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Eletrônicos e produtos de informática terão aumento de 5% a 10% até o fim do ano e lojistas prevêem volume menor nas vendas. | Daniel Castellano/Gazeta do Povo
Eletrônicos e produtos de informática terão aumento de 5% a 10% até o fim do ano e lojistas prevêem volume menor nas vendas.| Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo

Natal deve ter redução no gasto dos consumidores

Apesar do otimismo do varejo em relação às vendas de Natal, o consenso entre os especialistas é que as más notícias e o clima de incertezas podem deixar os consumidores mais cautelosos. Ontem, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva recomendou aos ministros da área econômica que "não deixem faltar crédito" para nenhum setor, principalmente para o comércio no fim do ano.

Uma leve desaceleração nas vendas de produtos que dependem de linhas de financiamento mais longas, como eletrodomésticos e automóveis, no entanto, será sentida. "Esses produtos dependem fortemente do crédito", diz o sócio-diretor da BrandWorks, Luiz Alberto Marinho. Outro fator negativo, segundo ele, é que o pessimismo da economia acaba contaminando o consumidor. "Ele fica com medo de perder renda e acaba colocando o pé no freio, mas não deixa de comprar, apenas diminui o gasto médio."

Pouco entusiasmo

Levantamento da Fundação Getulio Vargas (FGV) mostra que o consumidor não aparenta entusiasmo para gastar no Natal. Em setembro, o nível de intenção de compras de bens duráveis para os próximos meses foi o mais baixo dos últimos dois anos. Na pesquisa da fundação, 34% dos entrevistados, em um universo de mais de 2 mil domicílios, apostam em redução no volume de compras – o mais elevado porcentual desde setembro de 2006.

Mesmo com a tendência de resultados abaixo do satisfatório, o assessor econômico da Federação do Comércio do Paraná (Fecomércio-PR), Vamberto Santana, acredita que o 13º salário irá garantir as expectativas de vendas no Natal. "O Brasil está em uma situação favorável. Veremos algum reflexo, caso a crise perdure, a partir de 2009." (IR com agências)

A forte turbulência no mercado financeiro por causa da crise internacional chegará ao bolso do consumidor brasileiro em forma de produtos mais caros e crédito mais escasso. Os preços mais altos são conseqüência da alta na cotação do dólar, que ontem ultrapassou os R$ 2, e tem impacto principalmente nos eletroeletrônicos e produtos de informática. O financiamento mais difícil, por sua vez, preocupa setores como o da construção civil, que já prevê uma queda no gasto médio dos compradores. No entanto, como o ritmo do consumo vinha bastante acelerado no ano, o varejo continua otimista e acredita num crescimento de 9% nas vendas em relação a 2007. Os dados são do Instituto para o Desenvolvimento do Varejo (IDV).

De acordo com a Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros), os preços dos artigos do segmento podem ficar entre 5% e 10% mais caros nos próximos meses. Para o coordenador do Programa de Administração de Varejo da Fundação Instituto de Administração (Provar/FIA), Cláudio Felisoni, a crise financeira norte-americana é responsável direta por esses aumentos. "Os eletrônicos dependem do câmbio e são afetados imediatamente", explica. Diante das incertezas, a entidade reviu a expectativa de expansão, que caiu 3 pontos porcentuais, passando de 15% para 12% no ano.

Na loja Fnac Curitiba ainda não há uma projeção de quanto os preços vão subir, mas, segundo o gerente do departamento de informática, André Morais dos Santos, produtos importados, principalmente computadores portáteis, devem ter um acréscimo significativo nas etiquetas próximo ao Natal. "Por enquanto, não houve aumento na ponta final do varejo, já que estamos trabalhando com produtos em estoque, comprados com o dólar baixo", conta. Já a proprietária da Central do Notebook, Danielle Gazolla, afirma que até a assistência técnica está mais cara. "Um produto que comprávamos por US$ 1,7 mil está custando mais de US$ 2 mil, e a maioria das peças para conserto são importadas. O mercado fica complicado, porque os consumidores estão esperando para ver o que acontece", diz.

As importadoras também estão inseguras com a volatilidade do câmbio e, na tentativa de manter os clientes, absorvem uma parte do valor. "Não sabemos até que ponto podemos investir, ficamos com incertezas sobre o que fazer. Também não temos como garantir um preço fixo ao cliente, que acaba optando por comprar marcas nacionais", diz o sócio-proprietário da TKL Importadora, Gustavo Schultz. A Importadora Culpi, que trabalha com produtos automotivos, deve aumentar os preços em 5%. "Se repassarmos toda a alta, ficará impossível de trabalhar e estaremos totalmente fora do mercado", diz o proprietário Fernando Culpi.

Segundo o assessor econômico da Federação do Comércio do Paraná (Fecomércio-PR), Vamberto Santana, o setor da construção civil e materiais de construção também será afetado. "Os preços devem ficar mais altos e as vendas, menores. Mas isso não é resultado apenas da turbulência e sim do aperto do crédito no país." Na rede Balaroti, de materiais de construção, o gasto médio já caiu, mas o volume de vendas se mantém estável. "Um comprador que antes gastava cerca de R$ 5 mil agora compra R$ 3 mil. Aos poucos, vamos sentir o impacto dessa crise", diz o diretor de marketing e vendas Eduardo Balarotti.

Para Cláudio Felisoni, da Provar/FIA, as economias de países emergentes sentirão os impactos da crise a longo prazo. "Existe uma insegurança generalizada. Ainda não se sabe o tamanho exato dos problemas financeiros pulverizados na economia global." O sócio-diretor da BrandWorks, Luiz Alberto Marinho, acredita que a aprovação do pacote de socorro ao sistema financeiro americano pode amenizar a situação da crise e estabilizar o câmbio. Ainda assim, diz ele, o preço dos importados pode não voltar mais aos patamares anteriores.

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