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Feira de Natal em Curitiba.
Feira de Natal em Curitiba.| Foto: Levy Ferreira/SMCS

Cerca de 9 milhões de brasileiros pretendem ir às compras antes do Natal, segundo pesquisa da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) em parceria com a Offer Wise Pesquisas. Essses brasileiros, porém, não terão uma tarefa simples. Além dos cuidados para não contrair a Covid-19, vão enfrentar preço alto e falta de produtos, duas consequências deixadas pela pandemia.

Segundo a pesquisa, a parcela dos brasileiros que planejam fazer compras na semana do Natal é praticamente a mesma de 2019. A diferença está no principal motivo para deixar as compras pra última hora. Neste ano, mais da metade (61 2%) vai usar essa estratégia para encontrar alguma promoção e economizar. Em 2019, eram 47,7%.

Além de deixar as compras para a última hora em busca de pechinchas, a pesquisa mostra que a intenção de gasto médio com alimentos e bebidas no Natal diminuiu 10% este ano, ante 2019. A expectativa de desembolso é de R$ 225.

Gastar menos especialmente com alimentos e bebidas num ano em que a comida foi a vilã da inflação não será nada fácil para o consumidor. Um estudo da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) mostra que o Natal de 2020 terá a maior inflação dos últimos cinco anos.

Os preços de um grupo de 214 produtos e serviços mais consumidos neste período do ano subiram 9,4% nos 12 meses encerrados em novembro. É mais que o dobro da inflação geral do mesmo período pelo Índice Preços ao Consumidor Amplo, de 4,3%. O cálculo, feito pelo o economista-chefe da CNC, Fabio Bentes, considerou os preços que entram na apuração do índice oficial de inflação do IBGE.

Em 2015, a inflação de Natal atingiu 11% e os preços dos alimentos natalinos tinham subido 12,9%. Agora, esses alimentos aumentaram 16% em 12 meses até novembro. Só o peru, um dos ícones da data, ficou 11,21% mais caro no período, segundo a Associação Paulista de Supermercados (Apas).

O que explica a alta do preço

A disparada de preços dos alimentos ocorre em razão dos aumentos das cotações dos grãos, como soja, arroz, milho, por exemplo, impulsionadas pela maior procura interna e externa por comida. A subida do dólar, que baliza os preços dessas commodities, também jogou mais lenha na fogueira das cotações em reais e estimulou as exportações, reduzindo a oferta doméstica.

A alta do câmbio também inflou os preços em reais de outros itens muito procurados no Natal, como os eletrônicos, que levam boa dose de componentes importados. TVs, som e informática ficaram 14,7% mais caros nos últimos 12 meses. Mas os alimentos estão no topo do ranking dos maiores aumentos, seguidos por joias e bijuterias (15%), bicicletas (10,6%), telefones (6,3%), entre outros. Já vestuário e passagens áreas registram deflação.

“A armadilha é o preço do alimento”, frisa Bentes. Como não há como escapar do consumo de comida, o brasileiro deixa de comprar outros itens.

O assessor econômico da Fecomércio/SP, Altamiro Carvalho, concorda com Bentes. “O cobertor é curto.” Na sua opinião, o que deve acontecer no Natal é o que vem ocorrendo desde o início da pandemia: as pessoas vão abrir mão de outras despesas para dar prioridade à compra de alimentos.

Varejo reclama da falta de cerveja a eletrodoméstico

A falta de vários tipos de produtos no varejo, da cerveja premium a modelos de eletrodomésticos mais vendidos, pode ser um obstáculo ao avanço das vendas neste Natal, além da disparada da inflação.

Com a paralisação que houve no início da pandemia e o fechamento das lojas físicas, muitas indústrias reduziram o ritmo de produção com medo de acumular estoques. Resultado: as cadeias de produção se desorganizaram.

Mas com o aumento abrupto do consumo registrado nos últimos meses, muitos fabricantes não conseguiram retomar o ritmo produção anterior para atender às encomendas. Há dificuldade de obter matérias-primas, componentes eletrônicos e, principalmente, embalagens.

Esse problema é nítido na Sondagem do Comércio do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV). Nos últimos dois meses, quase um quarto das empresas do varejo apontou o tempo de entrega dos fornecedores como um fator limitante à melhora dos negócios. Foi o maior resultado mensal alcançado nesse quesito desde março de 2010.

“Em novembro, até houve uma acomodação, mas ainda há muita empresa reclamando da entrega de fornecedores, o que reflete a dificuldade que a indústria enfrenta”, diz o coordenador da sondagem, Rodolpho Tobler .

Um segmento que chama atenção é o de móveis e eletrodomésticos, onde a fatia de lojas apontando a entrega de produtos como um problema atingiu 40,5%, em outubro, e 26,5%, em novembro.

