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Trabalhadores que continuaram no emprego após as demissões em razão da crise financeira afirmam estar com medo de "ser o próximo" e dizem que quem ficou está sobrecarregado de trabalho.

O vice-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e Região, Hebert Claros da Silva, trabalha na Embraer, empresa que demitiu mais de 4 mil funcionários da produção em fevereiro por conta da crise.

"O clima é ruim porque na verdade a produção não diminuiu. Se verificar as entregas dos últimos meses não teve grandes diferenças. Estamos produzindo quase o mesmo com menos funcionários", disse Hebert, que tem estabilidade no emprego por pertencer ao sindicato.

Ele diz trabalhar atualmente sozinho em uma máquina fresadora. Mas antes dos cortes, segundo afirmou, eram mais dois.

"Eu estou trabalhando sozinho, mas se meu chefe disser que tenho que entregar algo rápido e eu perceber que não dá tempo, vou dizer a ele. Mas um trabalhador normal, que não tem estabilidade, tem medo de dizer e acaba fazendo. Com isso, aumentam os riscos de acidente de trabalho", comentou.

Procurada pelo G1, a Embraer negou que os trabalhadores estejam sobrecarregados.

Trabalhadores

O encarregado do setor de funilaria de uma concessionária na capital paulista, que preferiu não ser identificado para não sofrer represálias na empresa, disse que os cortes na empresa ocorreram aos poucos e duraram cerca de dois meses.

"Começaram pelos postos mais baixos até chegarem na parte de cima (cargos de direção", contou.

Ele afirmou que, no setor em que trabalha, tinha um assistente e oito funcionários. O assistente e dois trabalhadores foram demitidos.

"Ainda hoje tem um clima de medo. Quem ficou está sobrecarregado porque o número de funcionários foi reduzido mas as metas continuam as mesmas", contou.

Ele disse que os funcionários "trabalham com tensão" e acabam levando estresse para casa. "Prejudica a vida pessoal porque fica muito estressado no serviço. Chega em casa mais tarde por causa da hora extra. Chega em casa alucinado", afirmou.

O projetista Edson - pediu para não divulgar o sobrenome -, que trabalha em uma empresa de São Paulo (SP) prestadora de serviço para uma multinacional de telecomunicações, disse que dos 62 trabalhadores de seu setor, sobraram 12 após uma onda de demissões que a empresa atribuiu à crise.

Alguns meses depois, outras pessoas foram contratadas e o setor está atualmente com 30 funcionários.

"A gente normalmente convive com a incerteza, a gente está acostumado com a instabilidade nessa área. Mas o temor é ser demitido e não conseguir um emprego com o mesmo salário. As pessoas que foram contratadas aqui após os cortes estão ganhando menos do que as que saíram", narrou Edson.

O projetista disse que vive "com mais tranquilidade" porque sua esposa é concursada e tem estabilidade no trabalho. "Todo mundo sabe que pode ser o próximo", disse.

Como superar

Na avaliação do consultor de recursos humanos Davi Búfalo, da S&L, o funcionário precisa de controle emocional e capacidade de se recuperar e se adaptar às mudanças. Ele considerou "normal" que o acúmulo de trabalho após demissões.

"Com certeza, vai ter acúmulo de trabalho e será exigido mais do funcionário agora. As empresas precisam reduzir custos e que fica tem de arcar com as responsabilidades."

Ele afirmou que, para não deixar a pressão virar estresse e atingir a vida pessoal, é preciso aprender a lidar com a situação.

"A empresa espera comprometimento, tenacidade, e exige principalmente controle emocional e resiliência (capacidade de se adaptar)."

Para o sindicalista Hebert Claros da Silva, os trabalhadores que se sentem sobrecarregados, independente do ramo de trabalho, devem se organizar e conversar com a chefia:

"O conselho é que trabalhe em seu ritmo. É difícil trabalhar tranqüilo com alguém que fica do meu lado me pressionando. Mas os trabalhadores precisam se organizar e explicar ao chefe o que acontece. Mas juntos, organizados, não isoladamente."

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