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“Com certeza, a queda no preço do papel é efeito da crise lá fora. A gente procura entender, até para o comprador ver que a gente não está perdido. Mas a crise não é só pra mim. Não há muito o que fazer.”Hélio Moacir Soares, catador de papel de Curitiba. | Hedeson Alves/Gazeta do Povo
“Com certeza, a queda no preço do papel é efeito da crise lá fora. A gente procura entender, até para o comprador ver que a gente não está perdido. Mas a crise não é só pra mim. Não há muito o que fazer.”Hélio Moacir Soares, catador de papel de Curitiba.| Foto: Hedeson Alves/Gazeta do Povo

Cada um ao seu modo, trabalhadores de formação e renda tão distantes quanto executivos e catadores de papel procuram informações sobre a crise financeira. Eles sentem na pele os primeiros efeitos da turbulência que derrubou mercados e está levando o mundo rico à recessão, e querem saber mais sobre ela.

Executivo sênior da área de investimentos do banco HSBC, Henrique Ferreira lê todos os dias vários jornais, revistas e os boletins de notícias enviados pela própria empresa, e ainda passa boa parte do seu dia de olho no movimento das bolsas de valores e no noticiário econômico usando a internet. "No café-da-manhã não, né? Aí é sagrado! Se não você corre o risco de morder o jornal", brinca.

Para Dona Maria de Lourdes de Souza, catadora de papel há oito anos, as informações vêm das conversas que ouve entre colegas e de uma espiadinha no noticiário da televisão. "Não sei exatamente o que é, mas sei que é um problema lá do estrangeiro que afetou quase todo mundo. Inclusive a gente."

Ela diz que do "estrangeiro" mesmo conhece pouco, mas sorri contando da torcida feita na comunidade pela vitória do democrata Barack Obama nas eleições norte-americanas. "Ficamos felizes. Vamos ver se a coisa agora melhora."

Papel

A melhora que ela espera neste momento é o fim da crise que, embora pareça estar bem distante da sua rotina, derrubou o preço do material que ela recolhe das ruas. Presidente da Associação de Catadores de Material Reciclável Novo Amanhecer, que funciona na Cidade Industrial de Curitiba (CIC), Maria de Lourdes conta que nos últimos meses o preço de alguns produtos caiu mais de 50%.

O quilo do papelão, por exemplo, já foi vendido a R$ 28 centavos. Hoje vale R$ 14 centavos. E o papel revista caiu de R$ 20 centavos para R$ 6 centavos. O único material que manteve o preço, dizem os carrinheiros, é o plástico. "Com certeza, a queda no preço do papel é efeito da crise lá fora. Não há outra explicação", diz o também catador Hélio Moacir Soares.

Hélio conta que assiste jornais e procura se informar sobre a crise, mas lamenta que seu conhecimento tenha pouca influência na hora de negociar os preços. "A gente procura entender, até para o comprador ver que a gente não está perdido. Mas a crise não é só pra mim. Não há muito o que fazer."

Sem um "circuit breaker" (a paralisação das transações quando a bolsa de valores tem queda muito forte) para impedir que os seus "papéis" caiam sem parar, Hélio e os demais carrinheiros vêem a sua renda encolher. "Quem ganhava R$ 700 por mês agora está tirando R$ 350, R$ 400", conta. "A gente desanima. Pensa até em parar. Mas como? Por causa da crise, está ruim para todo mundo", diz Jaime da Silva, catador de material reciclável há 14 anos.

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