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Um bonequinho de casamento. Veste smoking e observa a todos do topo do bolo – mas, fora isso, sequer consegue se mexer. É assim que Hugo Rodríguez descreve sua experiência como executivo entre meados de 2004 e janeiro de 2006. Nesse período, ocupou o cargo de diretor-presidente, o mais importante da rede de farmácias Drogamed, mas sem ter autonomia para tomar qualquer atitude.

Embora tenha sido tirado da diretoria comercial do grupo Pão de Açúcar pela chilena Farmácias Ahumada S/A (Fasa), então controladora da Drogamed, Rodríguez nunca teve a chancela da AIG, parceira da Fasa no negócio. Assim, assistiu de camarote às últimas tentativas dos chilenos para recuperar a maior rede de farmácias do estado – que, em plena UTI, continuava a ser tratada com xarope doce.

Depois de uma série de aventuras, Fasa e AIG não foram muito hábeis na tentativa de conter a hemorragia de gastos da Drogamed. As dívidas cresciam R$ 600 mil por mês, e as controladoras pensaram que a solução estaria em seguidas injeções de dinheiro. Primeiro, US$ 9 milhões. Em maio do ano passado, estudavam fazer um novo aporte, de mais US$ 20 milhões. Foi quando concluíram que, cinco anos após comprar uma rede que estava bem de saúde, era hora de passar a paciente Drogamed para a frente.

Quem assumiu o caso não foi exatamente um especialista. Sob a condição de herdar todas as dívidas da rede, o peruano Hugo Rodríguez – formado em engenharia de pesca – tornou-se há dois meses o proprietário de uma rede de 88 farmácias depois de apenas um ano e meio de experiência no ramo. Para um outro empresário do varejo farmacêutico, essa condição de peixe fora d’água pode atrapalhar um pouco. "Ele é muito centrado e tem boa vontade. Mas não conhece muito bem o mercado", diz esse empresário. Por isso, acredita que Rodríguez pode demorar um pouco para encontrar o tratamento certo para a Drogamed. "Ele ainda vai se bater um pouco. Mas acho que vai conseguir, sim."

Naturalizado brasileiro há alguns anos, e de cabelos brancos já aos 51, Rodríguez fala com sotaque indisfarçável. Mas conversa em português com alguma desenvoltura, embora vez ou outra deixe escapar um verbo em espanhol. E, ao contrário do que se esperaria de um executivo nessa situação, não usa meias-palavras para relembrar seu desconforto durante a curta e nada glamourosa história que teve à frente da Drogamed enquanto a Fasa ainda era a dona do negócio.

Com quase duas décadas de carreira corporativa, o engenheiro de pesca pode até não ter cursado a "faculdade barriga no balcão", considerada importante para quem comanda tantas farmácias. Mas convicção ele demonstra ter. Para extinguir os vícios que a Drogamed adquiriu após cinco anos de vida desregrada sob a gestão da Fasa, prescreveu de imediato um amargo remédio: contenção de gastos. Só assim, diz Rodríguez, conseguirá sanear as dívidas da rede dentro do prazo de três anos que estabeleceu.

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