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| Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo

É fato conhecido que o Brasil tem um enorme potencial eólico, mas a notícia que já era boa ficou ainda melhor. Em razão do aumento da altura das torres de geração, a capacidade de produzir energia a partir dos ventos que cortam o país pode ser até seis vezes maior do que o estimado no último grande levantamento nacional, feito há 15 anos.

INFOGRÁFICO: veja a evolução do tamanho das torres eólicas

A explicação é aparentemente simples. Ao aumentar a altura das torres, as máquinas captam ventos com velocidades médias mais altas e constantes, com pouca ou nenhuma turbulência, e são capazes de gerar mais energia. Além disso, o ganho de altura faz com que áreas que antes não ofereciam as condições mínimas para a geração de energia eólica, passem a ser consideradas interessantes para a atividade.

Mais vento apenas não basta

Embora o aumento das torres eólicas implique naturalmente em maior geração de energia, a escolha do local de instalação de parques eólicos é mais complexa e não está relacionada somente à velocidade do vento, mas também à característica do terreno, proximidade de linhas e subestações e ao preço da energia nos leilões.

O terreno tem muita influência na qualidade do vento, explica Dario Jackson Schultz, coordenador técnico de fontes renováveis da Copel. Normalmente, quanto mais acentuada a rugosidade da superfície da terra, mais resistência o vento encontra, ou seja, os ventos próximos à superfície costumam ser fracos e turbulentos. “Como em relevos mais planos o vento enfrenta menos perturbação, o aumento da altura da torre implica em um ganho menor de geração de energia. Já em terrenos mais complexos, com mais rugosidade e vegetação, a altura da torre proporciona um ganho maior na produção de energia”, detalha Schultz.

“Quando fizemos o Atlas Eólico Brasileiro lá em 2001, as máquinas que existiam no Brasil tinham no máximo 50 metros de altura”, afirma Odilon Camargo, responsável pelo levantamento. É o caso do Parque Eólico de Palmas, no Paraná. Pioneiro no Sul do país, o parque tem até hoje máquinas com 48 metros. Naquela época, o potencial eólico brasileiro foi calculado em 143 GW, quase a capacidade total instalada no país hoje, de 147 GW. Hoje, com máquinas de 100 metros esse potencial chegaria a 880 GW. O Brasil é o quarto país do mundo onde a energia eólica mais cresce no mundo e este ano atingiu a marca de 10 GW de capacidade instalada.

Graças ao avanço da tecnologia, a energia eólica vai cada vez mais para o alto, com sucessivos ganhos de eficiência. Os atlas eólicos de alguns estados como Rio Grande do Sul e Bahia, também feitos por Camargo, por exemplo, já consideram torres de 100 e 150 metros. Em 15 anos, não foi apenas a altura das torres que aumentou, mas a capacidade das máquinas também ficou melhore, com turbinas mais potentes e hélices mais longas para ter um aproveitamento melhor do vento. Enquanto a potência da maioria dos aerogeradores brasileiros varia entre 2 MW e 3 MW, a empresa dinamarquesa Vestas está testando uma máquina com potência de 8 MW e 140 metros de altura.

Com a altura das torres, até estados que não tinham tanto potencial, como o Paraná e São Paulo, passam a ter regiões viáveis à geração eólica, com ventos superiores a 7 m/s, afirma o doutor em Física Ênio Bueno Pereira, coordenador da pesquisa que revisou o potencial eólico onshore (em terra) brasileiro como parte do subprojeto Energias Renováveis do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Mudanças Climáticas (INCT-Clima).

Novo salto

Sem poder baixar o custo dos equipamentos, as empresas terão de buscar eficiência aumentando a geração de energia. Em um mercado cada vez mais competitivo, a indústria eólica mundial será forçada a dar novos saltos tecnológicos para sobreviver, afirma Camargo, que viu de perto como isso vem ocorrendo na prática ao participar principal feira do setor, a Wind Energy 2016, realizada em setembro deste ano em Hamburgo, na Alemanha. Segundo Camargo, a GE e a espanhola Gamesa apresentaram torres de 180 e 160 metros respectivamente.

“Graças à tecnologia, hoje temos torres muito altas, leves, modulares, fáceis de serem transportadas e que podem ser montadas sem a necessidade de guindastes. Essas torres de 150, 160 e 180 metros já são uma realidade no mercado, sobretudo lá fora”, diz Camargo. O próximo grande passo, segundo ele, são rotores maiores e as pás modulares, que vão facilitar muito a logística de transporte.

Maior do mundo

O maior gerador eólico do mundo está em funcionamento no centro nacional de testes de grandes turbinas eólicas na companhia Vestas, em Oesterild, na Dinamarca. Com uma unidade capaz de fornecer energia elétrica para 7.500 famílias, a maior turbina do mundo tem 140 metros de altura. A V164-8 tem um diâmetro do rotor de 164 metros, e um gerador com capacidade de 8 MW. Cada hélice mede 80 metros de comprimento e pesa 35 toneladas. Com essas proporções, a turbina da Vestas reduz os gastos com cabeamento e manutenção, pois supre uma demanda muito maior de energia do que máquinas menores.

Mercado alemão vai ditar avanço da tecnologia eólica no mundo

De forma geral, a indústria eólica mundial, sobretudo na Europa, onde estão as grandes fabricantes do setor, se desenvolveu a base de pesados subsídios do governo, com tarifas muito generosas, crédito fácil, juros baixos e infraestrutura abundante. Em países com mercados internos fortemente subsidiados, a energia produzida era vendida e o empreendedor tinha uma boa margem de lucro.

Com a crise de 2008, as empresas foram obrigadas a sair da sua zona de conforto para buscar receita em novos mercados. No Brasil, o sistema de leilões para a contratação de energia deu origem a um mercado bastante competitivo que passou a ser replicado em outros países. A partir do próximo ano, a Alemanha vai adotar o formato de leilões para contratar sua energia e isso deve mudar o comportamento das empresas. Até agora, foi a iniciativa privada do país que, com pesados subsídios do governo, conduziu a expansão do mercado eólico alemão. Os produtores arrendavam as terras e as empresas instalavam as torres.

“Como os leilões determinam a quantidade de energia que será contratada, as empresas terão de ser muito competitivas para continuar no mercado produzindo muita energia com custo baixo. É como uma guerra na qual só os mais aptos vão sobreviver”, afirma Odilon Camargo. Ele acredita que a busca por eficiência para atuar no mercado alemão e europeu deve levar a um novo salto tecnológico no setor que vai beneficiar o mundo inteiro.

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