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Luiz Gogola e Maria Dobranski Gogola plantam maçã eva, desenvolvida pelo Iapar, há seis anos. A variedade é mais resistente a doenças e é colhida antes das variedades tradicionais, como a gala | Aniele Nascimento/Gazeta do Povo
Luiz Gogola e Maria Dobranski Gogola plantam maçã eva, desenvolvida pelo Iapar, há seis anos. A variedade é mais resistente a doenças e é colhida antes das variedades tradicionais, como a gala| Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo

Mudança

Hortaliças tomam espaço dos grãos

A produção de hortaliças ocupa hoje cerca de 37 mil hectares da região de Curitiba. A produção, antes vinculada à agricultura familiar, vem se desenvolvendo e atraindo produtores capitalizados, de médio e grande porte. "São culturas que garantem um bom retorno para o produtor e que vêm substituindo grãos como o milho e o feijão", afirma Marcio Garcia Jacometti, engenheiro agrônomo do núcleo de Curitiba do Departamento de Economia Rural (Deral). Segundo ele, o Valor Bruto da Produção (VBP) chegou a R$ 834 milhões em 2010. "Significa que, na média, a remuneração é de R$ 37,5 mil por hectare, bem acima da de outros grãos", diz. A RMC rivaliza com Marilândia do Sul, no Norte, pelo posto de maior produtora de hortaliças do estado. Os destaques são a batata e a cebola, produzidas em Araucária, Lapa, Contenda e Mandirituba, além das folhosas, como alface, couve, repolho e couve chinesa, em São José dos Pinhais e Colombo.

A RMC aposta também no plantio orgânico, que garante níveis de produtividade semelhantes ao convencional. "O grande entrave ao modelo é o tempo de adaptação da cultura e de certificação. Por isso ainda hoje a área dos orgânicos é pequena. O último levantamento, de 2009, aponta para uma área de 400 hectares plantados", diz Jacometti.

Investimentos na RMC chegam R$ 2,1 bilhão

Além dos investimentos de R$ 1,5 bilhão da Renault em São José dos Pinhais, três municípios da RMC receberão novos investimentos a partir deste ano. Fazenda Rio Gran­­de deve deixar de ser uma cidade-dormitório de Curitiba com a chegada de novas indústrias, como a multinacional de pneus japonesa Sumitomo, que promete investir R$ 500 milhões na cidade e gerar 1,5 mil empregos.

Adrianópolis, no Vale do Ri­­beira, pretende dobrar a arrecadação de impostos até 2014 – de R$ 950 mil por mês para R$ 2 milhões – a partir dos investimentos de R$ 340 milhões da Margem Cimento. Rio Branco do Sul é alvo dos investimentos de R$ 625 milhões da ampliação em 50% da fábrica da Votorantim Cimentos e Campo Largo, sede da nova fábrica de R$ 170 milhões da Caterpillar.

  • Marcelo Domingues Ferreira, que planta milho, tomate e cebola, resolveu diversificar e apostar na uva, esperando uma rentabilidade maior
  • A panificadora de Valdecir Borgo, em Araucária, triplicou de tamanho desde 2008

O cultivo de frutas e hortaliças na Região Metropolitana de Curitiba (RMC) e no Litoral gera renda para os pequenos municípios. A atividade movimenta cerca de R$ 1 bilhão em Valor Bruto da Produção (VBP) e ganha força em propriedades que vêm agregando novas tecnologias e cultivares.

Pelo menos um terço das hortaliças e 23% das frutas produzidas no estado saem do chamado "Cinturão Verde" dos arredores de Curitiba – fazendo dessa região uma das principais produtoras de hortifrutis do estado. Os cerca de 6 mil produtores plantam principalmente tangerina, morango, maçã, uva e caqui, além de ameixa, pêssego e banana.

