• Carregando...

A Itália está em crise. A quarta maior economia da Europa (terceira da zona do euro) tem uma dívida de 1,8 trilhão de euros, seu primeiro-ministro está demissionário e a formação de um novo governo está difícil, dado o tamanho do desafio que há pela frente. O grande temor é que o país não consiga pagar a dívida estrondosa. Antecipando o risco de calote, o mercado tem cobrado juros cada vez mais altos para manter em carteira os titoli di Stato – os títulos públicos de lá. Os BTp com prazo de dez anos atingiram 7,48% ao ano, um recorde.

Já o Brasil está em um bom momento. O PIB está crescendo e as empresas têm boas perspectivas de ganho, especialmente as que têm seu foco no mercado interno. A chance de calote na dívida é quase nula. Por isso os juros aqui estão em queda, e os títulos públicos de dez anos (NTNF) estavam pagando ontem 11,17%, segundo o site do Tesouro Direto.

O leitor percebeu algo errado? Sim, é isso mesmo: para manter títulos em carteira, o mercado exige mais do governo brasileiro do que pede à combalida Itália. É uma distorção, como se o dono da padaria bajulasse o cliente que compra fiado e não paga. O Brasil ainda é carimbado como emergente e arriscado, e as práticas exóticas de décadas passadas (lembra do Plano Collor?) ainda assombram os investidores internacionais. Por outro lado, a Itália desfruta do glamour do euro, embora venha contraindo dívidas de modo acelerado há um bom tempo.

Os grandes investidores globais não são burros. Eles estão tirando proveito disso, tenha certeza. Por aqui, a oportunidade é excelente para convencer o capital internacional de que o Brasil é um bom negócio, e que uma das mais preocupantes sombras sobre seu futuro é justamente a alta taxa de juros. A crise de agora pode ser um bom momento para dissipá-la.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]