• Carregando...

Grandes consumidores industriais de energia elétrica começam a ter problemas para ver garantido o fornecimento do insumo para os próximos anos. O setor de geração trabalha com um alto grau de incertezas sobre sua capacidade de atender ao crescimento do consumo, o que vem pressionando preços e cortando a oferta para contratos longos. Segundo especialistas, o risco de um apagão a partir de 2009 está aumentando e isso afeta as negociações de empresas que compram energia no mercado livre.

Um caso emblemático do gargalo no setor energético é o da fabricante de papel Norske Skog, que tem uma unidade produtora de papel imprensa em Jaguariaíva, no norte do Paraná. Encontrar fornecedores para alimentar a fábrica é uma das prioridades dos executivos da empresa e se tornou um fator decisivo para que a multinacional de origem norueguesa amplie a capacidade instalada no Brasil.

A unidade tem uma demanda de 65 MW médios fornecidos em um contrato que se encerra em dezembro. Em um leilão, a Norske tentou comprar energia para os próximos três anos, mas só assinou acordos para 2007 e 2008. Além de buscar um fornecedor para 2009, a companhia tenta encontrar uma fonte de energia de longo prazo para dar conta de uma ampliação planejada para a fábrica de Jaguariaíva. O projeto da companhia prevê um investimento de US$ 550 milhões para elevar a capacidade de 140 mil toneladas de papel por ano para 600 mil toneladas. Com isso, a demanda de eletricidade passaria para 175 MW médios – mais do que é gerado na última hidrelétrica construída pela Copel, a Usina Fundão, com 120 MW de potência.

"A energia representa 40% de nossos custos, por isso esse é um tópico essencial para levarmos o projeto adiante", diz José Afonso Noronha, vice-presidente de relações externas da Norske. Para ele, a configuração atual do mercado de energia, com dúvidas sobre a expansão da oferta, fez com que os preços subissem. "Nas nossas contas o custo da energia não pode ultrapassar US$ 27 (R$ 60) por MWh para mantermos a competitividade, mas por esse valor ficou difícil encontrar fornecedores", afirma. O valor é calculado em dólares porque o papel imprensa é uma commodity, com preços balizados pelo mercado internacional.

O mercado de energia vê preços em elevação, próximos a R$ 100 por MWh, e sem um teto. O especialista no setor Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infra-estrutura (CBIE), avalia que houve falta de investimentos em geração nos últimos quatro anos, o que pode levar a um apagão entre 2008 e 2009. "A indústria antecipa esse movimento de falta de oferta porque está comprando agora a energia para os próximos anos", afirma. Segundo ele, em um cenário com crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) acima de 4,5% nos próximos três anos haverá uma explosão tarifária. "Sem mais investimentos, é possível haver racionamento em 2009", diz.

De acordo com o especialista, a explosão nas tarifas está sendo sentida pela indústria. O aumento forte nos preços foi sentido pela fabricante de cimento Itambé, que tem fábrica em Balsa Nova (foto), na região metropolitana de Curitiba. A companhia tem contratos que garantem o fornecimento de 80% dos 12 MW médios consumidos pela unidade até 2011. Para comprar os 20% que faltavam, ela precisou aceitar preços entre 30% e 40% acima dos praticados nos acordos mais antigos – o MWh chegou a R$ 90.

"Demoramos quase três anos para chegar a essa fase final de negociação, que atenderá nossas necessidades pelo menos até 2011", afirma Dionísio Veiga Neto, gerente da área elétrica da Itambé. Na área de cimento, a energia representa até 50% dos custos de produção. Veiga Neto prevê que, caso o mercado interno se aqueça, a companhia precisará de outros 5 MW nos próximos anos. A empresa teria a opção de fazer aditivos aos contratos vigentes, mas a operação seria bastante complicada em um mercado sem oferta.

O professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Gilberto Januzzi, especialista em energia, observa que o setor elétrico ficou à espera de alterações no marco regulatório brasileiro e freou investimentos. "Agora as empresas de geração têm dificuldade para acompanhar o crescimento da demanda", afirma. Projeções do governo federal indicam que o consumo no Brasil deve aumentar cerca de 5% ao ano na próxima década, exigindo a ampliação de até 4 mil MW médios na capacidade instalada de geração ao ano e um investimento de R$ 40 bilhões até 2015. "Há muitas incertezas sobre a viabilidade dessa expansão", diz Januzzi.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]