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De acordo com o Ministério de Minas e Energia, o Brasil é o país com maior fator de capacidade do mundo. | Omar Freire/Imprensa MG
De acordo com o Ministério de Minas e Energia, o Brasil é o país com maior fator de capacidade do mundo.| Foto: Omar Freire/Imprensa MG

Se até hoje o setor elétrico ficou de olho no céu, atento ao regime de chuvas para encher os reservatórios das hidrelétricas, agora, com o aumento da geração eólica no país, também é preciso prestar atenção à safra de ventos.

Embora haja variação ao longo do ano nas regiões brasileiras, em praticamente todo o país os ventos mais intensos ocorrem no inverno e na primavera, sobretudo, entre os meses de agosto e novembro. No período, as turbinas dos parques eólicos alcançam os maiores fatores de capacidade, com melhoras de desempenho de 10% a 20% , ou até mais de 100% em relação a outros momentos do ano.

INFOGRÁFICO: Os melhores períodos para a geração de energia eólica

A condição garante complementaridade sazonal à capacidade hídrica no país, já que o maior volume de águas que abastece os reservatórios das hidrelétricas vem das chuvas de verão, cujo período úmido ocorre entre os meses de novembro e março.

De acordo com o Ministério de Minas e Energia, o Brasil é o país com maior fator de capacidade do mundo. O critério considera a relação entre o gigawatt/hora (GW/h) produzido pelo aerogerador a cada ano e a potência máxima do equipamento. Segundo a entidade, o desempenho médio nacional de 36% registrado em 2014 já superava em 53% a marca global.

As características ideais de ventos se manifestam principalmente no Nordeste. A favorabilidade da região – com exposição constante aos ventos alísios de Sudeste associada à estabilidade e continuidade do fluxo – garante ao Brasil liderança de desempenho no setor.

“Apenas países como Etiópia, Venezuela e Somália, por exemplo, contam com condições semelhantes, mas, nesses locais, o investimento no mercado eólico está longe de ser expressivo como já é aqui”, diz Odilon Camargo, CEO da Consultoria Camargo Schubert Engenharia Eólica. A agência fornece orientação técnica a mais da metade dos projetos de usinas eólicas contratadas no Brasil.

R$ 645 milhões

foi o montante que o setor eólico nacional economizou, em 2015, ao evitar o acionamento mais frequente de termelétricas, segundo informações da Consultoria Camargo Schubert Engenharia Eólica.

Para ele, o fator de capacidade nacional atualmente é ainda maior, com média de 50%. “Existem usinas na Bahia que chegam a alcançar quase 70% de desempenho, o que impulsiona o aumento do índice”, explica.

A partir de três metros por segundo – ou 10 km/h – os aerogeradores começam a trabalhar. Para evitar danos causados por sobrecarga, param de operar diante de ventos de 90 a 100 Km/h. O melhor desempenho ocorre quando atingem velocidades mais equilibradas, entre 25 a 40 Km/h, típicas do Nordeste. “Já chegamos a identificar unidades geradoras que, em três anos de medição, ficaram o equivalente a apenas três dias sem geração”, conta Camargo.

Cenário em expansão

Hoje, 5 mil aerogeradores distribuídos por 11 estados brasileiros já atendem 17 milhões de unidades consumidoras. Juntos, eles produzem 6,5% do total da energia gerada nacionalmente e, até 2024, esse porcentual deve crescer para 11,6%, quando a capacidade instalada do país pode chegar a 24 gigawatts, segundo estimativas do setor.

1,12 milhão

de toneladas de gás carbônico (CO2) deixaram de ir para a atmosfera pelo uso da fonte eólica no Brasil, de maio de 2015 a abril deste ano. De acordo com estimativa da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica), a porção equivale à emissão de cerca de oito milhões de veículos.

Na comparação entre as tecnologias, a eólica sai na frente da hídrica. Enquanto, mesmo diante de variações mensais de safras de vento, a média de produção de um parque eólico varia em torno de 15% ao ano, o desempenho de uma central hídrica pode oscilar mais de 80%, dependendo da escassez de chuvas.

Crescimento relevante

Hoje, a capacidade instalada de geração eólica no Brasil é de 9,81 gigawatts e, em agosto, pode chegar a 10. Até 2006, o volume era quase nulo. Em menos de uma década, o país galgou o posto de 10º maior produtor de energia do mundo.

Leilões organizados pelo governo federal e realizados pena Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) a partir de 2009 incentivaram a construção de usinas eólicas e estimularam a contratação desse tipo de energia. A capacidade eólica global hoje em dia é de 432,883 gigawatts (GW).

No ano passado, o Brasil foi o quarto maior mercado eólico mundial em termos de investimentos nessa área, superado apenas pela China, Estados Unidos e Alemanha.

No Sul, potencial de geração é semelhante ao do mercado estrangeiro

Estados como o Paraná, com maior predominância de frentes frias, sofrem com intermitências nos ventos e não aproveitam tantas vantagens no setor eólico na comparação com outras regiões de melhor desempenho.

Ao longo de um ano, pela inconstância dos ventos, aerogeradores de regiões do Sul do país podem ficar o equivalente a quase mil horas sem produzir energia, segundo a Camargo Schubert Engenharia Eólica.

Por outro lado, chama atenção o fato de os ventos do Sul, especialmente do Rio Grande do Sul, serem extremamente parecidos com os de países que são grandes geradores de energia eólica, como Espanha, Alemanha, Estados Unidos, China, Dinamarca e Holanda.

Dentro de cinco a sete anos, a evolução da tecnologia associada à construção de aerogeradores com altura superior a 100 metros podem tornar diferentes estados brasileiros igualmente competitivos na geração eólica. “Num cenário privilegiado como o do Brasil, é só questão de tempo para isso acontecer”, conclui Odilon Camargo, CEO da Camargo Schubert.

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