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Fundo Monetário Internacional

"Turbulência é nova crise externa"

Brasília – O representante do Brasil no Fundo Monetário Internacional (FMI), Paulo Nogueira Batista Júnior, acredita que a atual turbulência nos mercados financeiros internacionais seja uma nova crise externa e não uma situação temporária. Segundo o economista, em períodos de crise são revelados novos problemas. Na atual situação, eles não estão mais limitados às hipotecas, mas se espalhando por outros setores e gerando dificuldades para grandes instituições financeiras.

Batista Júnior destacou que, diferente daquelas ocorridas nos anos 90, cujos focos foram países emergentes, esta potencial crise tem origem no centro da economia mundial, os EUA. Segundo ele, um risco importante é uma eventual atuação atrasada dos Bancos Centrais, como ocorreu no Japão nos anos 80 e colocou aquela economia em letargia durante anos. Mas observou que os BCs, por enquanto, têm tido atuação rápida com injeções enormes de liquidez no mercado.

O presidente Lula disse ontem que as oscilações do dólar fazem parte dos ajustes normais da economia, e enfatizou a solidez dos fundamentos da economia brasileira. "A turbulência americana não vai causar problema ao Brasil."

A crise no mercado imobiliário norte-americano voltou a derrubar bolsas de valores em todo o mundo e prolongou a queda da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). Em dia de recorde histórico de negócios, com movimento superior a R$ 18 bilhões, a Bolsa paulista fechou o pregão de ontem em forte baixa de 3,19%, aos 49.285 pontos. Foi o primeiro fechamento abaixo da marca de 50 mil pontos desde o início de maio. Em sentido oposto, o dólar superou a marca de R$ 2, o que não ocorria há três meses, e chegou ao fim do dia cotado a R$ 2,031, com alta de 2,27%. O câmbio já subiu quase 8% desde o início de agosto, mas no ano, ainda acumula desvalorização de 5%.

Se por um lado dá certo ânimo aos exportadores brasileiros, que há meses reclamam da baixa cotação, a alta da moeda norte-americana pode ter um efeito colateral que prejudicaria o setor produtivo. Analistas acreditam que, com o dólar em alta, fica mais difícil para o Banco Central controlar a inflação. O resultado é que a taxa básica de juros – a Selic, que serve de referência para os empréstimos – tende a cair em velocidade mais baixa nos próximos meses.

A Selic está em 11,5% ao ano e, se o dólar permanecer no atual patamar, a taxa dificilmente cairá mais que 0,25 ponto porcentual na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, em setembro. Na reunião passada, em julho, o corte foi de 0,5 ponto.

Para o estrategista de renda variável da paulistana Infinity Asset, George Sanders, a boa situação da economia brasileira não justifica a queda da Bovespa e, muito menos, a alta da moeda norte-americana. Segundo ele, o recente avanço do dólar é conseqüência do mau momento das bolsas estrangeiras e, assim que a turbulência passar, é provável que a moeda volte a oscilar entre R$ 1,85 e R$ 1,90.

"Com esse problema no exterior, os fundos de investimento estrangeiros estão precisando de dinheiro para cobrir os saques de seus clientes. Então recorrem a mercados com grande liquidez [facilidade de compra e venda], como o Brasil", explica Sanders. Por aqui, os fundos vendem as ações que têm em mãos e acabam derrubando a Bovespa. Com o dinheiro da venda, compram dólares para enviá-los a suas sedes no exterior. Com mais demanda por dólares, a cotação da moeda naturalmente sobe.

A justificativa para o "desespero" dos fundos estrangeiros é a crise do segmento "subprime" do setor imobiliário dos Estados Unidos (EUA). Os empréstimos desse segmento, concedidos a consumidores com histórico de calote, são de alto risco. Como a inadimplência atingiu níveis alarmantes, os fundos que tinham investimentos atrelados ao subprime perderam rentabilidade, motivando os saques.

Ao contrário das crises da década de 90, que surgiram em países emergentes, a atual turbulência começou nos EUA e, por enquanto, está restrita ao mercado financeiro. Mas há temores de que possa afetar a "economia real" e prejudicar o ritmo de crescimento mundial.

Analistas são cautelosos em arriscar até onde vão a Bovespa e o dólar: os palpites, cheios de ressalvas, são de que o câmbio pode chegar a R$ 2,20 e a Bolsa, cair a até 47 mil pontos. Para Gustavo Andrade, agente de investimentos da curitibana Investflow, a volatilidade dos mercados deve durar pelo menos mais duas semanas. "Em setembro, o Fed [banco central dos EUA] anuncia os juros americanos [hoje em 5,25% ao ano]. Se ele cortar, pode dar um alívio ao mercado."

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