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Nas casas de câmbio, dólar não é encontrado a menos do que R$ 4,22. | Marcelo AndradeGazeta do Povo
Nas casas de câmbio, dólar não é encontrado a menos do que R$ 4,22.| Foto: Marcelo AndradeGazeta do Povo

As sete altas seguidas do dólar nesta semana assustaram um pouco principalmente quem estava de viagem marcada. A moeda norte-americana fechou esta sexta-feira (24) a R$ 4,10. Um discurso do presidente de Jerome Powell, presidente do FED, o Banco Central americano, acalmou um pouco os ânimos externos, mas é o cenário político interno que mais deve mexer com o mercado. A volatilidade até as eleições deste ano, no entanto, deve ser menor do que a registrada em 2002, durante a corrida vencida pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. É nisto que apostam alguns analistas.

"A fragilidade do Brasil hoje é fiscal, e não externa. Então ela não deve se expressar tanto no câmbio", diz o economista-chefe no País do banco suíço UBS, Tony Volpon.

O economista destaca que a principal diferença entre 2002 e 2018 é o nível das reservas internacionais, hoje quase dez vezes maiores do que as de 16 anos atrás. "O Banco Central não tinha capacidade de sinalizar que poderia conter (a volatilidade)", acrescenta.

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À época, a relação entre reservas e dívida externa total brasileira era de 17%. Em 2018, essa proporção deve ficar em 67%, segundo estimativa do Credit Suisse. "O cenário de que a dívida não vai ser paga é muito menos provável. O país pode ter de pagar juro mais caro, mas tem grande capacidade de financiamento", diz o economista Lucas Vilela, do Credit. 

Para a cotação real (incluindo inflação) chegar ao patamar de 2002, o dólar teria de ultrapassar a casa dos R$ 7 — algo improvável, segundo os economistas. Na comparação com as corridas eleitorais de 2006, 2010 e 2014, no entanto, a volatilidade registrada até agora é maior.

Levantamento da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) mostra que o real se desvalorizou 3,41% entre junho e 20 de agosto deste ano. No mesmo período de 2014, a perda de valor da moeda brasileira foi de 2,53%. Em 2006 e 2010, houve, respectivamente, valorização de 1,3% e 2,32%.

Para Volpon, a tendência é de que a volatilidade atinja um pico às vésperas da votação. Depois, a tendência é de que o mercado se acalme conforme o eleito indique as medidas que adotará, reduzindo as incertezas.

No México, que elegeu um presidente de esquerda,  Andrés Manuel López Obrador, em julho, a volatilidade diminuiu até antes das eleições, já que a vitória do candidato era dada como certa. "Esse processo de comunicação antecipada acalmou o mercado", diz Volpon.

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Apesar da situação externa mais favorável, a crise fiscal preocupa o mercado e torna a sustentabilidade dos fundamentos econômicos mais delicada que em 2002, de acordo com o economista Luiz Fernando Figueiredo, sócio-fundador da Mauá Capital e ex-diretor do Banco Central.

O resultado fiscal primário no ano em que Lula foi eleito ficou positivo em 3% do PIB, enquanto, hoje, há um déficit de 2% do PIB.

"Agora, a questão não depende apenas de confiança. Àquela época, era só manter a situação fiscal. A dificuldade será maior no ano que vem. Se não se resolver o caminho da dívida pública, vai haver uma enorme volatilidade", diz Figueiredo.

Essa fragilidade demandará uma solução para o problema fiscal, o que incluirá uma reforma da Previdência, já no primeiro semestre de 2019, de acordo com o economista. 

Cenário internacional também não está tão fácil

Assim como em 2002, o cenário externo prejudica a situação brasileira. Hoje os fatores de pressão são, principalmente, a guerra comercial e as elevações na taxa de juros dos Estados Unidos. Lá atrás eram o calote da Argentina e a recessão da economia americana após o ataque às Torres Gêmeas que tornavam o financiamento brasileiro mais difícil.

"O período também era bastante hostil internacionalmente. Mas a participação do estrangeiro no país, principalmente na Bolsa, era muito menor", diz Volpon.

O presidente do banco central americano, Jerome Powell, mandou um recado nesta sexta-feira (24) ao republicano Donald Trump e defendeu a política de aumento gradual de juros nos Estados Unidos diante de uma economia em forte expansão. Isso acalmou um pouco os ânimos do mercado. 

Jerome Powell, presidente do Federal Reserve, o Banco Central americano. Seu pronunciamento nesta sexta (24) ajudou a acalmar o mercado sobre a política de juros dos Estados Unidos, criticada publicamente por Trump.ALEX WONGAFP

As declarações, feitas no simpósio econômico anual em Jackson Hole, Wyoming, foram acompanhadas de perto pelo mercado financeiro e tiveram reflexo no câmbio.

Às 12h25 (horário de Brasília), o dólar recuava 0,84% ante o real, para R$ 4,089, num movimento também de devolução após sete pregões de alta. Lá fora, o dólar perdia para 27 das 31 principais divisas do mundo.

Ao fim do dia, a moeda ficou em R$ 4,10, alta de 0,45% em relação ao dia anterior e após ter chegado até R$ 4,13 ao longo do dia. Com isso, nas casas de câmbio, dólar turismo não é encontrado por menos de R$ 4,22.

Powell disse que espera uma gradual, porém, firme política de aumento de juros enquanto o Federal Reserve (Fed) busca equilibrar o crescimento econômico com pressões inflacionárias e eventuais efeitos colaterais decorrentes da expansão americana.

Desde dezembro de 2015, o Fed já elevou sete vezes os juros nos EUA. Neste ano, foram duas altas, e mais duas são esperadas pelo mercado, uma na reunião de setembro e outra na de dezembro.

Trump já atacou a política monetária do Fed publicamente em três ocasiões, rompendo com uma tradição de anos em que os presidentes americanos procuraram garantir a independência do banco central.

Para o mercado internacional o aumento dos juros americanos é perigoso porque acaba por aumentar também o rendimento de investimentos em dólares. Com isso, aumenta a a procura por dólar no mercado, e o preço da moeda sobe.

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