Juros e câmbio foram o cerne dos debates da primeira manhã do seminário "Caminhos do Crescimento", promovido pela Câmara dos Deputados. O economista Luciano Coutinho defendeu que o Banco Central seja mais ativo e discreto para evitar que o real continue sobrevalorizado, o que poderia prejudicar o parque produtivo e as exportações.
"O BC precisa parar de anunciar tudo o que faz", disse o economista, defendendo intervenções oficiais no mercado sem publicidade. Coutinho alertou para o risco de o dólar continuar próximo de R$ 2 pelos próximos dois anos. "Muitas empresas já estão planejando transferir produção para a Argentina", alertou.
O economista e professor da Unicamp é mais otimista em relação aos juros. "É possível que a taxa real de juros chegue a 6% ao ano no final de dois anos, aproveitando o momento que dá maior robustez às contas externas brasileiras", disse Coutinho.
Hoje, a taxa real de juros está por volta de 12% ao ano. Para uma queda mais efetiva da taxa Selic, entretanto, Coutinho defende uma revisão dos gastos públicos, principalmente da Previdência. Resolvidos esses problemas, o economista acredita que é possível que a economia cresça de forma sustentável, com baixa inflação, a índices de 5% a 6% ao ano.
Já o primeiro debatedor do seminário, o economista José Márcio Camargo, foi mais enfático ao defender grandes reformas, sem as quais será impossível baixar os juros reais de forma efeitva. "Toda vez que os juros reais caíram para patamares próximos a 9% houve choque de demanda e a inflação subiu", disse Camargo.
Para ele, é necessário uma intervenção radical na Previdência Social. "Hoje gastamos 13% do PIB para 6,7% da população idosa, e só 3% do PIB para os jovens e crianças com menos de quinze anos, que representam 30% da população", disse.
Ele lembra que a redução dos gastos públicos e o incremento na qualidade da educação básica é a chave do sucesso que pode garantir crescimento de longo prazo. "Essa foi a experiência da Coréia do Sul, que nos anos 50 tinha um PIB per capita equivalente a metade do nosso e hoje tem o PIB per capita que representa o dobro do nosso", disse o economista.
O seminário continua à tarde com discussões sobre a artuação do Banco Central e amanhã com debates sobre infra-estrutura.



