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A pressão de grandes companhias nacionais e estrangeiras conseguiu tirar das mãos de tradicionais famílias curitibanas o comando de empresas centenárias, mas nem por isso colocou um ponto final na história de empreendedorismo de sobrenomes como Prosdócimo, Demeterco e Senff. Eles continuam ativos, emprestando sua experiência de gerenciamento a ramos diferentes daqueles fundados por seus pais ou avós. Hoje, quem trabalhava com geladeira lida com fornos, e quem passou anos à frente de supermercados lucra com cartão de crédito ou investe seu tempo prevenindo a violência e levando outros empresários a pensar em responsabilidade social.

Primeiro a ceder ao poder econômico das multinacionais, com a venda da então quarentona Refripar, em 1996, Sérgio Prosdócimo já apostou na fabricação de embalagens, como sócio da Brasholanda (que depois foi vendida para a finlandesa Huhtamaki) e hoje investe seu tempo e dinheiro na educação corporativa à distância, como sócio e conselheiro na empresa Dtcom, e no comando da Charlotte Pães e Torradas, que ele comprou quase falida em 2001.

"É à Charlotte que eu dedico a maior parte do meu tempo. Colocamos dinheiro na empresa e ela passou de 30 funcionários para quase 200 atualmente, em três turnos de trabalho, com um salto no faturamento mensal de R$ 70 mil para R$ 1,5 milhão", conta.

O estresse de estar à frente de mais de oito mil funcionários em 12 empresas contribuiu para quatro cirurgias cardíacas após a venda para a Electrolux. Hoje, o empresário, de 65 anos, diz que se incomoda bem menos. "Ainda sou um administrador à moda antiga, que acredita que o olho do patrão engorda o gado, mas aprendi a reduzir o ritmo e a aproveitar mais a família", afirma.

Roberto Demeterco decidiu já em 1997, um ano antes da venda da rede Mercadorama para o grupo português Sonae, que tocaria no Brasil um projeto sueco de prevenção de violência, apresentado durante uma reunião internacional de empresários e que tem como enfoque a conversa para resolução de conflitos, atacando o problema e não a pessoa. É só sobre o Projeto Não-Violência que Demeterco fala atualmente com a imprensa.

"Estou aposentado, participo como conselheiro em algumas entidades, presido o projeto e participo das reuniões semanais dele e, fora isso, pratico esportes e aproveito nossa casa da praia", resume. O fato de não ter fins lucrativos não significa que o comando da ONG não exija experiência de administrador. O projeto tem trabalho com arrecadação de recursos, definição de ações e auditorias para prestação de contas aos mantenedores. "A alegria do administrador com os resultados é a mesma, a diferença é que neste caso o bom desempenho não é sinal de lucro financeiro", diz ele.

Apesar de ter vendido os supermercados Parati para a rede Pão de Açúcar, em 2000, a família Senff continua lucrando no varejo – não com a venda de produtos de consumo, mas com a oferta de dinheiro para a compra deles. Os Senff apostaram no cartão de crédito voltado para a classe popular. São 5 mil estabelecimentos no Paraná, Santa Catarina e Rio de Janeiro, aceitando os cartões de cerca de 500 mil clientes. "Praticamente emendamos a venda dos supermercados com o lançamento do cartão de crédito. Foi apenas uma questão de adaptação, algo que, na dinâmica do mercado de hoje, acaba acontecendo mesmo dentro do próprio negócio", avalia Leopoldo Senff, de 35 anos, presidente da empresa.

O pai de Leopoldo, Rui Senff, que comandava o Parati, hoje atua como conselheiro no novo empreendimento. "Ele nunca vai se afastar totalmente. Está sempre muito próximo do dia-a-dia da empresa", informa o filho.

É o inverso do que acontece na família Frischmann, dona das lojas de roupas masculinas Frischmann’s (estabelecimento também conhecido como "o amigão", no antigo jingle da marca). Maurício Frischmann, 73 anos, garante que não dá mais palpite nas lojas. "Agora é assunto da minha filha", diz. A rede de lojas não foi vendida, mas mudou de perfil devido à concorrência das redes nacionais, saindo de grandes espaços para pontos comerciais menores. O prédio da Praça Tiradentes, onde a loja funcionou por 83 anos, foi alugado para a rede Riachuelo.

Apesar de ter se desligado do comando das lojas, Frischmann não se aposentou. Está chefiando a parceria que fez com a construtora paulista Tecnisa para a construção de um empreendimento imobiliário no bairro Champagnat. "Meu trabalho agora é com construção civil. Achei uma ótima oportunidade de me manter vivo e atuante", afirma o empresário.

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