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Dólar reduz as exportações de madeira e empresas demitem

A queda contínua do dólar, que de janeiro de 2006 até o início deste mês teve variação negativa de 18,4%, golpeou duramente o setor madeireiro no Brasil. As exportações de madeira e manufaturas de madeira caíram de 2,3 milhões de toneladas no primeiro quadrimestre de 2005 para 1,8 milhão no mesmo período de 2007, de acordo com dados da balança comercial do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC).

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Vendas da indústria recuam em abril com queda do dólar, diz CNI

As vendas reais da indústria apresentaram queda de 0,9% em abril deste ano, contra o mês anterior, informou, nesta segunda-feira (4), a Confederação Nacional da Indústria (CNI). Segundo a entidade, o recuo das vendas em abril deste ano é reflexo da queda de 2,7% do dólar no período. No acumulado dos quatro primeiros meses deste ano, porém, o resultado ainda está positivo, visto que as vendas subiram 4,8%.

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A queda acentuada do dólar nos últimos meses, apesar de criticada pelo setor exportador, proporcionou a obtenção de um valor histórico para o salário mínimo - pelo menos com referência na moeda norte-americana. Com o dólar oscilando próxima da barreira dos R$ 1,96, o salário mínimo brasileiro de R$ 380 alcançou US$ 194. Na semana passada, quando o dólar caiu a R$ 1,90, chegou ao patamar inédito de US$ 200. Estes são os maiores valores pelo menos desde 1953, quando tem início a série histórica do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e do Banco Central.

Em janeiro de 1953, o salário mínimo estava em US$ 64,21. No início dos anos 60, porém, já havia recuado para cerca de US$ 32. Ao patamar de US$ 50, o salário mínimo chegou somente em 1973. A barreira dos US$ 100, por sua vez, foi atingida em 1981, mas voltou a cair nos meses subsequentes. Se firmou acima dos US$ 100 somente em meados de 1995, após o Plano Real, mas voltou a cair abaixo disso em 1999 com a crise da Rússia - quando o real perdeu valor e o dólar subiu. O salário mínimo ultrapassou somente em 2006 a marca dos US$ 150.

Em maio deste ano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que o dólar abaixo de R$ 2, apesar de ter efeitos nocivos para a indústria exportadora, traz benefícios para o trabalhador assalariado. "[O dólar] é bom para alguns e ruim para outros. Certamente, para quem vive de salário é bom", afirmou Lula na ocasião. Abrangência do salário mínimo

A avaliação de Lula é compartilhada pelo presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho. Para ele, a proximidade da marca de US$ 200 é importante para abandonar a discussão anterior de que o salário mínimo deveria ser de, pelo menos, US$ 100. "O ideal é que o salário mínimo seja de pelo menos US$ 300", acrescentou. Para ele, o aumento do mínimo para cerca de US$ 200 também eleva o rendimento das outras categorias. "Quando sobe o piso, aumenta todos os salários [também em dólar] de maneira geral", afirmou.

Ao todo, segundo dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), cerca de 44 milhões de pessoas tem seu salário atrelado ao valor do salário mínimo. Além do trabalhador, também recebem o salário mínimo os aposentados - que estão dentro dos 44 milhões. Segundo a Previdência Social, são pagos mensalmente aposentadoria a quase 22 milhões de pessoas, das quais 68% recebem até um salário mínimo - quase 17 milhões de aposentados.

Comparação com outros países

Na comparação com o resto do mundo, o valor próximo de US$ 200 para o salário mínimo brasileiro não é muito alto. Na América Latina, o salário mínimo da Argentina (cerca de US$ 260), da Colômbia (US$ 225) e do Chile (US$ 257) ainda são mais elevados do que o brasileiro.

Nos Estados Unidos, o salário mínimo é estabelecido por horas. Para uma jornada de 8 horas por dia, em 22 dias úteis, um trabalhador norte-americano recebe US$ 1,27 mil. No Reino Unido, o salário mínimo é de aproximadamente US$ 1,2 mil por mês. Na Alemanha, o mínimo é superior a US$ 1,6 mil por mês.

Na França, para uma jornada de 35 horas por semana, o trabalhador recebe pouco mais de US$ 1,5 mil em um mês. No Japão, para 40 horas semanais, o salário mínimo está em cerca de US$ 850 por mês. Na Espanha, o trabalhador recebe um salário mínimo superior a US$ 700 por mês.

A comparação do salário mínimo entre os países, porém, não proporciona elementos sobre o poder de compra real dos trabalhadores em cada um deles.

Poder de compra e necessidades

Para o professor de Economia da Universidade de Brasília (Unb), Ricardo Caldas, o aumento do salário mínimo em dólares significa elevação do poder de compra do trabalhador brasileiro. Entretanto, ponderou que é preciso "relativizar" esta análise, visto que nada impede uma subida do dólar no futuro. Uma elevação na moeda norte-americana baixaria de novo o valor do salário mínimo em dólares.

"Com certeza é positivo [um salário mínimo próximo de US$ 200]. Mas o que importa é que o poder de compra do salário mínimo está aumentando. O preço da cesta básica caiu, também por causa das reduções de impostos. Com isso, a população mais pobre está comprando produtos que antes não podia adquirir, como presunto e danoninho", disse Caldas.

De fato, o poder de compra do salário mínimo aumentou nos últimos anos. Segundo informações do Dieese, o salário mínimo de 2007, em R$ 380, é suficiente para comprar 2,05 cestas básicas. Há dez anos atrás, em 1997, o trabalhador que ganhava salário mínimo conseguia comprar 1,23 cesta básica. A relação obtida em 2007, de 2,05 cestas básicas, ainda de acordo com o Dieese, é a maior desde 1971. Descontada a inflação, porém, é a mais alta desde 1983.

Entretanto, o próprio Dieese avalia que o salário de R$ 380, ou perto de US$ 200, está aquém das necessidades do trabalhador brasileiro. Para satisfazer a Constituição e, com isso, atender às necessidades vitais básicas do cidadão e de sua família, como com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social, o salário mínimo deveria ser de R$ 1,6 mil, segundo cálculos do Dieese. Com o câmbio de R$ 1,96, cerca de US$ 815.

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