes do ensino fundamental, médio e profissionalizante foram atendidos com foco no desenvolvimento de competências e habilidades cognitivas e socioemocionais.

“Trabalhamos com alunos do século 21, em um modelo de educação do século 19. Precisamos reinventar as escolas porque hoje uma criança de dois anos já tem contato com tecnologia”, comparou Elza Guereschi, superintendente de educação da fundação.

Segundo ela, os professores desta geração têm um grande desafio pela frente: ensinar o aluno a lidar com o excesso de informação disponível pelas plataformas digitais. “É mais fácil explicar equação e as causas da Segunda Guerra Mundial aos jovens do que autocontrole e flexibilidade”, argumentou a gestora.

Desde o ano passado, a IBM Brasil leva sua experiência prática para os alunos dos ensinos médio, técnico e superior do Centro Paula Souza, instituição de ensino vinculada à Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Governo de São Paulo.

Com o modelo educacional P-TECH, o centro pretende estimular competências profissionais ligadas à ciência, tecnologia, engenharia e matemática, combinando currículo técnico com experiências práticas.

“O diferencial desta modalidade de ensino é a possibilidade de aplicação do que se aprende em sala de aula no ambiente real de trabalho. A integração entre a educação e o setor produtivo é um caminho eficiente para a formação de talentos”, avaliou Laura Laganá, diretora-superintendente do Centro Paula Souza.

Senso crítico e flexibilidade são novos requisitos

Na avaliação de Juliana Nobre, gerente de cidadania corporativa da IBM Brasil, o profissional de tecnologia tem de ser híbrido: ter um bom conhecimento técnico e, ao mesmo tempo, ser um bom comunicador.

Outras competências comportamentais listadas pela especialista são senso crítico, resiliência e flexibilidade. “A velocidade da escola e do mercado são incompatíveis. Precisamos cada vez mais de profissionais com capacidade para resolver problemas críticos”, opinou ela, no evento de educação.

A escassez de talentos em tecnologia é ainda maior entre o público feminino, analisou Alcely Barroso, líder de programas universitários globais da IBM América Latina, no evento de educação. “Queremos identificar mulheres e negras nas instituições de ensino. Faltam referências femininas em tecnologia e isso dificulta a diversidade nas empresas”, afirmou Alcely, citando como exemplo de protagonismo a CEO da IBM, Ginni Rometty.

Com 350 mil funcionários no mundo, a IBM não divulga o percentual de mulheres na companhia, mas afirma ter programas para estimular a contratação e capacitação feminina em tecnologia.

Profissionais devem estar abertos às mudanças

Lúcia Santaella, professora de semiótica da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), frisou que a volatilidade do mundo exige que os profissionais estejam abertos para as mudanças do mercado de trabalho — principalmente as ligadas à inteligência artificial.

“Não teríamos sobrevivido sem a tecnologia. A inteligência humana tem limite e é por isso que a inteligência artificial existe. O ser humano não dá conta da complexidade do mundo”, avaliou a pesquisadora, que considera as salas de aula de hoje um “suplício”.

Segundo Andreas Auerbach, fundador do movimento jovem Nexo Hw, braço do Box 1834, por outro lado, o desafio da nova geração é ser disruptivo e criativo diante da transformação do mundo digital.

“A educação de hoje tem uma herança hierárquica muito antiga de rigidez. E se quisermos ter resultados diferentes, temos de fazer coisas diferentes”, acrescentou.

Na avaliação do administrador de empresas, estamos vivendo atualmente em uma organização social de significado relacional, que valoriza o propósito e a colaboração. No futuro, chegaremos à camada da complexidade, voltada para criação de novas áreas de conhecimento, integração e escala.

“Nosso desafio será não nos tornarmos profissionais, educadores e empresas obsoletas”, concluiu Auerbach.

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