Para José Domingos Alves, supervisor-geral da Lojas Cem, terceira maior varejista de móveis e eletrodomésticos do País em faturamento, a falta de mercadorias hoje é um problema maior para as vendas de fim de ano do que a inflação.

“Temos produtos comprados e com a entrega atrasada há mais de um mês”, reclama Alves, assinalando que não ter o item disponível na loja significa perder venda. O executivo conta que a situação é generalizada nos eletroeletrônicos, porém é mais crítica na linha branca, que reúne freezers, fornos micro-ondas e fogão, por exemplo.

A perspectiva, diz Alves, é que as entregas se regularizem só no segundo trimestre de 2021. Segundo ele, os fabricantes já sinalizaram novos aumentos de preços para o ano que vem.

Os supermercados também enfrentam dificuldade com a falta de tipos de cervejas, especialmente as da linha premium. Em novembro, a falta do produto beirou 20%, uma marca recorde, segundo a Neogrid, que monitora a cadeia de suprimentos de 40 mil lojas no país.

Auxílio emergencial e vendas online garantem Natal

Em meados do ano, quando a flexibilização da quarentena permitiu que as lojas físicas de todos os segmentos do comércio voltassem a funcionar, pareceria um delírio prever que este Natal poderia ter crescimento de vendas. Hoje, as projeções vão do empate até uma alta real (acima da inflação) de 3,4% no volume de vendas ante o Natal de 2019, porém com comportamentos distintos entre os vários segmentos.

O auxílio emergencial, que já injetou quase R$ 300 bilhões na atividade, é apontado pelos economistas como a “tábua de salvação” que tem garantido a rápida retomada das vendas. Em outubro, pelo sexto mês seguido, o comércio varejista cresceu sobre o período imediatamente anterior, aponta a Pesquisa Mensal de Comércio, do IBGE, e registrou desempenho 8,3% acima do primeiro bimestre, quando não havia pandemia.

Juros na mínima histórica, facilitação de pagamento pelos lojistas, como alongamento de prazos e até aceitação de cheque pré-datado, no caso de pequenos comércios, além do repasse parcial da alta de preços, têm ajudado nas vendas.

“Dá para comemorar a virada do jogo, mas não dá para comemorar a goleada”, afirma o economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), Fabio Bentes. A entidade ampliou de 2,2% para 3,4% o crescimento das vendas de Natal para este ano ante 2019.

A expectativa é que o Natal movimente R$ 38,1 bilhões. Se a projeção se confirmar, será o maior crescimento desde 2017, quando a variação havia sido de 3,9% sobre o ano anterior. No ano passado, as vendas do Natal avançaram 2,7%.

Entre os fatores que sustentam a projeção, o economista aponta a própria dinâmica de recuperação que o varejo vem experimentando nos últimos meses e o forte desempenho do comércio online. Embora represente uma parcela pequena das vendas totais do varejo, o e-commerce é tido como uma importante alavanca para esse crescimento. A expectativa da CNC é de um crescimento real de 64% nas vendas do comércio online no Natal.

“O Natal deste ano vai ficar perto do desempenho do ano passado, com destaque para o comércio online”, afirma o economista-chefe da Associação Comercial de São Paulo, Marcel Solimeo. Na sua avaliação, diante do atual cenário “empatar será um bom resultado”.

Solimeo reforça que o alongamento dos prazos do crediário, que já chega a 30 meses nas grandes lojas, e juros na mínima histórica devem ajudar nas vendas. No entanto, ele acrescenta outro fator importante: a poupança. “Tem muita gente que ficou sem comprar há muito tempo e tem dinheiro guardado para gastar no Natal.”

Embora o auxílio emergencial tenho sido cortado pela metade a partir de setembro, do ponto de vista macroeconômico a poupança compulsória formada pela classe média alta ao longo dos meses compensaria a perda de recursos do auxílio que irrigaria as vendas do Natal, explica Solimeo.

Para Rodolpho Tobler, coordenador da Sondagem do Comércio do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas, o Natal deste ano será um pouco melhor do que o de 2019 graças ao auxílio emergencial. Mas ele pondera que poderia ser melhor ainda se o dólar não tivesse tão alto e a inflação, tão pressionada pelos alimentos. “No início da pandemia, a gente não achava que teria um Natal positivo”, lembra.

Altamiro Carvalho, assessor econômico da Fecomércio/SP, projeta aumento de 1% no faturamento do comércio no Estado de São Paulo para a data. “Sem o auxílio emergencial, o desempenho do Natal seria negativo entre 2%e 3%, com a absoluta certeza.”

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