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As crises financeiras mundiais causam apagão de talentos. A teoria é de Alfredo Assumpção, CEO da Fesa, uma das maiores e mais atuantes empresas de recrutamento de executivos da América Latina. Em entrevista exclusiva à Gazeta do Povo, ele explicou que há 30 anos a receita global com honorários das consultorias com recrutamento de executivos era da ordem de US$ 1 bilhão. "Eu esperava que fechássemos 2012/13 com US$ 15 bilhões. Com o agravamento das crises na Europa e Estados Unidos de 2008 até o momento, no entanto, é possível que atinjamos este número um pouco mais tarde. Quem sabe em 2015".

Analisando a curva de receita das consultorias em retained executive search, Assumpção frisa que o que se percebe é que ela cai durante uma crise para subir exponencialmente no período seguinte, o pós-crise. "Quanto mais desenvolvida uma região maior é o impacto na demanda por executivos após a crise. Soma-se a isso a profissionalização das empresas da região, que tem nas consultorias parcerias para a identificação e a atração dos melhores talentos. Desta forma, quanto mais afetada por uma crise estiverem as regiões da Europa e da América do Norte, donas de quase 70% do Produto Interno bruto (PIB) mundial, mais a indústria de executive search sofre com a crise."

Quadro

Analisando o globo e projetando os números para o período pós-2008, o CEO da Fesa ressalta que a receita das empresas com executive search caiu 18% e 20% na América do Norte e na Europa, respectivamente, enquanto que o ganho do setor nas empresas da Ásia e da América Latina cresceu 47% e 67%, respectivamente. "Após cada crise a demanda por um novo capital humano ou um executivo talentoso mais que triplica. Desloca-se a demanda por executivos das regiões em crise (Europa e EUA) para os mercados emergentes. O mundo capitalista vive de crise e recuperação. Marx dizia que o ciclo era a cada 8 ou 10 anos. Agora, com a economia global interdependente, o ciclo mudou para a cada 3 anos."

Foi com base nesse cenário que o CEO da Fesa montou o teste para a revista As 20 melhores empresas para se trabalhar no Paraná, da Gazeta do Povo. Segundo ele, nesse ciclo capitalista de crise e recuperação cada vez mais curto as pessoas precisam saber exatamente em que lugar estão dentro do mundo corporativo para poder concorrer às melhores oportunidades.Entre as competências do executivo do futuro, Assumpção frisa a condição de "estar para servir". "De maneira geral, esta condição é uma atitude, um bom relacionamento criado tanto com os chefes e subordinados [para cima e para baixo] quanto com os colegas [para os lados]".

Ter todo esse domínio do negócio da empresa, a ponto de conhecer – ou ao menos tentar conhecer – e manter contato com todos não é fácil. "A demanda por executivos na América Latina cresceu de 6% para 10% nos últimos anos, sendo que o Brasil representa 70% da busca de executivos da região. Então temos uma demanda expressiva por gestores e líderes para o mundo corporativo, do ‘entry-level’ ao topo das organizações no Brasil."

Formação

Para Assumpção, a formação desses gestores e líderes, seja de que nível for, passa muito mais pelas próprias empresas, do que pela universidade. "Contrário ao que se acredita, o mundo acadêmico só é responsável por criar cultura nos estudantes para que aprendam rápido no mundo corporativo. Quem forma de fato o capital humano para a economia moderna e caótica, global e totalmente interdependente, é o mundo corporativo".

Isso não quer dizer, porém, que a educação não tenha o seu papel. Para o executivo, é tarefa do Poder Público melhorar o modelo do país, assim como os Tigres Asiáticos fizeram e a China vem fazendo.

Educar para empreender

Outra grande falha apontada por Assumpção na educação regular e acadêmica do Brasil é a falta de foco no empreendedorismo. "Graças à eficácia governamental de gestão da economia nas duas últimas décadas estamos nos afastando das crises", avalia o CEO da Fesa. Isso faz com que toda uma geração de gestores que se formou vivendo os percalços da economia tupiniquim esteja saindo de cena e os novos cheguem sem a mesma formação em "Negócios em Natureza Inóspita". Por isso da necessidade das próprias empresas formarem seus líderes.

Para que isso dê certo – para que o setor privado dê conta disso – mudanças estruturais são necessárias no país. Entre as mais importantes indicadas por Assumpção estão a desoneração dos investimentos e a redução de impostos para ajudar as empresas a serem mais competitivas.

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