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Três casos emblemáticos sustentam os argumentos de que o Brasil e, principalmente, o Paraná estão sofrendo um processo de desindustrialização. Neste ano, a paulista Metalfrio cancelou os planos de erguer uma nova fábrica de refrigeradores no país, e transferiu o projeto para a Turquia, de onde é mais rentável exportar para a Europa. A fabricante de eletrodomésticos Suggar, de Minas Gerais, reduziu sua produção própria e passou a se concentrar na compra de produtos feitos na China – que, de conteúdo nacional, tem só o logotipo da Suggar. O terceiro caso foi o da Britânia, fundada há 50 anos em São José dos Pinhais. Embora tenha sede no Paraná, a empresa adotou silenciosamente uma estratégia mista e hoje está mais para baiana ou chinesa – produz eletrodomésticos na unidade do Nordeste e põe sua marca em produtos fabricados na China.

Como boa parte da indústria paranaense é voltada à exportação, o panorama tem sido dos piores desde o ano passado, quando o crescimento foi de apenas 0,8%, frente aos 3,1% da média nacional, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). De janeiro a setembro de 2006, o desempenho do Paraná é ainda pior: a produção caiu 2,7% – no Brasil, o recuo foi de 0,3%. No mesmo período, o pessoal ocupado despencou 4,9%, enquanto no Brasil houve leve avanço de 0,8%. Em todos os casos, os resultados do estado ficaram entre os piores do país, comparáveis somente aos do Rio Grande do Sul, que enfrenta problemas parecidos.

Para que se pudesse confirmar a existência de um processo de desindustrialização, seriam necessários mais alguns anos de resultados medíocres, já que até 2004 a indústria paranaense registrou boas marcas. Elas foram impulsionadas na década passada, com a chegada das montadoras de automóveis à região metropolitana. Mas, para alguns empresários, a situação atual já é de grande preocupação. A indústria madeireira, por exemplo, está em crise desde o ano passado e em 2006 registra queda de 13,1% na produção. As confecções reduziram seu quadro de funcionários em 9,1%, enquanto a indústria de máquinas e equipamentos amarga uma queda de 10% no pessoal e de 3% na produção.

"A desindustrialização já existe, na medida em que a grande maioria das empresas do setor perdeu mercado, fechou turnos ou está dispensando trabalhadores", afirma o presidente do Sindicato da Indústria Metal-Mecânica do Paraná (Sindimetal-PR), Roberto Karam. O faturamento das 6,5 mil empresas do setor representado pelo Sindimetal, de R$ 47 bilhões por ano, representa 28% de todas as vendas industriais do estado – o que dá uma boa noção da gravidade do problema. Sem citar nomes, Karam revela que multinacionais do setor metal-mecânico já avisaram que vão dispensar um grande número de funcionários na virada do ano.

Evandro Neri, diretor administrativo da Fersul Manufaturados de Ferro, de Pato Branco (Sudoeste do Paraná), conta que a valorização do real pôs abaixo um ambicioso plano de aumento das importações. "Há dois anos, investimos o dobro de nosso patrimônio na automação da fábrica para crescer 50% até 2006. Mas o dólar caiu, e tivemos que demitir metade dos 100 funcionários", diz Neri. A empresa, que exportava 30% de sua produção, hoje só vende no mercado interno.

Para o economista Gilmar Mendes Lourenço, coordenador do curso de Economia da Unifae, existe alguma dose de exagero na tese de que o Paraná passa por um processo de desindustrialização. "Não são idéias equivocadas, mas um pouco exageradas. O principal mérito delas é colocar o dedo na ferida", diz Lourenço.

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