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A expectativa nunca serviu para apressar as coisas. Pelo contrário, a ansiedade tem o poder de tornar a espera sempre mais longa do que o necessário. Talvez essa seja a melhor explicação para os sucessivos adiamentos que a 3D Realms impõe indefinidamente ao seu ultra-aguardado game Duke Nukem Forever – que está completando incríveis dez anos de desenvolvimento. O título deve ser a "verdadeira" seqüência para Duke Nukem 3D, um dos maiores sucessos do entretenimento eletrônico em 1996. Mesmo sendo ainda inédito, o jogo recebe atenção quase constante da mídia e dos fãs de games. A resposta vinda dos laboratórios da desenvolvedora texana, entretanto, é sempre a mesma: o produto será lançado quando estiver pronto. Ou seja, não existe data programada para sua estréia. Duke Nukem Forever tornou-se, dessa maneira, um exemplo de "vaporware". O termo é usado para descrever um software ou hardware em desenvolvimento há tanto tempo que se começa a especular sobre seu abandono.

Por isso mesmo, vaporwares são vistos por gamers de todo o mundo como uma traição da indústria. Os anos à espera do lançamento de um programa seriam retribuídos com mais atrasos ou, pior, cancelamentos. Com o custo de desenvolvimento nas alturas, entretanto, a desistência não deveria surpreender. Somente neste ano, dois grandes projetos (The City of Metronome e The Lord of the Rings: The White Council) foram deixados de lado. O que surpreende no caso de Duke Nukem é que a 3D Realms, ao que tudo indica, continua tocando sua programação. O game passou por inúmeras transformações, mas seus criadores dizem que tudo é feito para que entregar o melhor produto final possível.

Depois de tantos anos, muitos deixaram de levar a desenvolvedora a sério e, recentemente, até o nome do jogo virou sinônimo para vaporware. Trailers e imagens do game foram divulgados em 1997, 1999 e 2001. Em todas as vezes, parecia que a continuação de Duke Nukem 3D estava finalmente próxima de chegar às lojas, mas o sumiço dos últimos tempos prova que isso nunca foi verdade. Curiosamente, o desaparecimento de Duke Nukem Forever acabou lhe conferindo uma fama que talvez não alcançasse caso tivesse sido lançado. A revista Wired colocou-o no topo de seu ranking anual de vaporwares em 2001 e 2002. No ano seguinte, a publicação lhe ofereceu a colocação novamente, mas inserida numa espécie de "prêmio pelo conjunto da obra" – inclusive para dar espaço a outros softwares que não vêm à luz do dia. Não adiantou, e em 2005 lá estava Duke Nukem novamente encabeçando a lista.

Mesmo assim, a série mantém sua base fiel de fãs. Quando o designer George Broussard, da 3D Realms, publicou em janeiro uma pequena imagem de Duke Nukem que até então ninguém havia visto, uma enxurrada de fóruns começou a discutir o que aquilo significava. Broussard veio a público e admitiu que se tratava de um novo screenshot e, dali em diante, a cobertura em torno de Duke Nukem Forever explodiu.

É bom salientar que o otimismo recente tem boas razões para existir. Prey, ex-vaporware da 3D Realms, foi lançado sob aplausos da crítica no ano passado – 11 anos depois de seu primeiro anúncio. O game, de tiro em primeira pessoa à la Duke Nukem 3D, contém muitas das características que – acredita-se – Duke Nukem Forever deve incorporar: personagens complexos, espaços interativos e com muitas possibilidades de exploração e até uma pequena dose de humor (grande responsável pela popularidade do exterminador de alienígenas Duke). Por tudo isso, os boatos sobre a estréia iminente de Duke Nukem Forever são justificáveis.

A 3D Realms não é a única a protelar seus lançamentos por anos a fio. A Valve, desenvolvedora da bem-sucedida série Half-Life e do sistema de distribuição digital Steam, anunciou que Team Fortress 2 – o jogo online de ação em desenvolvimento desde 1998 – chegaria às prateleiras até o fim deste ano. As mudanças desde a sua concepção são gritantes. Os personagens são bastante estilizados e mais próximos de um desenho animado, o que talvez sirva para diferenciar o título de outros simuladores militares, como a série Battlefield e America’s Army.

Outros casos, em retrospecto, pareciam fadados ao fracasso desde o início. O console Phantom, da extinta Infinium Labs (que hoje se chama Phantom Entertainment), guardava seu destino no próprio nome (fantasma em inglês). Anunciado em 2002, o Phantom deveria ser o primeiro videogame a dispensar completamente a mídia física – tudo seria baixado nele por meio de uma conexão em banda larga. Depois de vários atrasos e algumas denúncias de fraude corporativa, o projeto foi cancelado e substituído por um mero sistema de distribuição de conteúdo aos moldes do Steam, da Valve Corporation.

Uma das maiores preocupações dos desenvolvedores de vaporware – tanto falsos como verdadeiros – é manter seus projetos longe da exposição pública. Como resultado, o mercado vai perdendo interesse. Existe o argumento de que períodos longos de gestação resultam em produtos mais bem acabados. O Windows Vista, por exemplo, demorou cinco anos para ser moldado (como Windows Longhorn). Games com processos muito rápidos de programação geralmente vêm cheios de bugs e inconsistências. E nada pior do que ser tachado de "defeituoso" neste mercado.

Revelar um screenshot de vez em quando é muito mais barato do que empregar um grande time de desenvolvedores ou elaborar grandes campanhas publicitárias. Mas o problema está em reverter os anos e o dinheiro investidos em vendas e lucro. Duke Nukem está deixando de ser conhecido. Quantos gamers – os mais jovens, especialmente – estão interessados em comprar um novo título de uma série cujo exemplar mais recente conta com 11 anos de idade?

Supondo que Duke Nukem Forever seja realmente lançado, ele terá sucesso? Impossível de dizer, mas é melhor a 3D Realms estabelecer uma política mais transparente para não perder uma parte importante de sua base de admiradores. A ansiedade, afinal de contas, não serve para apressar – mas, após algum tempo, pode levar ao estresse.

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