Com a crise dos pomares de Palmas, no Sul do estado, a maçã vem ganhando espaço em cidades como Lapa, Campo do Tenente e Campo Largo. De acordo com Paulo Andrade, técnico do Departamento de Economia Rural da Secretaria de Agri­cultura do Paraná, hoje a maçã é explorada principalmente por grandes e médios produtores que têm investido em tecnologia, como clones mais produtivos, adensamento de pomares e assistência técnica. O Instituto Agronômico do Paraná (Iapar) desenvolveu novas variedades de maçã, que tornaram viável o cultivo em regiões mais quentes e com invernos menos rigorosos.

O produtor Luis Gogola planta há seis anos a variedade eva – desenvolvida pelo Iapar – em três hectares, em Campo Largo. A variedade é colhida entre dezembro e 20 de janeiro e entra no mercado antes das variedades tradicionais, como a gala, a partir de fevereiro. "Esse tipo de maçã é mais resistente a doenças. Vamos colher entre 40 e 60 toneladas", afirma.

Se­­gun­do o secretário de Desen­­vol­vimento Rural de Campo Largo, Lino Petry, a maçã é cultivada em 70 hectares no município, com uma produtividade que chega a 40 toneladas por hectare. "A fruticultura garante uma renda até 40 vezes superior à do grão e por isso vem ganhando espaço na agricultura familiar mais estruturada. O pequeno produtor não consegue ter a escala necessária na soja e no milho", diz Petry.

Produzida principalmente na região do Vale do Ribeira, a tangerina é, em ordem de importância, a principal fruta produzida na região – Cerro Azul, a 90 quilômetros de Curitiba, é o principal polo de produção de tangerina do Brasil, com 93,4 mil toneladas em 2010, 52% do total do Paraná. Mas os baixos preços, o avanço das florestas e as normas do Ministério da Agricultura (Mapa) têm desestimulado a renovação dos pomares. Desde 2008, o governo obriga os produtores a colher a fruta sem galhos e folhas para impedir a disseminação da doença da pinta preta.

Retomada

Se o cultivo da tangerina dá sinais de esgotamento, o da uva começa a ser retomado, depois de entrar em decadência na década de 1970. Graças a uma parceria entre produtores da região de Campo Largo, prefeitura, governo estadual e o Grupo Vinícola Famiglia Zan­lorenzi, a produção na região ocupa hoje 20 hectares, segundo Petry. O programa estimula o cultivo da uva para a produção de suco. A empresa fornece mudas e assistência técnica, além de garantir a compra. O produtor Marcelo Domingues Ferreira, que planta milho, tomate e cebola, diversificou e hoje cultiva 1,5 hectare de uva. A projeção é colher 9 toneladas nesta safra. "Por enquanto está compensando. Ainda não cobrimos o custo da implantação, mas a rentabilidade é superior à do milho."

PIB alto encobre realidade de Araucária

Dono de uma panificadora, o empresário Valdecir Borgo (foto 2), presidente da Associação Comercial, Industrial e Agrícola de Araucária, viu seu negócio triplicar de tamanho desde 2008. "Tínhamos quatro funcionários e agora temos 28". O caso exemplifica os efeitos da ampliação da Refinaria Presidente Getulio Vargas (Repar) –projeto de R$ 10 bilhões que atraiu 9 mil operários –, so­­bre a economia local. "Araucária tinha seis hotéis. Hoje são mais de 100. Muita gente transformou suas casas em pousadas. O varejo da construção e de farmácias também cresceu", diz.

É baseado no parque industrial – do qual também fazem parte a siderúrgica CSN e a fabricante de enzimas No­­vo­­zymes, entre outras empresas – que Arau­­cária tem o maior PIB per capita do Paraná (R$ 101,4 mil). Mas a riqueza de padrão europeu não se reverte na mesma proporção em desenvolvimento e negócios. Araucária se mantém fora do foco dos grandes in­­vestimentos do varejo. Essa aparente contradição se deve ao fato de uma grande fatia dos salários mais altos pagos na cidade serem gastos na capital ou outro município. "A maior dificuldade é fazer com que esses salários se fixem na cidade. O diretor de empresa não mora aqui, mora em Curitiba ou outra cidade, onde ele faz suas compras e consome", diz Borgo.

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