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Dados ligeiramente piores que o esperado do mercado de trabalho dos Estados Unidos ajudaram o dólar a perder força em relação às principais moedas emergentes nesta sexta-feira (4). No Brasil, a moeda americana à vista (referência no mercado financeiro) terminou o dia com queda de 1,39%, a R$ 2,247 na venda. É a menor cotação desde 4 de novembro de 2013, quando ficou em R$ 2,244. Na semana, houve desvalorização de 0,66%.

Já o dólar comercial, usado no comércio exterior, teve baixa de 1,66%, a R$ 2,244. Com isso, atingiu seu menor valor desde 31 de outubro do ano passado, quando ficou em R$ 2,234. Entre as 31 principais moedas emergentes do mundo, 21 subiram em relação ao dólar hoje. O real encabeçou a lista das maiores altas, seguido pela lira turca e o rand sul-africano.

O Departamento do Trabalho americano divulgou hoje que 192.000 empregos fora do setor agrícola dos EUA foram criados no mês passado. O número é menor que o total de vagas criadas em fevereiro (197.000) e um pouco abaixo das estimativas do mercado, que giravam em torno de 200.000. A taxa de desemprego naquele país ficou estável em 6,7%.

A avaliação de analistas é de que o resultado não é forte o suficiente para acelerar a retirada de estímulos nos EUA pelo Fed (banco central americano), o que garante liquidez da moeda americana nos mercados emergentes. "A interpretação também foi de que o Fed não subirá o juro básico americano (atualmente perto de zero) antes de meados de 2015, o que também é boa notícia para os emergentes", diz Reginaldo Siaca, superintendente de câmbio da Advanced Corretora.

Isso porque um aumento no juro americano deixaria os títulos públicos dos EUA, remunerados por essa taxa e considerados de baixíssimo risco, mais atraentes do que as aplicações nos emergentes, motivando uma fuga de recursos desse mercado de volta para a economia americana.

Eleições

Para Sidnei Nehme, diretor da NGO Corretora de Câmbio, outro fator que pesou na queda do dólar foi a expectativa de que a presidente Dilma Rousseff perderá pontos para candidatos da oposição na próxima pesquisa eleitoral.

De acordo com o sistema de busca de pesquisas eleitorais do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), o Datafolha registrou no dia 31 de março uma pesquisa eleitoral com divulgação prevista para este fim de semana. Nehme ressalta, no entanto, que os fundamentos da economia brasileira continuam negativos. Isso explica o baixo fluxo de entrada de recursos no país, composto principalmente de capital especulativo.

Há três semanas, o dólar já havia apresentado queda com os mesmos rumores em relação à pesquisa eleitoral Ibope. O resultado do levantamento, no entanto, mostrou que as intenções de voto na presidente Dilma ficaram inalteradas, e que a atual presidente poderia vencer as eleições de outubro já no primeiro turno.

Banco Central

As intervenções do Banco Central do Brasil no câmbio deram respaldo ao movimento de baixa da moeda americana. Segundo operadores, havia dúvidas em relação à realização de leilões de swap (operações que equivalem à venda futura de dólares) para rolagem de papéis com vencimento em 2 de maio. "Esse tipo de operação tende a provocar queda na cotação do dólar. O mercado acreditava que o BC não fosse realizar o leilão porque a moeda americana estava próxima do nível considerado um piso informal, de R$ 2,25. Mas a autoridade não somente fez a operação como também vendeu a totalidade dos contratos oferecidos (10.000)", diz Paulo Petrassi, sócio diretor da consultoria Leme Investimentos.

O BC já havia realizado mais cedo um outro leilão de swap, parte do seu programa de atuações diárias, que movimentou US$ 198,3 milhões. "É um sinal de que o BC está gostando do alívio recente no câmbio. É perigoso achar que o caminho para aliviar a inflação é o câmbio. Se o dólar cai muito, os brasileiros gastam mais no exterior, as empresas daqui importam mais e nossas exportadoras ganham menos. Provoca um caos ainda maior nas contas públicas", acrescenta.

Bolsas

No mercado de ações, o Ibovespa, principal índice da Bolsa brasileira, fechou a sexta-feira em queda de 0,63%, a 51.081 pontos. Na semana, porém, houve alta de 2,64%. Foi a terceira semana consecutiva de desempenho positivo do índice.

O Ibovespa chegou a subir 1,7% no dia, refletindo os dados do relatório de emprego americano, mas perdeu força ao longo da tarde diante da desvalorização das Bolsas nos EUA. O índice Dow Jones recuou 0,96%, enquanto o Standard & Poor's 500 teve desvalorização de 1,25% e o termômetro de tecnologia Nasdaq caiu 2,60% -pior desempenho em dois meses.

Segundo analistas, os investidores americanos aproveitaram o dia para vender ações e embolsar lucros, já que as Bolsas dos EUA subiram fortemente desde o início do ano e têm apresentado pontuações recordes com frequência. "O mercado brasileiro aproveitou a piora americana para também realizar lucros. A Bolsa brasileira subiu muito nas últimas semanas e em algum momento seria natural apresentar alguma correção", diz Fernando Góes, analista da Clear Corretora.

As ações de estatais subiram, diante da expectativa pela pesquisa eleitoral prevista para o fim de semana. Os papéis mais negociados de Petrobras e Eletrobras fecharam com leves ganhos de 0,26% e 0,43%. Já o Banco do Brasil teve valorização de 0,90%. "O mercado está bastante insatisfeito com a ingerência do governo nas estatais e o uso dessas companhias como instrumento político. Logo, uma perspectiva de que Dilma perca pontos no levantamento acaba tendo efeito positivo na Bolsa", diz Julio Hegedus, economista-chefe da consultoria Lopes Filho.

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