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Até um ano atrás, a promotora de eventos Patrícia Arianne Simioni, a relações-públicas Cláudia Rigoni dos Santos e a analista de sistemas Sandra Mara Schiochet nunca haviam viajado para fora do Brasil. Para as três curitibanas, o sonho de conhecer o exterior continuaria distante se não fosse pela valorização do real, tão criticada por boa parte dos setores da economia brasileira. Foi graças à queda do euro e do dólar frente ao real que elas e outra multidão de brasileiros puderam, pela primeira vez, ultrapassar as fronteiras do país, seja para trabalhar, fazer turismo ou intercâmbio.

O barateamento das passagens aéreas e parcelamentos mais elásticos – de até 12 meses, em alguns casos – também deram sua contribuição para criar essa nova realidade que, se caísse no gosto do governo federal, fatalmente receberia o nome de "inclusão turística", ou algo parecido. Trata-se de um movimento que, se não trouxe grande contribuição para as contas correntes brasileiras – afinal, são mais de US$ 4 bilhões deixando o país por ano –, ao menos tornou mais coloridos os aeroportos brasileiros. Em saguões onde antes predominavam o preto, o cinza e o bege dos executivos, ficaram cada vez mais comuns cenas de passageiros carregados de sacolinhas, portando com orgulho bolsas de operadoras de viagem.

Uma pesquisa do Ministério do Turismo (Mtur) e da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) mostra que, entre 2002 e 2006, aproximadamente 4 milhões de brasileiros tiveram de caprichar no "portunhol" ou incrementar seu conhecimento de inglês com mímica para se virar em viagens internacionais. Esse é o número de pessoas que fizeram suas estréias nos salões de embarque internacional nesse período. Quatro anos atrás, quando o dólar chegou muito perto de R$ 4, apenas 1,7% da população – pouco menos de três milhões de pessoas – já havia viajado para o exterior. Hoje, com a moeda americana na casa dos R$ 2,20, esse porcentual chega a 3,9% (cerca de sete milhões de pessoas).

"As vendas de pacotes para Argentina e Chile cresceram, no mínimo, 15% desde o ano passado", calcula Celso José Tesser, vice-presidente da seção paranaense da Associação Brasileira das Agências de Viagem (Abav-PR). "Viagens para Santiago do Chile, Bariloche, Buenos Aires e Montevidéu são hoje mais baratas do que ir para resorts no Nordeste. Viraram uma febre", comemora Rosa Maria Amaral Silva, diretora comercial da Meridiano Turismo. Segundo ela, com US$ 450, é possível fazer uma viagem de quatro dias para Buenos Aires – e com US$ 1 mil, para uma "infinidade de destinos".

Por preços parecidos, pode-se passar uma semana em alguma ba-dalada praia nordestina, com hotéis de qualidade superior. Mas, no retorno, quem contar para os amigos que passou sete dias no calor de Fortaleza por R$ 1,7 mil não terá o mesmo prazer de quem falar sobre aquela semana gelada, com noites aquecidas pelo fondue de Bariloche. Além disso, se for para ir à praia, que seja a da Isla Margarita, no Caribe, que operadoras de turismo oferecem por R$ 2,2 mil parcelados em 12 vezes ou US$ 884 à vista (cerca de R$ 1.970).

A maior facilidade de viajar para outros países produziu resultados curiosos. A pesquisa do Mtur e da Fipe mostrou que, entre os turistas que vão para o exterior, o principal fator que os faria trocar viagens internacionais por domésticas seria a redução dos preços internos. Isso mesmo: 27,9% desses viajantes passariam a viajar mais dentro do Brasil se os valores cobrados por aqui fossem mais atraentes. Quase 12% cobram maior segurança e cerca de 8% pedem melhoras na qualidade dos serviços turísticos. Além disso, nada menos que 33,4% dos brasileiros não trocariam a viagem internacional por nada. Dois terços deles dizem que isso acontece por conta de compromissos de trabalho, enquanto os restantes dizem que o "atrativo único" do exterior é insubstituível.

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