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Rede curitibana de restaurantes Madero adiantou reestruturação de processos internos para abrir capital na Bolsa | Henry Milléo/Gazeta do Povo
Rede curitibana de restaurantes Madero adiantou reestruturação de processos internos para abrir capital na Bolsa| Foto: Henry Milléo/Gazeta do Povo

Processo

Madero quer abrir ações em quatro anos

Abrir capital na Bolsa de Valores não é uma ação estratégica realizada da noite para o dia. Arrumar a casa para estabelecer níveis de governança corporativa e ter processos auditados, implica uma questão cultural essencial, que pauta toda a dinâmica de gestão da empresa que pretende buscar sócios capitalistas.

"Entrar na bolsa é vantajoso para captar recursos, ganhar visibilidade e consolidar a expansão do negócio. Mas exige uma ampla mudança de cultura e ambiente internos, que começa com a postura dos fundadores, com a entrada de outros sócios e a série de direitos e obrigações inerentes à operação", explica o consultor Alexandre Cassini, sócio da consultoria Deloitte.

Preparação

A negociação com um fundo de investimentos português em 2013 mostrou a necessidade de aporte de recursos para sustentar o crescimento da rede de restaurantes Madero, de Curitiba. Prestes a completar dez anos de atividades, a empresa termina 2014 com 43 unidades, 21 delas em formato de franchising. A operação com o fundo não foi consolidada, mas serviu como gatilho para reestruturar processos internos, adotar as premissas de governança corporativa e preparar a empresa para abertura de capital na bolsa. "Devemos encerrar o ano com faturamento total de R$ 180 milhões. A meta é ter três balanços auditados, e, então, fazer a primeira oferta", explica o diretor de finanças corporativas do grupo, Ricardo Cecy.

O ajuste no modelo de gestão gera impacto em todas as áreas do negócio. Novos sistemas de controle, elaboração de um plano de negócios com projeções para cinco e dez anos e a contratação de profissionais de mercado foram algumas das ações adotadas. E é a mudança de cultura interna que tem sido o grande desafio. "Decisões que antes eram tomadas em um âmbito familiar, de operação doméstica, hoje cumprem processos que podem ser auditados, porque cada ação tem impacto adiante. Mudar essa mentalidade é necessário para chegar ao nível de gestão desejado e acessar o mercado financeiro", diz Cecy.

Se o jargão já assusta – entre IPOS, ON, listagem e abertura de ações --, fazer parte de um universo tão restrito para a maior parte das empresas brasileiras como a Bolsa de Valores é um desafio para quem gravita entre o pequeno e médio porte. Mas os agentes do mercado financeiro estão dispostos a quebrar essa barreira e atrair as pequenas e médias empresas (PMEs) nos próximos anos.

Apesar de ter evoluído bastante nos últimos dez anos, o mercado financeiro brasileiro ainda tem muito a crescer, mesmo entre as gigantes que operam no segmento: pouco mais de 350 empresas estão listadas na BM&FBovespa. Custos operacionais do sistema e a exigência de níveis de organização interna, como a governança corporativa, estão entre as principais dificuldades para o acesso das PMEs.

Outro ponto bastante importante para estimular a entrada da categoria é quanto ao perfil do investidor. No Brasil, o mercado financeiro é dominado pelos grandes investidores internacionais, que aportam recursos em operações de risco milionárias. Nos últimos dez anos foram 150 IPOs (Initial Public Offering), as primeiras ofertas públicas de ações, que levantaram R$ 150 bilhões em investimentos. "A média de R$ 1 bilhão de operação por empresa não é ajustada ao perfil de PME. O ideal seria que a operação padrão fosse de R$ 100 milhões, para atender às menores", explica a diretora comercial e de desenvolvimento da instituição, Cristina Pereira.

Neste quesito, as oscilações do mercado jogam contra o trabalho de atração dos pequenos, sejam empresas ou investidores. Escândalos como o da Petrobras, que afetaram o desempenho das ações da empresa na bolsa, também têm reflexo negativo. "O investidor brasileiro não tem a cultura de arriscar suas economias na bolsa de valores. Esses episódios tiram a credibilidade e afastam-no ainda mais desse ambiente", opina o professor do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec), Jose Kobori.

Acesso

Há dois anos, um estudo realizado em sete países ajudou a estabelecer os parâmetros de acesso das menores ao mercado de capitais. O resultado compôs um diagnóstico com 12 propostas. Todas, de alguma forma, já estão encaminhadas para ajustes na legislação e regras de operação.

Entre elas, a isenção de cobrança de Imposto de Renda sobre ganho de capital por cinco anos para pessoas físicas que compram ações de PMEs na bolsa. Prazos para demonstração de controles e adequação às normas de governança corporativa também foram adotados. "A ideia é demonstrar que a entrada na bolsa é uma alternativa viável para captação de investimentos que vai financiar o crescimento da empresa", explica Cristina.

Efeitos iniciais

Listar na Bolsa melhora faturamento

Desde 2013, nove empresas de médio porte aderiram ao processo de abertura de ações na BM&FBovespa. A maior parte está cumprindo os controles iniciais antes de fazer os IPOs. Somente duas já chegaram à segunda fase e fizeram ofertas de ações. A que teve melhor desempenho foi a Sênior Solution, na área de tecnologia, que fez captação para aquisições e teve uma margem recorde de geração de caixa. O faturamento pulou de R$ 40 milhões em 2011 para R$ 50 milhões em 2013.

Além de acompanhar e trabalhar com o desempenho das menores, os agentes financeiros confiam na força de parceiros de peso, como o BNDES, para convencer cada vez mais empresários e investidores. O banco fez chamados para abertura de fundos dedicados às PMEs, no valor total de R$ 1 bilhão a serem investidos em IPOs desse segmento, com limite de participação de até 20% das ações.

Para 2015, ano árido no crédito internacional, a expectativa é que o fraco desempenho das operações estrangeiras atraia o investidor para a diversificação e apostas nas PMEs, ainda que o apetite ao risco não seja tão grande para esse porte de empresa. "Talvez não seja o momento para a PME entrar na Bolsa, por causa do alto custo que a operação exige, mesmo com os incentivos. Em um ano com poucos estímulos econômicos, melhor buscar financiamentos mais em conta", avalia o professor do ISAE/FGV, Carlos Alberto Ercolin. Além dos ajustes de gestão e a elaboração da documentação inicial, em média, de 3% a 4% do valor a ser captado vai para os custos da operação.

Mapeamento

O cenário desfavorável não reduz o ânimo dos agentes financeiros. A BM&FBovespa está mapeando empresas com potencial de participação no mercado e identificou pelo menos 300 na fase de preparação e estruturação interna para abertura de capital. A metade já com o perfil para adesão em até três anos. "A entrada das PMEs também vai diversificar a distribuição setorial, hoje muito concentrada em mineração e siderurgia", diz Cristina Pereira, diretora comercial e de desenvolvimento da BM&FBovespa.

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