• Carregando...
Criação de suínos no Paraná: movimento especulativo preocupa agroindústria. | Christian Rizzi/Gazeta do Povo
Criação de suínos no Paraná: movimento especulativo preocupa agroindústria.| Foto: Christian Rizzi/Gazeta do Povo

Surto derruba cotação de commodities

A preocupação com a gripe suína derrubou as bolsas de valores e mercantis por todo o mundo ontem. Com a maior aversão ao risco, os investidores correm para o dólar e títulos públicos do governo dos Estados Unidos, enquanto vendem ações e commodities. Soja, milho e trigo, principais grãos negociados na Bolsa de Chicago, registraram quedas expressivas. O primeiro contrato da oleaginosa recuou 35,5 pontos, para US$ 10,0475 o bushel (27,2 quilos); o milho, a US$ 3,7225 o bushel (25,4 quilos), caiu 4,75 pontos; o trigo perdeu 24,25 pontos e fechou cotado a US$ 5,08 o bushel (27,2 quilos). "O milho caiu menos porque tinha menos gordura para queimar, não estava tão valorizado quanto a soja, por exemplo", explica Steve Cachia, da Cerealpar.

"Particularmente, acho que o mercado superestimou a questão da gripe suína, pois ainda é muito cedo para saber qual será o impacto do surto na demanda por grãos e também na economia mundial", avalia o analista norte-americano Vic Lespinasse, da grainanalyst.com

O surto de gripe suína, que teve início no fim de semana na América do Norte e com casos já confirmados em várias partes do mundo, impactou negativamente o mercado de commodities como o milho e a soja. Por outro lado, analistas creem que o embargo parcial da Rússia e da China à carne suína proveniente dos Estados Unidos oferece uma oportunidade aos exportadores brasileiros. A dúvida que permanece no ar, entretanto, é em relação à qualidade da vigilância fitossanitária que o Brasil dispensa aos seus rebanhos.

O presidente da Associação Brasileira de Agribusiness (Abag), Carlo Lovatelli, afirma que o surto "é preocupante" e afeta as cotações do mercado agrícola. Lovatelli alerta que esse movimento tem também um componente especulativo. "A gripe atinge milho e soja principalmente na área de alimentação humana. Endemias são perigosas e a fofoca anda na frente, o que mexe com o mercado", disse.

Na avaliação do presidente do Sindicato da Indústria de Carnes e Derivados do Paraná (Sindicarne), Péricles Salazar, o país pode se beneficiar das decisões russa e chinesa de suspender a importação de carne de porco dos estados norte-americanos afetados pela doença – Texas, Kansas, Califórnia, Ohio e Nova Iorque, entre outros. "É uma oportunidade comercial para o Brasil, mas antes é preciso cessar o pânico entre os consumidores para evitar a retração da demanda", pondera o dirigente.

Por isso, antes de pensar em expandir as exportações, é necessário resolver problemas mais urgentes, de ordem sanitária, aumentando a vigilância para impedir que o vírus chegue ao país, afirma Salazar.

Até que as questões sanitárias sejam resolvidas, a gripe suína não deve trazer nenhum impacto comercial para o Brasil, seja positivo ou negativo, afirma Pedro de Camargo Neto, presidente da Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs). "Não gosto de especular comercialmente quando se trata de uma crise de saúde humana desta gravidade", diz.

Marco Antônio Teixeira Pinto, chefe da Divisão de Defesa Sanitária Animal da Secretaria Estadual da Agricultura e do Abastecimento (Seab), garante que o fato de o Brasil não vacinar seu plantel contra a influenza não deve trazer problemas para o país. "Não vacinamos porque não há circulação viral. Não compramos animais vivos do México nem dos EUA", explica. Segundo ele, a grande preocupação neste momento é com a contaminação das pessoas, e não de animais.

Além de Rússia e China, Coreia do Sul, Indonésia e Tailândia também proibiram as importações de carne suína do México e de alguns estados norte-americanos. No caso russo, o embargo vale também para carne de porco embarcada após 21 de abril a partir de Guatemala, Honduras, República Dominicana, Colômbia, Costa Rica, Cuba, Nicarágua, Panamá e El Salvador.

Rússia

Apesar de importar menos carne suína que o Japão, a Rússia é o mercado consumidor mais importante para o Brasil. No primeiro trimestre do ano, 48% do faturamento do setor com as exportações deveu-se às compras russas, enquanto o país asiático sequer figura na lista dos principais clientes brasileiros.

Maiores exportadores de carne suína do mundo (25% de toda a produção americana é destinada à exportação), os EUA disputam com o Brasil o mercado russo, que é distribuído entre os fornecedores por um sistema de cotas. No ano passado, a Rússia recebeu 230 mil toneladas de carne de porco brasileira e 200 mil toneladas de carne suína norte-americana, de acordo com a Abipecs.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]